MARCELO PEREIRA DE ANDRADE

A CATEGORIA "MENINOS DE RUA" NA MÍDIA: UMA INTERPRETAÇÃO IDEOLÓGICA

Resumo
Esta tese se vincula ao objetivo geral do Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Idade (NEGRI), do Programa de Estudos Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que é compreender a construção social da infância pobre no Brasil, e integra uma das pesquisas coletivas do NEGRI “Infância pobre, políticas públicas e ideologia na mídia”.
Nesta tese, particularmente, nos interessa essa construção pela mídia, a partir da interpretação da produção do jornal de Folha de S. Paulo sobre a categoria “meninos de rua” entre 1980 e 2001. Para a interpretação da produção da Folha utilizamos o conceito de ideologia e o referencial metodológico hermenêutica de profundidade propostos por John B. Thompson (1995) e o conceito de estigma de Erving Goffman (1988).
A interpretação da produção do jornal Folha de S. Paulo sobre a categoria “meninos de rua”, indica que o tema se manteve na pauta do jornal, mas não é atrelado a nenhum caso ou campanha ao longo dos 21 anos. A principal entrada do “menino de rua” nas páginas do jornal é via violência, predominantemente como vítima, mas também aparece como algoz.
A Folha priorizou o discurso de denúncia, simplificador e que não contribui para a compreensão do fenômeno social “crianças e adolescentes em situação de rua” no Brasil. A produção jornalística da Folha expõe os personagens (depoentes) que têm suas identidades reveladas pelos: nomes, prenomes, iniciais e apelidos. Os locais onde costumam permanecer também são identificados. Em contrapartida, outras informações são negadas como: escolaridade, procedência, composição e vinculo familiar.
Os depoentes não têm direito à voz, exceto quando contam suas histórias, que confirmam aquilo que a Folha já sabe. As famílias dos depoentes também não têm direito a voz e são culpabilizadas pelas más condições de vida e pela situação de rua de seus filhos.
Estas características na perspectiva de Thompson (1995), permite interpretar que a produção do jornal Folha de S. Paulo sobre a categoria “meninos de rua” é ideológica, pois sustenta e reproduz relações de dominação dos não-pobres sobre os pobres