A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E SUA EVOLUÇÃO
Francini Percinoto Poliseli Corrêa - UNIPAR/PUC-SP
1.Introdução
Este trabalho almeja ser o princípio de uma dissertação sobre a Educação a Distância. Sendo uma alternativa para a democratização do saber e trazendo consigo, de acordo com NAVES (1998), um novo paradigma educacional onde o estudante é o protagonista do processo de aprendizagem, a Educação a Distância exerce um papel de suma importância principalmente nos países em desenvolvimento e de grande extensão como é o caso do Brasil. Com nossas dimensões continentais e nossas imensas diferenças sociais, a demanda pela educação tem aumentado a cada ano e, portanto, não podemos nos furtar de verificar as possibilidades de utilizar os tipos de recursos ofertados pela Educação a Distância como alternativa para a solução deste problema. Assim, primeiramente pretende-se apresentar a conceituação do termo bem como observações quanto as possíveis distinções e semelhanças entre Ensino a Distância, Educação a Distância, Teleducação e Ensino Aberto. Em um segundo momento, um breve histórico da evolução do Ensino a Distância em termos mundiais será apresentado permeado de exemplos de ocorrências em nosso continente com maior enfoque em nosso país, e ainda nas ocorrências de maior destaque nos demais continentes.
2. Desenvolvimento Teórico
2.1 - O que é Educação a Distância?
Segundo a Professora Cláudia Landim em seu artigo Educação a Distância. [on line], muitas pessoas utilizam os termos ENSINO e EDUCAÇÃO, indiscriminadamente, embora na prática existam diferenças relevantes. O termo ENSINO está mais ligado às atividades de treinamento, adestramento e instrução. Já o termo EDUCAÇÃO refere-se à prática educativa e ao processo ensino-aprendizagem que leva o aluno a aprender a aprender, a saber pensar, criar, inovar, construir conhecimentos, participar ativamente de seu próprio crescimento.
PERRY e RUMBLE (apud NUNES, 1994) afirmam que a característica básica da Educação a Distância é o estabelecimento de uma comunicação de dupla via, na medida em que professor e aluno não se encontram juntos na mesma sala requisitando, assim, meios que possibilitem a comunicação entre ambos como correspondência postal, correspondência eletrônica, telefone ou telex, rádio, "modem", videodisco controlado por computador, televisão apoiada em meios abertos de dupla comunicação, etc. Afirmam, também, que há muitas denominações utilizadas correntemente para descrever a Educação a Distância, como: estudo aberto, educação nãotradicional, estudo externo, extensão, estudo por contrato, estudo experimental.
Contudo, NUNES (1994) prossegue alertando que nenhuma dessas denominações serve para descrever com exatidão Educação a Distância; são termos genéricos que, em certas ocasiões, incluemna mas não representam somente a modalidade a distância. Esta pressupõe um processo educativo sistemático e organizado que exige não somente a via dupla de comunicação, como também a instauração de um processo continuado, onde os meios ou os multimeios devem estar presentes na estratégia de comunicação. A escolha de determinado meio ou multimeios vem em razão do tipo de público, custos operacionais e, principalmente, eficácia para a transmissão, recepção, transformação e criação do processo educativo.
De forma geral, de acordo com PALDES (1999), a Educação a Distância pode ser entendida como aquela que ocorre quando professores e alunos estão separados fisicamente, utilizando diversas formas de comunicação para superar esta limitação. Esta ainda, segundo LANDIM, pressupõe a combinação de tecnologias convencionais e modernas que possibilitem o estudo individual ou em grupo, nos locais de trabalho ou fora, através de métodos de orientação e tutoria à distância contando com atividades presenciais específicas, como reuniões do grupo para estudo e avaliação.
CIRIGLIANO (apud NUNES, 1994) alerta para o fato de que em português, Educação a Distância, Ensino a Distância e Teleducação são termos utilizados para expressar o mesmo processo real. Contudo, algumas pessoas ainda confundem teleducação como sendo somente educação por televisão, esquecendo que tele vem do grego, que significa ao longe ou, no nosso caso, a distância. Portanto, como BORDENAVE (1987) sugere, Teleducação não significa apenas 'educação por televisão', mas qualquer forma 'mediatizada' de educação, isto é, onde o contato entre o professor e aluno é feito pela intermediação de um ou vários meios de comunicação.
