O
Êxodo Rural dos Jovens na Agricultura Familiar do Município
de Lontras: Análise Psicossocial.
Marivete
Gesser
RESUMO
Parte-se do pressuposto que o êxodo rural das jovens é uma
dimensão fundamental da questão agrária na atualidade,
especialmente da agricultura familiar, pois inviabiliza a sua reprodução
social. A presente pesquisa insere-se no NEXIN (Núcleo de Estudos
da Dialética Exclusão/Inclusão da PUCSP) e tem como
objetivo colaborar com a compreensão do êxodo rural feminino
e conseqüente masculinização do meio rural, propondo-se
conhecer aspectos da dimensão subjetiva, especificamente os sentidos
do processo dialético de exclusão/inclusão a que
as jovens estão submetidas, os quais estão contribuindo
para a configuração do "projeto de saída".
O procedimento escolhido para a obtenção dos dados consistiu
na realização de entrevistas semi-estruturadas com as jovens,
visitas a algumas propriedades agrícolas, análise de documentos
de domínio público e entrevistas diretivas com os técnicos
agrícolas do município. As informações obtidas
foram registradas em diário de campo e gravador.
A interpretação dos dados revelou que o "projeto de
saída" das jovens é motivado por três dimensões
da desigualdade social que se imbricam, configurando seus desejos, vontades,
necessidades e sentidos. A dimensão objetiva é constituída
tanto pelas dificuldades que a agricultura familiar vem passando no decorrer
da história, como também pela falta de investimentos por
parte dos órgãos públicos para a melhoria das condições
objetivas do meio rural, especialmente as condições de transporte
coletivo, oportunidades de lazer e de estudo. A dimensão ética,
ou da inclusão marginal, é decorrente dos valores que sustentam
a agricultura familiar, que, por ser patriarcais, incluem perversamente
as mulheres, especialmente a idéia da família como um coletivo
homogêneo, pois esta transforma a dupla jornada de trabalho, que
é extenuante, em “ajuda” e deslegitima os desejos e
necessidades das mulheres no projeto coletivo da família, que é
a viabilização da agricultura e manutenção
da propriedade da terra. A dimensão subjetiva consiste no sofrimento
decorrente desse processo dialético de inclusão/exclusão
social perversa e se evidenciou de forma diferenciada nas jovens que,
no mei o rural, clamaram, durante suas trajetórias de vida, por
uma valorização maior da sua condição de mulher
trabalhadora rural e por melhores condições de vida e, na
impossibilidade de isto acontecer, optaram pela saída. Esse sofrimento
ético-político é constituído, principalmente,
pelo sentimento de indignação com a situação
experienciada, que mobiliza a ação para a superação
das forças exteriores que causam tristeza, e, em menor intensidade,
pela vergonha, humilhação, revolta e insegurança
de ser agricultor.
Concluiu-se que os motivos do êxodo rural, isto é, a sua
base afetivo-volitiva, tem como signo emocional comum o sofrimento decorrente
da trilogia terra, trabalho e família, que inclui perversamente
as jovens na unidade de produção familiar, e o desejo de
melhores condições de lazer, transporte, educação
e de um trabalho mais leve, rentável e valorizado socialmente.
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