“O debate atual sobre a formação em Psicologia no Brasil – Permanências, Rupturas e cooptações nas políticas educacionais”

Jefferson de Souza Bernardes

RESUMO

Esta tese resulta da confluência de dois campos de interesse: de um lado, o exercício da profissão como professor em curso de graduação em Psicologia; de outro, o exercício da reflexão crítica comprometida com a prática transformadora que busca, na análise das práticas discursivas, a compreensão dos processos de construção de saberes e práticas naturalizadas como hegemônicas.

Nesse sentido, esta tese objetiva compreender o debate atual sobre a formação em Psicologia no Brasil, orientada para uma preocupação central: a relação entre a retórica científica, a lógica neoliberal hegemônica no atual contexto sociopolítico e a crescente mercantilização do ensino no país.

Baseia-se nos referenciais teóricos da Filosofia da Linguagem (Rorty), da Pragmática (Levinson) e das Práticas Discursivas (Spink). A análise das práticas discursivas é realizada por meio da discussão dos movimentos, ao longo do tempo, de permanências , tentativas de renovações (ou rupturas) e cooptações no discurso fundacional da Psicologia.

Utiliza-se, para isso, documentos de domínio público, focando dois processos: primeiro a identificação de 138 documentos e sua organização em uma matriz (Hacking). A partir daí, foi realizada a análise da produção dos mesmos e a relação com o contexto sociopolítico, econômico e cultural do país. O segundo processo, que ocorreu após a escolha dos documentos para a análise (em que foram identificados incidentes críticos, caracterizados como os momentos de contestações ou de negociações de sentidos), foi a análise das práticas discursivas que focou quatro categorias: dêiticos de discurso, repertórios lingüísticos, retórica utilizada e implicaturas conversacionais.

Concluiu-se que, no caso da Psicologia, as tentativas de renovações ao establishment tendem a ser cooptadas pelo discurso hegemônico fundacional do campo de saber. Caso contrário, o próprio campo originário deixaria de existir. Os processos de permanências , nesse debate, são fundamentados na noção de indivíduo (ou nos processos de individualização) e alimentam articulações entre a retórica científica (baseada em Pedagogias Psicológicas ) e a lógica neoliberal (Estado mínimo, porém, forte), favorecendo a mercantilização do ensino.