A Educação a Distância é um recurso de incalculável importância como modo apropriado para atender a grandes contingentes de alunos de forma mais efetiva que outras modalidades e sem riscos de reduzir a qualidade dos serviços oferecidos em decorrência da ampliação da clientela atendida, segundo NUNES (1994).
PALDES (1999), menciona o Decreto n.º 2494, que segundo as normas gerais da educação nacional, traz a seguinte definição para o termo:
"Art. 1º Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação.
Parágrafo único. Os cursos ministrados sob a forma de educação a distância serão organizados em regime especial, com flexibilidade de requisitos para admissão, horário e duração".
Segundo BORDENAVE (1987, p.33 ), a combinação que a teleducação faz, de educação com meios de comunicação, torna praticamente ilimitadas suas aplicações, tendo ela sido utilizada tanto na educação formal quanto na educação não formal. Dentre as mais freqüentes e tradicionais aplicações possíveis na educação formal, entendida aqui como aquela que se realiza de modo sistemático e propedêutico, destacam-se: a educação de primeiro e segundo grau para crianças e jovens em lugares isolados sem escola; a educação supletiva ou compensatória de adultos que não completaram sua escolaridade na infância; a formação profissional ou ocupacional; o ensino universitário aberto; a educação permanente e reciclagem profissional e a formação e reciclagem de professores. Já na educação não formal, na qual a seqüência de aprendizagem pode não ser tão sistemática e propedêutica e não dar tanta importância à avaliação, o autor cita entre outras as seguintes utilizações da teleducação: capacitação em serviço pessoal de empresas e organizações; cursos de extensão universitária; cursos de extensão rural; e, educação popular .
GONÇALVES (1996) e james (1997) sintetizam as características da Educação a Distância da seguinte forma:
WICKERT (1999) acredita que a denominação Educação a Distância pode estar perdendo o sentido, pois sua atuação no momento atual refere-se à pesquisa, à criação e à proposição de novas formas de promover o aprendizado e a democratização do conhecimento, através da utilização de meios tecnológicos. No futuro, segundo o autor, esta poderá vir a chamar-se "inovações tecnológicas em educação", ou "comunidade do conhecimento" ou "criatividade em educação" ou qualquer outra denominação que a defina com mais propriedade. O autor ainda argumenta que talvez esta distinção não se faça mais necessária e todas as instituições, ligadas à educação, estejam mais preocupadas com a qualidade do aprendizado e a transformação do ambiente pedagógico para atender às necessidades do aluno, do que com a categorização das formas que "mediatizam" a ação educativa.
A escolha da modalidade da educação a distância, como meio de dotar as instituições educacionais de condições para atender às novas demandas por ensino e treinamento ágil, célere e qualitativamente superior, de acordo com NUNES (1994), tem por base a compreensão de que, a partir dos anos sessenta, a educação a distância começou a distinguirse como uma modalidade nãoconvencional de educação, capaz de atender com grande perspectiva de eficiência, eficácia e qualidade aos anseios de universalização do ensino e, também, como meio apropriado à permanente atualização dos conhecimentos gerados de forma cada mais intensa pela ciência e cultura humana.
No entanto, esta eficiência, eficácia e qualidade de ensino não se manifestaram constantemente desde os princípios da implementação da Educação a Distância. Será verificado a seguir que as origens da Telemática já contabilizam mais de um século de existência e sua evolução, segundo NIPPER (1989), refere-se a três modelos de Educação a Distância que estão ligados historicamente ao desenvolvimento de tecnologias de produção, distribuição e comunicação.
2.2- Evolução da Educação a Distância
Impulsionada pelos avanços nas telecomunicações, a modalidade Educação a Distância, de acordo com VOLPATO et all (1998), deslancha em meados do século XX, embora seus registros remontem as cartas de Platão e as Epístolas de São Paulo. KAYE (1989) relata que, sendo mais antiga do que parece, a Educação a Distância já contabiliza mais de um século de existência. Segundo Keegan, (apud NUNES, 1994) a educação a distância não surgiu no vácuo, mas pelo contrário, tem uma longa história de experimentações, sucessos e fracassos. Em 1454 a invenção de Gutenberg da máquina de imprimir, primeiramente aplicada a Bíblia Gutenberg, nos deu o meio de reduplicação original como um veículo para o conteúdo.
