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“Além das secas e das chuvas os usos da nomeação mulher trabalhadora rural no sertão central de Pernambuco” Rosineide de Lourdes Meira Cordeiro RESUMO Este trabalho objetiva compreender os usos da nomeação mulher trabalhadora rural como estratégia identitária de empoderamento e de obtenção de direitos pelas mulheres no Sertão Central de Pernambuco. É uma pesquisa de orientação etnográfica na qual se destaca, além das interações com as pessoas do lugar e das entrevistas, a análise de documentos de domínio público produzidos pelo Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central de Pernambuco. Este estudo se filia à produção do Núcleo de Estudos e de Pesquisa em Práticas Discursivas e Produção de Sentidos (PUC/SP) e alinha-se às investigações da Psicologia Social discursiva com ênfase no debate sobre práticas discursivas e posicionamento. Do ponto de vista teórico, foram consideradas ainda as reflexões feministas sobre categorias identitárias e processos de empoderamento. O argumento que norteia este estudo é de que ser mulher trabalhadora rural não é uma essência rígida e imutável ou tampouco algo intrínseco às mulheres que vivem e trabalham na área rural. Ser mulher trabalhadora rural é uma posição assumida a partir do lugar no qual a pessoa se situa. Entretanto, tanto a posição quanto o lugar são produtos sociais. A ênfase recai nos contextos interacionais e discursivos nos quais as mulheres se posicionam como trabalhadoras rurais. De forma ampla, é possível apontar que a nomeação mulher trabalhadora rural contribui para o empoderamento das mulheres e a obtenção de diversas ordens de direitos. Tal nomeação é imbricada com a ação coletiva das mulheres, sendo utilizada de diferentes maneiras e com objetivos diversos. Dependendo do contexto, ora elas se posicionam como mulheres, ora como trabalhadoras rurais, ora como moradoras da área rural do Sertão de Pernambuco. As mulheres transgridem os espaços socialmente delimitados para elas e desenvolvem novas posturas e interesses diante das suas vidas e do mundo a sua volta. Entretanto, apesar da consolidação de um vigoroso movimento de mulheres na região e das redes tecidas em âmbitos estadual, regional, nacional e internacional, em nível local, a família e a comunidade parecem resistir ao empoderamento das mulheres. A liberdade de ir e vir independentemente dos interesses familiares e o exercício da sexualidade fora da união conjugal não são conquistas plenamente consolidadas para todas as mulheres. Além disso, muitas mulheres não dispõem de documentos sobre o uso e a propriedade da terra, o que possivelmente indica pouco acesso e controle restrito das mulheres sobre os rec ursos materiais.
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