ELISA ZANERATTO ROSA
REFERÊNCIAS CRÍTICAS NA PSICOLOGIA E NOVAS HISTÓRIAS DE LOUCURA: PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA E LOUCURA- UMA REFLEXÃO
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo organizar algumas referências da Psicologia Sócio-Histórica – seja no que diz respeito a contribuições teóricas de principais autores da abordagem, seja no que se refere aos pressupostos básicos que orientam esta linha teórica – que possam servir de subsídios a uma leitura ao campo da loucura orientada por esta perspectiva da Psicologia. A referência metodológica e epistemológica que orienta a formulação desta proposta e os caminhos traçados para uma construção teórica possível a partir da mesma é o materialismo histórico dialético.
A partir de tal orientação, reconhecemos a dimensão histórica constitutiva do objeto em questão – a loucura – e isto em implica reconhecermos, ao mesmo tempo, a historicidade das leituras, concepções e perspectivas que lançaram olhar sobre tal fenômeno.
Feita esta leitura crítica, procuramos resgatar na Psicologia sócio-Histórica um referencial que, alicerçado sobre bases diversas daquele que transformou “loucura” em “doença mental” e compartilhando as bases históricas de algumas leituras e práticas que representaram um movimento de ruptura em diversas esferas, inclusive na saúde mental, possa constituir-se como um campo teórico inovador e relevante na relação entre Psicologia e Loucura.
Dentre as principais elaborações teóricas da abordagem Sócio-Histórica, resgatadas nesta reflexão, destacam-se: a própria noção de historicidade, a idéia de um psiquismo em constante processo de constituição, a mediação como categoria fundamental, a concepção de que os processos em geral, e portanto o processo saúde-doença, são multideterminados, a apreensão das funções psicológicas superiores como complexificação das funções psicológicas inferiores pela mediação dos significados, a noção de configuração de sentidos, a perspectiva da unidade dialética entre processos psíquicos e fisiológicos, a noção de sofrimento ético-político, o papel das emoções e afetos na constituição do psiquismo e da subjetividade.
O resgate de tais elaborações ao longo das reflexões acima descritas termina por constituir uma leitura crítica em relação ao campo em debate, que afirma a necessidade de rompermos o paradigma da doença mental, que discute a loucura como processo sócio-historicamente constituído e, enquanto configuração subjetiva do mesmo, como experiência que tem no sofrimento uma expressão possível.
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