SABA e ROBERTS (apud KAYE, 1989), entre vários outros autores, dividem a evolução da educação a distância em função, principalmente, da tecnologia de transmissão de informação adotada, em três fases cronológicas ou gerações. ROBERTS (apud NAVES, 1998) define as gerações da seguinte forma: a primeira geração de educação a distância foi aquela do auto-aprendizado baseado em tecnologia impressa. A segunda foi a de multimídia e multimeios, onde tecnologias de auto-aprendizagem como a impressa, o áudio, videocassetes e programas de computador eram largamente combinadas de várias maneiras dependendo das necessidades dos cursos ou dos estudantes. A terceira geração é aquela das tecnologias interativas na qual os aprendizes estão conectados, síncrona ou assincronamente, por tecnologias que alguns diriam capazes de simular uma sala de aula, isto é, áudio, computadores, video-conferências.
A 'primeira geração' de Ensino a Distância é conhecida como ensino por correspondência ou geração textual, tendo se desenvolvido até a década de 1960. De acordo com NIPPER (1989), o meio de comunicação para mediação da aprendizagem na 'primeira geração' é exclusivamente o material escrito ou impresso.
Segundo Dieuzeide (apud KAYE, 1989) já em 1840, Isaac Pittman ofereceu o primeiro curso de correspondência manuscrita na Inglaterra e fez uso da postagem como uma tecnologia de comunicação. De acordo com JAMES (1997), em 1881, William Rainey Harper, primeiro reitor e fundador da Universidade de Chicago, ofereceu, com absoluto sucesso, um curso de Hebreu por correspondência. Em 1889, o Queen's College do Canadá deu início a uma série de cursos à distância, sempre registrando grande procura pelos mesmos devido, principalmente, a seu baixo custo e às grandes distâncias que separam os centros urbanos daquele país. GONÇALVES (1996) nos revela que este meio de Educação à Distância foi muito utilizado até o meio deste século, quando o rádio e televisão instrucional tornaram-se populares.
Segundo VOLPATO et all (1998), Morse e Graham Bell incrementam, com seus inventos, o processo das telecomunicações. Desta época em diante, a Educação à Distância foi sendo desenvolvida, como sugere KAYE (1989), utilizando-se dos mais variados ferramentais pedagógicos possíveis.
Com as novas técnicas de impressão e sistema férreo, a geração textual, segundo NIPPER (1989), expandiu-se em termos de eficiência quantitativa no final do século 19, já que se tornou possível a produção e distribuição de materiais de ensino em largas quantidades para grupos de aprendizes geograficamente dispersos.
A sistematização da Educação a Distância deu-se com a necessidade de treinamento dos recrutas durante a II Guerra Mundial, quando o método foi aplicado tanto para a recuperação social dos vencidos egressos desta guerra, quanto para o desenvolvimento de novas capacidades profissionais para uma população oriunda do êxodo rural. Porém, a Educação a Distância não ficou restrita ao momento pós-guerra, de acordo com VOLPATO et all (1998). Ela foi amplamente utilizada por diversos países, independentemente do seu poder econômico ou detenção de tecnologia, tendo sempre como escopo a minimização de seus problemas sociais.
O verdadeiro salto da Educação a Distância dá-se a partir de meados dos anos 60 com a institucionalização de várias ações nos campos da educação secundária e superior, começando pela Europa (França e Inglaterra) e se expandindo aos demais continentes pela introdução de novos meios de comunicação de massa, principalmente o rádio, dando origem a projetos muito importantes, principalmente no meio rural, como relata NUNES (1994). Surge assim a geração por meio de multimídia ou a geração analógica, como ficou conhecida a 'segunda geração' de educação a distância. Desenvolvendo-se entre as décadas de 1960 e 1980, de acordo com NIPPER (1989), a geração analógica baseou-se no auto-aprendizado com suporte em textos impressos intensamente complementados com recursos tecnológicos de multimídia tais como radiodifusão, gravações de vídeo, áudio, e em um certo grau, até mesmo computadores.
No Brasil, várias experiências foram iniciadas e levadas a termo com relativo sucesso. Um exemplo desse sucesso, segundo Guaranys; Castro (apud NUNES, 1994) foi a criação do Instituto Rádio Monitor em 1939 seguida das experiências do Instituto Universal Brasileiro a partir de 1941. Entre as primeiras experiências de maior destaque encontrase certamente, a criação do Movimento de Educação de BaseMEB, cuja preocupação básica era alfabetizar e apoiar os primeiros passos da educação de milhares de jovens e adultos através das "escolas radiofônicas", principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Desde seus primeiros momentos, o MEB distinguiuse pela utilização do rádio e montagem de uma perspectiva de sistema articulado de ensino com as classes populares. Porém, a repressão política que se seguiu ao golpe de 1964 desmantelou o projeto inicial, fazendo com que a proposta e os ideais de educação popular de massa daquela instituição fossem abandonados.
