II. Mito e a Tradição Psicológica: S.Freud, C.G.Jung

O que é o mito para a Tradição Psicológica

Dentro desta tradição a visão do mito, grosso modo, seria como um representante de conteúdos psíquicos inconscientes. Sua expressão seria reveladora destes conteúdos, antes inacessíveis ao individuo. Freud Jung trabalham com o paradigma do inconsciente (mesmo com diferenças significativas neste conceito) de onde partiria o substrato para o material mítico.O mito provém do inconsciente, serve para restaurar uma conexão com este e deve ser interpretados simbolicamente. Tanto Freud como Jung foram leitores vorazes das obras de Tylor e Frazer, partindo dos trabalhos destes em relação aos rituais e mitos nos povos primitivos.Encontraremos entre Freud e Jung divergências quanto à origem e função do mito.


A teoria Freudiana

Freud encontrou na mitologia grega um grande substrato para a compreensão dos processos psíquicos de seus pacientes. Há um caráter universalista na sua abordagem e uma afirmação da necessidade da interpretação simbólica do mito.Considera este como fruto do mecanismo psíquico da projeção:

(...) não compartilhamos, com efeito, a opinião de alguns mitólogos segundo a qual os mitos foram lidos no céu. Pelo contrário, julgamos, antes (...) que foram projetados no céu depois de haver nascido em outro lugar e sob condições puramente humanas. E este conteúdo humano é o que nos interessa neles.(“ O tema da escolha de um cofrezinho /(1913)”.

Freud analisa com bastante interesse os artistas e suas obras, os mitos e a religião, e confere um especial destaque aos sonhos. Em 1912, escrevendo sobre o inconsciente, Freud afirmou que a interpretação dele constituía “o mais completo trabalho que a jovem ciência havia realizado até aquele momento (A interpretação dos sonhos, 1912:30)”.

Não aborda uma definição própria do mito, mas o vê imerso em meio às outras manifestações humanas que expressam conteúdos inconscientes e trabalham com o conteúdo próprio destes, como os sonhos, as artes,etc.

A obra freudiana admite um espaço para que possamos pensar os mitos e ritos como tendo uma função no trabalho de simbolização e elaboração, senão da morte, ao menos da perda.

A teoria Junguiana

Os estudos iniciais de Jung sobre o mito estão em consonância com a teoria freudiana. Porém logo afirma divergências quanto à função, origem e substrato do mito. Como Freud, afirma a necessidade da interpretação simbólica, mas diverge quanto ao conteúdo simbólico do mito. O mito, segundo Jung, possui varias funções, nem todas psicológicas, mas sua principal função seria a de revelar o inconsciente, ou seja uma função psicológica.

Aliás, este é um tema mitológico. Muitos heróis míticos tiveram duas mães. A fantasia não vem do fato de heróis terem duas mães, mas de uma imagem universal primordial “, pertencente aos segredos da história do espírito humano e não à esfera da reminiscência pessoal. (JUNG,1987)).

Jung, diferentemente de Freud afirma a existência do inconsciente pessoal e também do inconsciente coletivo. A partir desta afirmação, mito torna-se, o revelador por excelência do inconsciente coletivo à consciência.

Trata-se da manifestação mais profunda do inconsciente, onde jazem adormecidas imagens humanas universais e originarias. A estas imagens ou motivos denominou-os arquétipos. (JUNG,1987 p.102)

O mito é a oportunidade deste material coletivo poder expressar-se, é um intermediário que irá revelar à consciência os conteúdos, antes inacessíveis , do inconsciente coletivo. O mito revela os estágios do desenvolvimento humano, as várias possibilidades de “ser” humano.

Afora as recordações pessoais existe em cada indivíduo as grandes imagens primordiais(...).ou seja, a aptidão hereditária da imaginação humana para ser como era nos primórdios. Essa hereditariedade explica o fenômeno, no fundo surpreendente, de alguns temas e motivos de lendas se repetirem no mundo inteiro e de formas idênticas. ...Isto não quer dizer que as imaginações sejam hereditárias; hereditária é apenas a capacidade de ter tais imagens, o que é bem diferente. (JUNG,!987 p.101)

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