Tendo em vista que a Comissão da Verdade da PUC-SP Reitora Nadir Gouvêa Kfouri foi criada com as finalidades de resgatar e esclarecer fatos históricos ocorridos baixo a ditadura militar, no período 1964 – 1988 nos espaços da universidade, era imperioso que sua composição fosse representativa da comunidade da PUC-SP e, por isso, suprapartidária e plural. Desta forma, a Comissão foi composta, como visto, por 6 professores de diversas faculdades; 1 representante da Arquidiocese de São Paulo; 1 professor membro honorário e 10 estudantes bolsistas de diversos cursos, selecionados mediante edital público, para participar das atividades da CVPUC e desenvolver pesquisa de iniciação científica vinculada ao Plano de Trabalho da Comissão.
Na sequência são apresentados os participantes da CVPUC, assim como uma breve biografia de cada um deles.
Profa. Dra. Heloísa de Faria Cruz
Heloísa de Faria Cruz é historiadora, professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da PUC-SP desde 1985. Fez sua graduação em História na Universidade de Wisconsin, EUA, Mestrado em História Social na UNICAMP e Doutorado na mesma área na USP. Desenvolve e orienta pesquisas e tem publicações nas áreas de Imprensa, História dos Trabalhadores e Memória e Patrimônio Histórico. Foi professora do ensino básico do Estado de São Paulo, atuou nos movimentos dos professores do Estado e nos movimentos de resistência à ditadura entre os anos 1970 e 1990. Foi Secretária de Educação do Município de Guarulhos entre 2003 e 2006. Na PUC-SP atuou como coordenadora e vice- coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História, participou de diversas comissões acadêmicas e núcleos de pesquisa e, desde 2009, coordena o CEDIC – Centro de Documentação da PUC-SP. Militante e estudiosa dos movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos desenvolveu e coordenou vários projetos de pesquisa voltados para a história da ditadura e dos movimentos de resistência. Saiba mais
Profa. Dra. Leslie Denise Beloque
Leslie Denise Beloque participou do movimento estudantil em 1968 e, por isso, foi expulsa da USP com base no Decreto 477; posteriormente, em razão de sua militância em 1969/70, foi detida, permanecendo por cerca de 3 anos na prisão. Saindo, bacharelou-se em Ciências Econômicas na UNICAMP e doutorou-se na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde exerce docência desde 1978. Por cerca de 20 anos também trabalhou na área de energia, participando de convênio com a então União Soviética para a produção de etanol a partir da madeira; coordenando o estudo de viabilidade do gasoduto Brasil – Bolívia, projetos de conversão ao gás natural de redes de distribuição urbanas e coordenando projeto de gasoduto com a Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos. Participou de Incubadoras de Cooperativas Populares tanto na universidade quanto em programas da Prefeitura da cidade de São Paulo e assessorou por cerca de dez anos a constituição e o funcionamento de sociedades cooperativas, assim como a concepção de cursos e atividades pedagógicas para a educação cooperativa de seus associados. Na PUC-SP é docente na área de Economia Política, realizando e orientando pesquisas sobre o mundo do trabalho. Saiba mais
Profa. Dra. Marijane Vieira Lisboa
Marijane Vieira Lisboa, professora de Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais, entrou na PUC-SP em 1980, quando regressou do exílio na Alemanha. Esteve presa na Ilha das Flores e na Penitenciária de Bangu no Rio de Janeiro, entre setembro de 1969 e dezembro de 1970 por sua militância contra a ditadura militar. Asilou-se no Chile onde viveu até que fosse derrubado o governo de Salvador Allende pelo golpe militar. Após passagem pelo México, requereu refúgio na República Federal Alemã, onde concluiu o curso de Sociologia e viveu até poder retornar ao Brasil, em fins de 1979, em virtude da Anistia aprovada no Congresso Nacional. É uma das fundadoras do Greenpeace Brasil, no qual participou de 1992 até 2000. Assumiu, posteriormente, o cargo de Secretária de Qualidade Ambiental dos Assentamentos Urbanos no Ministério do Meio Ambiente presidido por Marina Silva de 2003 a 2004. Foi Relatora de Direito Ambiental para a Plataforma de Direitos Humanos Econômicos Sociais, Culturais e Ambientais por dois mandatos e também por quatro anos membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNbio na qualidade de especialista em direito do consumidor. É membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, da Articulação Antinuclear e pertence ao Conselho Deliberativo da Associação de Agricultura Orgânica e ao Conselho Diretor do Instituto de Defesa do Consumidor - IDEC. Saiba mais