Na década de 50, VOLPATO et all (1998) afirmavam que outras instituições, motivadas pela necessidade de democratizar o saber e tomando como realidade as dimensões continentais brasileiras, passaram a fazer uso do ensino a distância via correspondência. Os anos 60 assistiram o auge do Instituto Universal Brasileiro, seguido de uma série de outras iniciativas nacionais: SENAC, SENAI, SENAR, que tinham nesta estratégia o objetivo da profissionalização e/ou capacitação de trabalhadores.
Por outro lado, NIPPER (1989) afirma que, apesar de ter se desenvolvido para minimização de problemas sociais, as tecnologias da primeira e da segunda geração de sistemas de educação à distância atraíram, na maior parte, grupos de aprendizes educacionalmente já privilegiados e, de uma certa maneira, expeliu o aprendiz socialmente ou educacionalmente fraco.
NIPPER (1989) relata ainda que o objetivo principal dos sistemas da primeira e da segunda geração foi a produção e distribuição de materiais de ensino/aprendizagem para os aprendizes. A comunicação com os aprendizes foi marginal e a comunicação entre os próprios aprendizes foi quase inexistente. De um certo ponto de vista, isto poderia ser explicado pelas tecnologias que eram disponíveis na época. Tecnologias mais interativas não estavam disponíveis fora de laboratórios.
Como se pode constatar, apesar dos benefícios advindos da educação a distância de primeira e segunda geração, historicamente, segundo NIPPER (1989), elas apresentaram algumas inconveniências que podem ser sintetizadas da seguinte forma:
Ainda como aspectos negativos do ensino de correspondência e do ensino analógico, NIPPER (1989) coloca provocativamente a forma como os processos de ensino-aprendizagem eram entendidos:
Portanto, há muito pouca comunicação no senso real da palavra entre os processos de produção e distribuição do material de aprendizagem, e os processos de aquisição de informação que ele contém.
NIPPER (1989) ainda argumenta que a aprendizagem não é vista como sendo um processo social, sendo assim, não impõe uma interação dinâmica com ou entre os aprendizes e professores - pelo contrário. Em termos de situação baseada em sala de aula tradicional, os conceitos da primeira e da segunda geração podem ser considerados como a abertura da sala de aula. Mas por não haver interatividade nenhuma, a sala de aula não é expandida para o senso social e cognitivo da palavra, mas é desintegrado. A aprendizagem torna-se individual ao invés de um processo social.
A 'terceira geração' de Ensino a Distância é a atual geração digital. A comunicação e a aprendizagem como um processo social passam a ser os elementos chaves no desenvolvimento conceitual de aprendizagem a distância nesta geração que se baseia no auto- aprendizado com suporte quase que exclusivamente em recursos tecnológicos altamente interativos e sofisticados.
Um dos maiores problemas enfrentados pela primeira e segunda geração de ensino a distância foi a falta de interatividade no processo ensino/aprendizagem, o que não permitia que os aprendizes construíssem um conhecimento realmente significativo. Para solucionar este problema, a geração digital, implementou um sistema que permite a grupos se comunicarem em tempo assincrônico: surge o sistema de EDMC - Educação a Distância Mediada por Computador. EDMC, de acordo com KAYE (1989), trouxe consigo formas inteiramente novas de organização do ensino. Os cursos baseados na Internet são um exemplo desta inovação, cujo ensino é proporcionado inteiramente on-line. Um outro exemplo de inovação é a 'Electronic University Network'( Rede Universitária Eletrônica) nos EUA, que fornece oportunidades de aprendizagem na própria residência do aluno através da combinação de materiais impressos, correio eletrônico e acesso a bancos de dados em colaboração com um certo número de universidades, faculdades e fornecedores de serviços de informação on-line... Uma ferramenta da Internet que também tem sido muito utilizada, segundo GONÇALVES (1996), é o WWW ( World Wide Web), que possibilita a elaboração de Cursos à Distância com avançados recursos de multimídia. Enfim, de acordo com NUNES (1994), a Educação a Distância Mediada por Computador, utiliza-se de multimeios que vão desde os impressos à simuladores 'on-line', em redes de computadores, avançando em direção da comunicação instantânea de dados voz-imagem via satélite ou por cabos de fibra ótica, com aplicação de formas de grande interação entre o aluno e o centro produtor, quer utilizando-se de inteligência artificial, ou mesmo de comunicação instantânea com professores e monitores.
