“Castelos de areia – Os sentidos de espaço em condomínio residencial”

Tânia Fator

 

RESUMO

A dimensão urbana da sociedade ganha um lugar de maior destaque com o advento da modernidade e com a expansão das cidades enquanto centros de diversidade histórica e cultural. Mesmo que a verticalização habitacional seja uma prática milenar, seu amplo uso na construção moderna, especialmente nas áreas metropolitanas e nas megacidades, traz junto com a própria urbanidade, modificações significativas na construção de sentidos sobre os espaços públicos, privados, mistos ou coletivos. Dentre os diferentes modos de habitação urbana (tais como: a vila, o cortiço, o bairro, a favela etc.), o condomínio residencial vertical é um dos menos estudados pela Psicologia Social. Entretanto, esse curioso modelo legal, institucional e organizacional, agora generalizado em todas as classes sociais e tipos de residências (incluindo as horizontais), traz uma série de implicações enquanto produto e produtor de sentidos de espaço. Privados até certo ponto, mas também, coletivos até certo ponto e, com alguma parte pública, esses condomínios são matrizes complexas de relações interpessoais diferentes e que são vistas, ora como conseqüência destrutiva da privatização do espaço público, ora como possibilidade de reconstrução de uma vida social onde o espaço privado é coletivizado e compartilhado de maneira cuidadosa em relação aos direitos de todos. Este trabalho tem como objetivo contribuir para a discussão desses lugares a partir da pesquisa das relações de convivência e de trabalho em condomínios paulistanos, dos quais três foram posteriormente selecionados para um estudo mais intenso. Dentre as diferentes fontes de material utilizadas, foram privilegiadas: as atas de assembléias dos condomínios (enquanto documentos de domínio público), as conversas com os condôminos e com os funcionários, especialmente os zeladores e os porteiros. Concluiu-se que um dos atrativos maiores da vida em condomínio está na idealização de relações comunitárias, o que Bauman chamou de “comunidade imaginária”, contudo, a conformação dos espaços em condomínio e suas limitações sociais e físicas impossibilitam a materialização dessa comunidade. Para os funcionários, as contradições aparentemente são outra, pois, se de um lado são serviçais de uma sociedade patrimonialista, de outro, são profissionais numa relação de trabalho assalariada e legalizada. Porém, tanto as contradições dos condôminos quanto as dos funcionários estão mutuamente imbricadas, umas com as outras e com a própria construçã;o do espaço condominial enquanto materialidade social. O condomínio residencial vertical é de seu tempo: um guardião benthamiano da modernidade e suas contradições.