DEFINIÇÃO
A
proposta central do NTAS é pesquisar e elaborar conhecimentos
sobre o tema trabalho do ponto de vista da sua condição
fundante das relações humanas e do ponto de vista
da sua expressão social e histórica de inserção
do ser humano no mundo. Estamos conceituando o trabalho como ATIVIDADE
constitutiva do próprio ser humano. Nossas referências
estão fundamentadas na forma como Marx & Engels concebem
o trabalho como elemento central nos caminhos da evolução
para o homo sapiens, nas recentes discussões realizadas
a partir de descobertas da paleontologia (Mithen) que estabelecem
como a cultura humana depende da atividade humana concreta e ao
mesmo tempo que a cultura passa a interferir nos próprios
caminhos da evolução e da constituição
do psiquismo humano (comprovando tese de Vigotski). Nos fundamentamos
também na relação que produz o psiquismo
a partir da atividade do ser humano no mundo e das mediações
necessárias para estabelecer a dinâmica entre a subjetividade
e a objetividade, considerando principalmente a linguagem como
elemento chave dessa relaç&at ilde;o e considerando também
a capacidade humana de simbolizar conforme propõe Vigotski.
Não se trata do trabalho strictu-senso, na sua forma de
emprego como sucede na sociedade capitalista, mas do trabalho
na sua condição genérica de atividade humana
regulada pelas condições sociais e históricas.
Todo esforço intencionalmente realizado através
de atividade concreta e que é capaz de direta ou indiretamente
transformar a natureza em proveito da própria humanidade.
Isso significa dizer uma atividade consciente e emocionada (Lane)
definida a partir de uma intenção determinada social
e historicamente.
As formas de regulação da atividade humana é
social e historicamente determinada. Partindo desse a priori é
preciso considerar que toda atividade está vinculada às
formas de produção e reprodução das
relações sociais de um determinado período,
de um determinado sistema econômico. Como a atividade é
elemento material fundamental para o engendramento das categorias
centrais constitutivas do psiquismo e como a principal mediação
da consciência é a linguagem, temos, como decorrência,
que a produção de sentido é uma das principais
portas de entrada para a compreensão das dimensões
subjetivas da realidade.
Não há atividade humana que não tenha como
base a ação social se considerarmos a atividade
humana como atividade coletiva orientada pelas relações
grupais. No caso do NTAS, nosso entendimento de Ação
Social é da ação social transformadora, organizada
politicamente e com objetivo de melhorar as condições
de vida humana através de uma ação concreta
no mundo. Estamos falando de ação que considere
as condições históricas de dominação
de classes e derivados dessa dominação como aquelas
que levam ao preconceito racial, discriminação por
gênero e qualquer outra manifestação que de
alguma forma subjugue o outro, mesmo não tendo as relações
de classe como indutor direto dessa relação.
Evidentemente, o quadro social atual no Brasil nos leva a encarar
uma realidade que coloca o emprego e a geração de
renda como fenômeno importante quando se fala em relações
de trabalho e forma de reprodução do capital (Singer,
Antunes, Mèzaros, Dowbor, Pochmann, Furtado). Além
disso, a reorganização social e política
do nosso país, rumo a sua democratização,
coloca no centro da discussão a maneira como os atores
sociais se organizam para garantir maior participação
e a construção de um caminho para uma sociedade
menos desigual e mais justa. Trabalho e Ação Social
estão no vértice dos caminhos que o mo vimento social
organizado (vide novo sindicalismo, MST, FSM) busca nesse momento
para construir uma pauta para o entendimento de que mundo e que
transformação mais lhes convém.
OBJETIVOS
O
NTAS tem como objetivo o estudo da Psicologia Social e as dimensões
subjetivas da realidade brasileira focado no trabalho e nas ações
sociais. Nossa meta é a compreensão de como se produz
sentido para a transformação social do ponto de
vista da maneira como atuamos no mundo.
Trata-se da discussão dos fundamentos que deverão
nortear a linha de pesquisa na qual o núcleo irá
se referenciar. Nosso objetivo é relacionar o estudo da
Psicologia Social com a intervenção na realidade.
Discutir a capacidade interpretativa das teorias em Psicologia
Social e dos estudos sobre trabalho e sobre ação
social e apontar para a construção de uma Psicologia
Social que responda aos problemas brasileiros mais emergentes,
considerando as relações de trabalho e a organização
dos movimentos sociais brasileiros.
Programa
de Estudos
São duas as linhas de trabalho do NTAS:
1) O trabalhador, as relações de trabalho e a produção
de sentido e
2) Os processos de subjetivação coletiva e formação
de identidade social: as dimensões subjetivas da realidade.
O plano de estudo teórico deve responder a esses dois interesses.
Em primeiro lugar, uma discussão sobre o estatuto da realidade
e que abarque o campo da linguagem relacionando e elucidando as
conexões entre a forma como Vigotski trata a relação
pensamento/linguagem e as discussões realizadas pelo campo
neopragmático, principalmente no que tange aos atos da
fala como propõem John Searle, Richard Rorty e de J.L.
Austin. A estes se somam as atuais discussões do campo
do Construcionismo Social representado, no momento, por Lupicinio
Íñigues (Manual de Análise do Discurso em
Ciências Sociais) e por Mary Jane Spink, entre outros, que
permitem uma boa discussão de como se encontra o sujeito
na pós-modernidade do ponto de vista da produção
de sentidos.
Para além da linguagem e mais diretamente ligado às
dimensões subjetivas da realidade vamos abordar três
conexões: o cotidiano, a realidade e a ideologia. Neste
caso, a discussão realizada por Agnes Heller, por Jürgen
Habermas (particularmente no Discurso Filosófico da Modernidade)
e por Sandra Jovchelovitch sobre esfera pública representam
uma forte referência sobre as condições em
que ocorrem a transformação dos sujeitos da transform ação
social. Para a discussão sobre ideologia a referência
vai desde Antonio Gramsci a Istvan Mézaros, passando por
John Tompson e sua importante e atual discussão sobre ideologia,
cultura e meios de comunicação.
Sobre os aspectos metodológicos envolvidos com esse interesse
de estudo destacamos a pesquisa ação e a etnometodologia
. Neste sentido, recente publicação de Maritza Monteiro
(Hacer para transformar: El método em la psicologia comunitária)
sobre a Psicologia Comunitária, que não é
nosso interesse imediato, permite equacionar a relação
da ação social com os problemas do cotidiano. A
autora aprofunda ainda a discussão sobre a pesquisa ação,
seus limites e sua importância. Patrick Bounard nos dá
uma boa referência da etnometodologia no artigo publicado
pela revista Psicologia Social e Institucional da UEL, intitulado
“O lugar da etnografia nas epistemologias construtivistas”.
Como pano de fundo, a discussão metodológica realizada
por Vigotski sobre pensamento e linguagem, muito bem apropriadas
e exploradas por Ozella e Aguiar em artigo recente publicado pela
revista Ciência e Profissão.
Por fim, este programa de estudo procura aplicar esse interesse
aos estudos sobre o trabalho e o trabalhador – construção
de consciência e produção de sentido e também,
na compreensão do sujeito da identidade nacional, desconfiando
do termo identidade e procurando a regularidade dentro da mobilidade.
Para tanto, nos interessa a discussão realizada por Jessé
de Souza, a despeito da leitura weberiana, porque o autor encontra
elos de ligação entre as dimensões subjetivas
da realidade e o caminho na direção de compreender
a alma do brasileiro através da nossa literatura. Caminho
lento e sempre ultrapassado pelas urgências da demanda do
campo das relações de trabalho.
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