A tecnologia proporcionada pela EDMC, que é altamente interativa, põe criticamente em cheque a eficiência pedagógica do sistema educacional convencional, baseado no uso exclusivo da sala de aula, totalmente síncrono, ou seja, exigindo presenças físicas e simultâneas de instrutor e alunos. O uso do ferramental pedagógico atualmente disponível pela EDMC, segundo KAYE (1989), permite o oferecimento de condições assíncronas de aprendizado. As redes de computadores têm o potencial de criar salas de aula virtuais, com as pessoas acessando em determinadas horas específicas ou à sua própria conveniência e discreção. Isto é particularmente útil para os estudantes que estão impossibilitados de freqüentar o campus ou de atender às aulas em horários específicos e regulares, segundo UPDEGROVE (apud NAVES, 1998). Uma outra particularidade do EDMC é que as modernas tecnologias, atualmente disponíveis, permitem o oferecimento de múltiplas combinações de ferramentas pedagógicas, modernas e tradicionais, com inegável e significativo melhoramento da relação custo-benefício de implantação e manutenção de programas nestes moldes, além de proporcionar uma grande flexibilidade e alta eficiência no aprendizado final. A aprendizagem, de acordo com NIPPER (1989) e KAYE (1989), ocorre via comunicação em grupos colocando os aprendizes e seu(s) professor(es) em uma relação mais aberta, mais fluída e mais igualitária . A experiência, o conhecimento e a auto-estima do aprendiz são valorizados.
Segundo SUTTON (apud NAVES, 1998), a educação a distância de terceira geração é social por natureza e enfatiza a comunicação entre todos os membros da comunidade acadêmica. Ensinar e aprender na terceira geração é um processo colaborativo onde a legitimidade do que é aprendido é uma função do consenso sobre o discurso não dominativo.
É fácil notar que as fronteiras começam a ficar pouco nítidas. Quando se tinha de um lado as salas de aula e, de outro, a troca de textos por correspondência, a distinção entre o ensino a distância e presencial era bastante clara. Agora, segundo PALDES (1999), as técnicas e os benefícios de ambos começam a se combinar. No entanto, KAYE (1989) adverte que, no caso das universidades ou faculdades situadas no campus, onde o uso da EDMC está se desenvolvendo, seja na área local e/ou nas redes de trabalho em áreas amplas, ainda não está claro quais serão as repercussões sociais: o que está claro é que o processo de inovação precisa ser tratado com cautela.
Em resumo, WILSON e SPODIK (apud KAYE, 1989) e JAMES (1997) , apontam os seguintes fatores para o sucesso alcançado até o momento pela terceira geração de Ensino a Distância:
Cursos em nível de educação formal e não formal, pós-graduação, cursos dentro de companhias, educação superior bem como treinamento profissional passam a ser ofertados pelo ensino a distância de terceira geração, como relata NIPPER (1989). VOLPATO et all (1998) e NUNES (1994) revelam que atualmente, mais de 80 países, nos cinco continentes, atendem milhares de pessoas, com sistemas de ensino a distância em todos os níveis, em sistemas formais e não formais. A educação a distância tem sido largamente usada para treinamento e aperfeiçoamento de professores em serviço, como é o caso do México, Tanzânia, Nigéria, Angola e Moçambique. Nos Estados Unidos, no programa do novo governo, que tomou posse em janeiro de 1993, ganha destaque o investimento em formação e treinamento de pessoal, o que irá certamente gerar significativo impulso à educação a distância naquele país.
NIPPER (1989) relata que os primeiros cursos de pós-graduação utilizando conferência pelo computador, ou EDCM, ocorreram em 1983. Eles eram parte de um curso formal de pós-graduação de aproximadamente 400 professores de politécnicas do mundo inteiro com duração de quase 4 anos.
Atualmente a EDCM tem sido largamente utilizada nos mais variados níveis educacionais em várias partes do mundo. Nelas, este processo se instalou com vigor, principalmente em países de grandes dimensões como o Brasil, o Canadá, a Austrália, os Estados Unidos, o México e a China.
