“O discurso da mídia sobre a adolescente grávida: uma análise de ideologia”

Leila Nazareth

RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo geral contribuir para a compreensão da construção social da infância e adolescência no Brasil, o que é compartilhado com todas as pesquisas desenvolvidas pelo NEGRI - Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Idade do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC-SP.O objeto de investigação é a apreensão da adolescência pobre brasileira por meio do discurso da mídia publicado no período de 1990 a 2000.

O material empírico analisado consiste das peças publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo no período de 1990 – 2000, localizados em diferentes serviços de documentação jornalística da cidade de São Paulo.

O referencial teórico empregado é a concepção de ideologia formulada por John B. Thompson (1995). Desse autor, adotei também a proposta metodológica: a hermenêutica de profundidade. As técnicas de análise de conteúdo (Bardin, 1988) foram empregadas na descrição das matérias estudadas.

Os resultados apresentam o tema da gravidez na adolescência como tendo uma importância secundária na pauta do jornal, sendo tratado como uma questão de saúde. As estratégias utilizadas pelo jornal para caracterizar as personagens adolescentes grávidas ou adolescentes mães foram o esquentamento dos títulos e o sensacionalismo, além do desvelamento da identidade civil das depoentes. Tiveram nomes, idades, região onde vivem, fotografias que expõem seus rostos e corpos publicados. As depoentes foram consideradas pobres e as famílias pobres foram descritas como incapazes de dar continência a sua prole, gerando filhas que, ao engravidarem na adolescência, perpetuam um círculo vicioso da pobreza.

Examinado à luz dos princípios éticos propostos por Andrade (2001), o discurso da Folha de S. Paulo sobre adolescentes grávidas, produzido e veiculado entre 1990 e 2000, desconsidera o bem-estar das personagens nele apresentadas, podendo ser considerado ideológico, uma vez que contribui para a estigmatização das adolescentes pobres e que sustenta relações de dominação.