Profa. Dra. Rosalina de Santa Cruz Leite
Rosalina de Santa Cruz Leite é militante do Movimento de Direitos Humanos, feminista e socialista. Atualmente é professora doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi condenada pela Lei de Segurança Nacional - LSN e presa por duas vezes, uma na cidade do Rio de Janeiro, onde cumpriu pena, e em São Paulo. É irmã de Fernando Santa Cruz, desaparecido político desde 1974. Foi Secretária Municipal da Assistência Social da cidade de São Paulo no governo da prefeita Luiza Erundina. Na PUC SP desde 1980, participou de atividades de extensão e pesquisa e da gestão acadêmica. É do Núcleo Docente Estruturante do curso de Serviço Social e, desde 2013, membro da Comissão da Verdade Nadir Gouvêa Kfouri. Tem artigos e livros publicados na área de Serviço Social com ênfase, principalmente nos seguintes temas: direitos humanos, gênero, feminismo, criança e adolescente em situação de risco, pobreza e desigualdade. Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco, mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Saiba mais
Profa. Dra. Salma Tannus Muchail
Salma Tannus Muchail fez seus estudos de bacharelado e mestrado em Filosofia na Universidade Católica de Campinas (SP) e na Universidade Católica de Louvain (Bélgica). Defendeu o doutorado na PUC-SP, em 1973. Fez pós-doutorado na École Normale Supérieure de Paris. Ingressou na PUC-SP como professora em 1967. No contexto dos anos 60/70, quando a Reforma Universitária imposta sob o domínio da ditadura foi projetada e implantada na PUC-SP de maneira peculiarmente crítica, a Profa. Salma participou ativamente da construção do Departamento de Filosofia, da reformulação radical do curso de graduação e, posteriormente, da fundação do curso de pós-graduação. Desde então, mantem atuação na política universitária, ocupando cargos acadêmicos (chefia de Departamento, Coordenação de Pós-Graduação, Direção de Faculdade, Vice-Reitoria Acadêmica) e participando de órgãos colegiados como representante docente. Pertenceu ao primeiro grupo de Diretores de Faculdades diretamente eleitos, logo após a eleição direta da Reitora Profa. Nadir Kfouri. Dedica-se às atividades docentes e de pesquisa. É coordenadora do Grupo de Pesquisa “Michel Foucault” e proponente da criação da cátedra “Michel Foucault e a filosofia do presente”. Em 2004 recebeu o título de Professora Emérita. Saiba mais
Dra. Ana Paula Albuquerque Grillo
Graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Pós Graduada em Direito Empresarial, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, UPM, no grau de Especialista. Cursou Extensão Universitária na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP, nas áreas de Direito Civil e Direito Processual Civil. Coordena o Grupo de Pesquisa em Direito Fundacional, criado e financiado pela Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP. É membro da União de Juristas Católicos de São Paulo, exercendo o cargo de Diretora. É membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo. É Conselheira do CONDEPHAAT, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, em segundo mandato. Trabalhou em escritórios de Advocacia em São Paulo, nas áreas cível e empresarial. É Consultora Jurídica Chefe e Procuradora da Fundação São Paulo, mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP. É Assessora Jurídica da Arquidiocese de São Paulo. É Assessora Jurídica do Instituto Educacional Seminário Paulopolitano, mantenedor do Centro Universitário Assunção - UNIFAI. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direitos Especiais (Direitos Humanos, Direito Fundacional, Direito Urbanístico, Direito Educacional) e Administração de Patrimônio e Cultura. Saiba mais