As experiências sobre Educação a Distância entre as décadas de 30 a 70 no Brasil, abriram caminhos que permitiram o desenvolvimento de projetos consistentes, como "Verso e Reverso", "Educando o Educador", da Fundação Educar (1988); "Um salto para o Futuro", da Fundação Roquete Pinto (1991), além de outros ligados principalmente a pesquisa universitária. VOLPATO et all (1998) sugere, no entanto, que ainda são poucos os projetos e programas de EDMC, apesar de haver pressões por oferecimento de Pós-Graduação e Educação Continuada e em condições similares àquelas existentes em países onde mais tem florescido a educação a distância mediada por computador. Tais fatores acumulados permitem a avaliação que, no Brasil, o uso de EDMC deve crescer de forma vertiginosa, segundo Demo e Monlevade (apud KAYE, 1989), ainda mais quando se tem o estímulo explícito como o da nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação - vem dar à EDMC através de seu Artigo n.º 80, onde fica bem explicitado que a Educação a Distância deve se dar "em todos os níveis" da educação No entanto, as experiências brasileiras, governamentais, nãogovernamentais e privadas, que apesar de representarem, nas últimas décadas, a mobilização de grandes contingentes de técnicos e recursos financeiros nada desprezíveis, segundo NUNES (1994) obtiveram resultados que não foram ainda suficientes para gerar um processo de irreversibilidade na aceitação governamental e social da modalidade de educação a distância no Brasil. Os principais motivos disto são a descontinuidade de projetos, a falta de memória administrativa pública brasileira e certo receio em adotar procedimentos rigorosos e científicos de avaliação dos programas e projetos.
No entanto, BARCIA [on line] cita como exemplo prático da democratização do saber, a Universidade Federal de Santa Catarina, que desenvolveu junto à Empresa Equitel, do Paraná, um de Educação a Distância nos moldes da terceira geração formando e atualizando uma turma inteira de profissionais pelo preço que custaria para formar um funcionário.
3. Conclusão
Após este breve histórico da evolução da Educação a Distância, pode-se concluir, assim como aponta JAMES (1997), que as três características mais comuns que representam as três gerações do Ensino a Distância são respectivamente: descritas: um meio de reduplicação (primeira geração), uma tecnologia comunicativa (segunda geração) e uma interatividade em tempo real.(terceira geração).
Já está bastante claro mundialmente que a verdadeira democratização do saber, nos moldes atuais, pode ser promovida pela Educação a Distância de terceira geração que tem enfatizado o uso de diversas tecnologias de comunicação e informação, no desenvolvimento profissional e humano, abrindo um leque de opções interativas. Tais opções interativas se concretizam pelo uso de mídias variadas, que minimizam os custos, e facilitam o acesso geográfico, segundo VOLPATO et all (1998).
Desta forma, esta modalidade de Educação, como argumenta o autor, vem atender as tendências do mundo contemporâneo, onde fazer uso de vários meios para propagar o conhecimento permite que o ser humano determine o como, o quando e o onde aprender.
Algumas falhas registradas na implementação da primeira e na segunda geração do Ensino a Distância foram apresentadas neste trabalho, no entanto, somente os aspectos positivos da geração digital foram aqui mencionados, ficando portanto esta tarefa para um segundo momento do desenvolvimento desta futura dissertação, que pretende enfocar as vantagens e desvantagens do Ensino Presencial e do Ensino a Distância, bem como as mudanças que são ocasionadas no paradigma educacional frente à implementação do último.
Vários autores, entre eles, BORDENAVE (1987, p. 10) alertam para o fato de que a demanda de oportunidades de educação no Brasil é infinitamente maior do que sua oferta. Além disto, Naves (1998) advoga que mediante os grandes avanços tecnológicos experimentados neste século, a necessidade de atualização de profissionais e de assegurar um processo de educação continuada para os mesmos é inquestionável. Desde o advento da imprensa, que pode ser considerado o grande marco distintivo da cultura moderna, quando o conhecimento produzido e acumulado pela humanidade começou a ser socializado, não assistimos a tantas mudanças em termos de disseminação do conhecimento quanto nas últimas décadas. BARCIA concorda com NAVES (1998) ao declarar que " nunca, em toda história da evolução na terra, a mudança foi tão rápida.(...) Muitas teorias são analisadas sob perspectivas diferentes, outras tornam- se totalmente obsoletas e novos princípios e perspectivas abrem portas e janelas a novas explorações. Assim, cresce a necessidade da população por formação, aperfeiçoamento e atualização profissional permanente".
