CLÁUDIO HENRIQUE PEDROSA

CUIDAR? SIM; OLHAR DE GÊNERO? NÃO. OS SENTIDOS DO CUIDADO NO CAPS EM DOCUMENTOS TÉCNICOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

Resumo:

Esta pesquisa buscou compreender os sentidos do cuidado associado ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), considerando a penetração da problemática de gênero, em textos técnicos do Ministério da Saúde que servem de apoio à implementação da Reforma Psiquiátrica. Parte-se da premissa de que Produção de Sentidos decorre da articulação de Práticas Discursivas. Assim, por meio de uma análise discursiva, foi possível entender que, à medida que os documento analisados aproximam-se de uma função explicitamente normativa, os sentidos do cuidado associado ao CAPS revestem-se de uma definição primordialmente terapêutica, na qual a figura humana objetivada é a figura do “paciente”, de alguém marcado por uma condição problemática ou pelo transtorno mental. Destacam-se como fundamentais para o entendimento desses sentidos as noções de “território assistencial” e “projeto terapêutico”, este último sendo caracterizado por três modalidades de cuidados: intensivo, semi–intensivo e não intensivo. Nesse cenário, a Atenção Psicossocial mostra sua contradição pela oferta de um cuidado médico–psicológico, passível de ser acionado como dispositivo individual de controle, e a possibilidade de um cuidado inventivo, exercido como responsabilização política e autonomia pessoal. Para finalizar, foi possível observar nos discursos analisados uma rarefação nas práticas discursivas e repertórios relativos às questões críticas de gênero, e uma ausência total quanto às relações étnico/raciais. Isso perpetua o distanciamento que há, hoje, entre a Reforma Psiquiátrica e as políticas para promoção de igualdades racial e de gênero. Conclui-se recomendando maior aproximação entre essas arenas de reivindicações, para que o campo da Luta Antimanicomial possa “incorporar” as perspectivas de gênero e raça, e seus respectivos campos possam “ter em mente” a perspectiva da Luta Antimanicomial.