Prof. Dr. Edênio dos Reis Valle - Membro Honorário
Edênio dos Reis Valle nasceu em 1936, em Belo Horizonte/MG. Após estudos de Teologia na Alemanha, entre 1958 a 1961, e de graduação e licenciatura em Psicologia e Educação, de 1962 a 1966, na Itália e Bélgica, regressou ao Brasil, passando a lecionar na PUC-SP. Nesta Universidade ocupou os cargos de Chefe do Departamento de Teologia, de Coordenador, por duas vezes, do Programa de Ciência da Religião e por oito anos exerceu, entre 1976 e 1985, a função de Vice-Reitor Comunitário. Após esse último empenho, licenciou-se para assumir, por oito anos, os cargos de Presidente da Conferencia dos Religiosos do Brasil - CRB e de Vice-Presidente da Confederação Latino-Americana de Religiosos - CLAR. Essas duas entidades reuniam então, respectivamente, 44 mil e 140 mil religiosos mulheres e homens, atuantes em todos os Estados do Brasil e em todos os países da América do Sul. Voltando a São Paulo em 1995, reintegrou-se à PUC-SP onde continuou seus trabalhos acadêmicos de docente e pesquisador da Pós-Graduação, estendendo, porém suas atividades de assessoria e acompanhamento a alguns dos principais organismos da Igreja Católica dentro e fora do Brasil. Saiba mais
Na pesquisa buscou-se resgatar a memória dos acontecimentos vivenciados pelo movimento estudantil da PUC-SP no período 1964/1988. Foi possível identificar as suas estrutura e formas organizativas, além de conhecer parte da memória deste segmento social que foi a maior força mobilizadora da época. Por meio de entrevistas com ex-líderes estudantis da época estudada, pôde-se compreender o papel do ME na luta pela redemocratização do país, entender as razões dos processos de ascensão e declínio deste movimento no Brasil, bem como identificar fatos inéditos ou pouco conhecidos sobre a história do movimento estudantil da PUC-SP.
Daniel Ferreira da Silva
Participar dos trabalhos da Comissão da Verdade da PUC-SP foi uma oportunidade única para me aprofundar nas ações de repressão que marcaram o regime militar e que marcaram, indelevelmente, a história do país. Como estudante de Direito, e orientado pelo professor e jurista Antônio Carlos Malheiros, pesquisei as violações de direitos humanos ocorridas no período, a transformação de um Estado democrático em Estado de exceção e a atuação de bravas pessoas e instituições que, a seu modo, lutaram pela redemocratização do país. Sou grato às professoras que, desde a seleção dos estagiários bolsistas, sempre demonstraram grande cuidado com a pesquisa e que foram fonte de valiosos ensinamentos que, certamente, serão de grande importância para a minha vida acadêmica e pessoal.
Denise Piha
Participar da Comissão da Verdade da PUC-SP certamente foi uma das experiências mais marcantes que vivi nos anos que passei na universidade. O trabalho de resgate da memória dos cinco estudantes da PUC-SP mortos pela ditadura teve como objetivo garantir às vítimas e às suas famílias que seus nomes seriam lembrados e suas histórias contadas. Lembrar é uma bela forma de resistir e de se preocupar com as futuras gerações.
Sou grata a todos os membros da CVPUC – professores e estudantes – pela parceria, pelas trocas, pelo aprendizado e crescimento e, em especial, às nossas orientadoras, mulheres inspiradoras, donas de uma força imensurável. Ter convivido com vocês foi uma grande lição de coragem, luta, resistência e esperança.
Luccas Saqueto Espinoza
A Comissão da Verdade da PUC-SP foi um instrumento importante para o resgate e compreensão de um dos períodos mais obscuros da história do Brasil. Palco de resistência à ditadura e de disputas e contradições dentro da Igreja Católica, aliada a uma comunidade acadêmica ciente da importância social da universidade, a PUC-SP tornou-se uma ilha de resistência onde se desenrolavam experiências plurais e democráticas, em uma época em que o livre pensar se transformou em crime e ameaça à segurança nacional.
