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Aspectos Psicossociais da Agricultua de Grupo da Agricultura Familiar: Um Estudo sobre a AGRIMA – Associação de Agricultores ‘Monte Alegre'. Lorena de Fátima Prim
RESUMO A modernização da agricultura brasileira elevou o patamar da produção agropecuária do país, manteve a concentração de terras e de renda, excluindo mais de três milhões de famílias de pequenos agricultores do meio rural. Na região por nos estudada, Oeste Catarinense, que tem como base da economia a agricultura familiar, o impacto de tal processo provocou o êxodo rural em larga escala, especialmente dos jovens. A partir da década de 80, o Brasil passa viver o acirramento dos conflitos agrários, e os movimentos sociais rurais passam a estabelecer a cooperação agrícola, no caso estudado, a “agricultura de grupo”, como estratégia de enfrentamento contra a dialética exclusão/inclusão perversa, na qual vive a agricultura familiar. Esta tese objetiva analisar as transformações psicossociais ocorridas na sociabilidade e na produção de sentidos dos agricultores que participam destas experiências de cooperação. Para tanto, realizamos uma pesquisa etnográfica sobre a AGRIMA – Associação de Agricultores ‘Monte Alegre', que é formada por agricultores que produzem coletivamente embutidos de suínos. Foram realizadas duas idas a campo, nas quais conversamos com os agricultores, os acompanhamos nas atividades laborais; realizamos um grupo focal; tivemos acesso a documentos e; conversamos com representantes da “rede de apoio” da agricultura familiar. A AGRIMA modificou o sentido e a forma de vivenciar o trabalho agrícola dos agricultores: o modelo de desenvolvimento dominante passou a ser questionado e se construiu nova forma de produzir, na qual se busca, de forma cooperada, o restabelecimento da cadeia produtiva como estratégia de agregação de valor e se investe na agroecologia. A racionalização do processo produtivo, dos recursos financeiros e da mão-de-obra permitiu amenizar as principais precariedades da agricultura familiar. O trabalho autogestionário fortaleceu a tomada de decisão, aumentando as possibilidades de êxito. Tal situação, diminuiu os riscos da agricultura, gerando maior rentabilidade às atividades agrícolas. A agroecologia possibilitou melhores condições de saúde aos agricultores. O apoio mútuo e as conversas entre os pares legitimaram o “bem comum”, diminuindo a insegurança, o medo e a solidão. O trabalho agrícola adquiriu valorização na AGRIMA, tornando-a uma referência para a agricultura familiar. As visitas recebidas, as trocas com a “rede de apoio”, e as vendas dos produtos gerou novas formas de sociabilidade. Os agricultores se sentem valorizados e se tornam crentes de sua capacidade de inovação e de participação política. Assim, desmitificam o cli entelismo, em especial, na interação com o poder público e com o saber técnico. O trabalho coletivo diminuiu a dupla jornada de trabalho feminino e a autogestão enfraqueceu o patriarcalismo. No entanto, as mulheres quase não participam da esfera pública. Os jovens consideram que a agricultura deveria ser mais rentável. Gostariam de ficar trabalhando na AGRIMA, no entanto, a falta de recursos financeiros está inviabilizando o seu sonho de cursar o ensino superior. Finalizando, consideramos que a cooperação vivenciada na AGRIMA, diminuiu o sofrimento ético-político dos pequenos agricultores, e os potencializou em prol do “bem comum”, que por sua vez, estabelece tensões e conflitos com as singularidades tradicionais da agricultura familiar. |