JUSFINIANI (apud NAVES, 1998) pondera que para os países da América Latina e do Caribe "a necessidade de diminuir a distância que nos separa do desenvolvimento tecnológico é um desafio para nossos povos, para os quais a educação tem um papel preponderante. A estratégia de utilização da educação a distância adquire especial relevância em nosso contexto econômico e social (...) permitindo às pessoas ultrapassarem as barreiras geográficas e temporais através do estudo independente, o que a faz uma via segura e eficiente para cobrir as necessidades de um grande número de estudantes de forma rápida e econômica".
Somado a isto, BARCIA [on line] observa que há agora um ciclo de expansão econômica, com uma forte redução na oferta de empregos que exige profissionais mais qualificados, novas habilidades e competências e aprendizado contínuo. A globalização da economia e a velocidade dos processos de inovação tecnológica requerem como nunca um grande esforço para formar, treinar e aperfeiçoar profissionais.
O processo educacional, por sua vez, de acordo com o autor , necessita estruturar-se não só para atender a uma demanda cada vez maior, mas também, às novas necessidades do estudante e ao novo perfil do profissional, com mudanças no ambiente educacional, maior agilidade no trato da informação, ênfase na metacognição e disponibilização de currículos mais flexíveis, o que exigirá esforços e trabalho das milhares de pessoas e instituições ligadas à educação. A quantidade e a diversidade da informação exigem do aluno novas habilidades de seleção, assimilação e tratamento, através do desenvolvimento do pensar crítico, criativo e não repetitivo, rotineiro.
Mediante todo este cenário, o autor acredita que com sua estrutura tradicional, o sistema educacional não apresenta condições de absorver essas demandas. Neste caso, o uso das tecnologias de Educação à Distância de terceira geração surge como uma alternativa viável para a qualidade e o aumento da quantidade de serviço instrucional em nosso país, uma vez que o Brasil carece de programas que democratizem o acesso à informação que favoreceria "aquele que trabalha e não tem horários compatíveis com os rígidos horários escolares, aquele que tem dificuldades físicas de locomoção, aquele que quer criar seu próprio programa de estudo..." TODOROV [apud NAVES, 1998)
Ignorar a importância da EAD ou colocar obstáculos ao desenvolvimento de programas educacionais nas empresas ou instituições educativas que envolvam novas metodologias e meios tecnológicos, seria reproduzir os procedimentos motivados pelo medo do novo, quando da descoberta da imprensa por Gutenberg, segundo NAVES (1998).
O autor ainda observa que "num país como o nosso, não criar alternativas de acesso ao conhecimento, considerando metodologias diversificadas e o uso das tecnologias avançadas disponíveis, é permanecer num discurso vazio sobre a própria cidadania".
Como adverte BORDENAVE (1987, p. 18), a adoção massiva e universal da teleducação demonstra que já não existem dúvidas se uma educação mediatizada por meios de comunicação constitui uma legítima educação. Que seja ela boa ou má dependerá, como nos sistemas tradicionais de educação, da qualidade de seu corpo docente, de seus materiais instrucionais, das formas de contato professor-aluno através da distância etc. Enfim, dependerá do uso adequado das características específicas deste novo tipo de educação. ARMENGOL e STOJANOVICH (apud NAVES, 1998) nos provocam ao questionar se países como o Brasil, que enfrentam crescentes problemas sociais, políticos e econômicos, devem limitar-se a serem espectadores passivos de tais avanços tecnológicos, ou devem, pelo contrário, copiá-los fielmente, com a esperança de que eles lhes proporcionem os mesmos benefícios logrados por países altamente desenvolvidos? Os autores consideram que nenhuma destas duas posições extremas seria conveniente para estas sociedades marcadas pelo subdesenvolvimento. Segundo eles, nenhum país deve tomar a decisão de criar um sistema de educação a distância, sem antes ter completado um exame sistemático acerca de sua plena justificação, das necessidades educativas chaves e das possibilidades dos sistemas existentes. Por outro lado, NAVES (1998) adverte que, não há porquê o Brasil se furtar de verificar as possibilidades de utilizar a Educação a Distância como meio de suprir esta necessidade primordial da população.
Além disto, segundo BARCIA, tendo ou não pessoas contra, a EAD é uma realidade: a EAD é uma situação educativa de qualidade, que só tende a crescer.