Fazer parte da Comissão foi uma experiência que não se limitou apenas às questões técnicas de iniciação a pesquisa, mas um trabalho de resistência já que grande parte do estudo demonstrou, mais uma vez, que o Estado brasileiro na ditadura assumiu uma postura de completo descaso e desrespeito aos direitos humanos. Além disso, apontou para questões atuais importantes como as práticas de violência policial que, mesmo após tantos anos de redemocratização, a polícia ainda não superou, além de manter uma estrutura pronta para a repressão da própria população. Assim, o Relatório Final e o encerramento dos trabalhos da Comissão constituem parte de um processo que vai além do resgate da história da violação de direitos humanos na PUC-SP e no Brasil, pois pede ações práticas como a revogação da lei de Anistia e o fim da estrutura repressora do Estado. Nesse sentido, o Relatório e os trabalhos da Comissão farão mais sentido quando o que foi apurado pelas diversas Comissões da Verdade constituídas no Brasil se transformar em mais um instrumento de realização de justiça aos brasileiros que sofreram, e ainda sofrem, com um Estado e uma sociedade desigual e repressora.
Palloma de Oliveira Silva
Fazer parte de uma Comissão da Verdade de uma Universidade como a PUC-SP te possibilita acesso a experiências fundamentais na vivência acadêmica. No meu caso, pude complementar minha formação com atividades que não seriam possíveis realizar somente na graduação, como as produções dos eventos acadêmicos que fizemos. Lidar diretamente com a documentação e arquivos foi meu principal aprendizado pessoal ao compor essa Comissão. Filtrar e selecionar o que pode ser utilizado para transformar o documento em narrativa; transcrever e utilizar esse objeto para constituir uma pesquisa dentro do plano de trabalho dessa Comissão me fez entender na prática o trabalho e a importância do Historiador.
Rebeca Masagão Sabbatini
De 2013 a 2015 participei como estudante pesquisadora da Comissão da Verdade da PUC-SP como única representante do curso de Serviço Social.
Sob orientação da Prof. Dra. Rosalina Santa Cruz, além da produção de conteúdos para o Relatório Final de pesquisa, tive a oportunidade de participar da organização e realização do Tribunal Tiradentes III – julgamento da Lei da Anistia: justiça para os crimes da ditadura.
Além disso, presenciei inúmeras filmagens de depoimentos de grandes nomes da luta contra a ditadura militar no Brasil. Um trabalho enriquecedor no que diz respeito à área em que me formava àquela época, uma vez que pude aprofundar meus conhecimentos em direitos humanos e do significado real da palavra democracia.
O resgate da história sombria dos tempos de ditadura no Brasil é de extrema importância, especialmente para nós, jovens, compreendermos o que de fato este período representou e perpetuarmos a luta por justiça e igualdade, sempre, no país.
Thomas Gomes Cohen
Minha participação na Comissão da Verdade da PUC-SP se iniciou no final de 2013, ao mesmo tempo em que terminava a gestão do Centro Acadêmico Leão XIII da Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais, da qual participei com a Denise, Luccas e o Vicente, que também integraram a Comissão.
No movimento estudantil tive uma vivência no sentido de participar da comunidade acadêmica: o que a PUC proporciona e que foi fundamental. A partir dessa experiência passei a me interessar pela história da PUC-SP, que possuí uma forte tradição de respeito às liberdades democráticas e ao debate e que preza a formação humanista e crítica, sobretudo a partir da resistência ao regime civil-militar iniciado em 1964.
Minha pesquisa se centrou nas ações de resistência cultural que ocorreram no TUCA, o teatro da universidade, a partir de sua inauguração em 1965. Cabe lembrar que o contexto era de grande efervescência cultural e política no mundo, com a contracultura, as manifestações de 1968 e o acirramento da Guerra Fria. No Brasil não foi diferente, sobretudo a partir do golpe militar quando houve uma escalada da repressão à parcela da esquerda que havia se organizado e travado contato com operários, camponeses, marinheiros e soldados. Por sua vez, a parcela da esquerda voltada para a cultura produziu, em termos de teoria e arte, de forma significativa – não tanto do ponto de vista da quantidade, mas do seu alcance e impacto – até 1968, um repertório que contribuiu muito para a organização dos estudantes. Nesse contexto se deu o surgimento de uma série de grupos musicais, teatrais e de dança, os quais eram em grande parte formados por estudantes e que dividiram a programação cultural do TUCA com uma série de outras atividades de caráter acadêmico e político.
O papel desse espaço na resistência ao regime foi fundamental, de modo que ele acabou por atrair a ação da repressão por algumas vezes, com telefonemas, ameaças de explosão durante festivais de música, a invasão da PUC-SP em 1977 e o próprio incêndio do TUCA de 1984, que tem indícios de ser criminoso.
Vicente Arouche Santos Filho
A Comissão da Verdade da PUC-SP possui uma importância histórica para a apuração e denúncia das violações aos direitos humanos realizadas, ao longo dos 21 anos de ditadura civil-militar, em uma instituição de ensino superior brasileira. A PUC-SP foi palco de uma invasão policial ocorrida em 1977 e de resistência da comunidade acadêmica a um regime que fez da censura e da tentativa de limitação do livre pensar uma política de Estado. Refletindo o que fez a PUC-SP ao longo de sua história, a Comissão da Verdade conseguiu dialogar e reconstituir junto à comunidade o que aconteceu durante o período de exceção e suas consequências até o momento atual.
Participar da Comissão da Verdade da PUC-SP auxiliou a compreensão das barbaridades cometidas pelo Estado brasileiro às pessoas que ousassem pensar diferente e deu a sensação de cumprir um dever da sociedade brasileira de não deixar que esse período sombrio da história morresse junto com os que o fizeram, possibilitando às gerações futuras o conhecimento da história de seu país de modo claro e real. Ficou evidente o papel da PUC-SP no período da ditadura, pois conseguiu resistir, tornando-se um centro incessante de debate critico, cultural e científico durante os piores anos da repressão. Após a reconstituição histórica, a Comissão da Verdade da PUC-SP cumpre ainda seu papel político de denunciar os crimes do Estado brasileiro e, para além disso, contribuir para a construção de um projeto de sociedade diferente, que supere os resquícios desse período da história que ainda insiste em assombrar o povo brasileiro com uma polícia extremamente violenta, a desigualdade social e a extrema pobreza; enfim, a superação para uma sociedade em que a justiça social prevaleça, como desejavam os que foram assassinados pelo Estado brasileiro.
Vitor Bastos Freitas de Almeida
A Comissão da Verdade da PUC-SP foi uma das inúmeras Comissões formadas em nosso país para lutar por justiça e memória daquelas e daqueles que tombaram resistindo à ditadura. O sentimento que me acompanhou ao longo desses anos de pesquisa é um só e se traduz na máxima de Hannah Arendt da "banalidade do mal". Os relatos de torturas, perseguições, emboscadas, prisões e demissões, todas justificadas por posições técnicas ou dissimuladas de militares, médicos, juízes e tantos outros diretamente responsáveis pelas violações de direitos humanos cometidas entre 1964 e 1988 não são compatíveis com o valor da vida humana. Tampouco é fácil assimilar que um de seus principais alvos tenham sido jovens estudantes, dispostos a construir um país mais justo e menos desigual. E a PUC-SP, sem dúvida, foi vanguarda no Brasil por promover um espaço acolhedor para esses jovens mesmo durante os anos de maior perseguição.
Sempre recordarei de uma frase que minha orientadora, Profa. Dra. Marijane Lisboa, certa vez nos disse: “quando há justiça, não há vingança”. Ter participado da Comissão da Verdade da PUC-SP desperta em mim justamente a sensação de "fazer justiça" com a história, tomando como principal atributo da minha formação não a excelência acadêmica da PUC-SP, mas sim seu papel de resistência durante a ditadura. A tomada de consciência em um país que até hoje aceita com pouca indignação uma Lei de Anistia que perdoa torturadores é gradual e passa por esforços como os desempenhados por essa Comissão. É preciso travar uma disputa de narrativas a todo momento, até que se entenda que os resquícios deste período estão diretamente relacionados com nossa realidade, afinal, a impunidade prevalece também hoje nos casos de violência policial.
Minha certeza é uma só: a moral e a justiça devem sempre vir antes do Direito. É nossa obrigação moral resistir. Por isso, o trabalho da Comissão da Verdade é em si um ato de resistência. Sinto um orgulho inexplicável e satisfação profunda pela oportunidade de resistir ao lado das professoras aguerridas da Comissão da Verdade da PUC-SP.