KARINA MIDORI ISHIMORI

VIVER NUM CORPO ESTRANGEIRO: SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO TER E SER UM CORPO ORIENTAL PARA ADOLESCENTES NIKKEIS INSATISFEITOS COM SUAS FENOTIPIAS


Resumo:

Este trabalho teve como objetivo analisar os sentidos e significados do ter e ser um corpo oriental em adolescentes nipo-brasileiros insatisfeitos com suas características fenotípicas. A fenotipia fundamental de possuir “olhos puxados” o denuncia como estrangeiro no Brasil apesar de ser brasileiro por direito. O adolescente nikkei em seu cotidiano é sempre lembrado de sua etnia pela maioria da população: ele é chamado de “japonês”. Parte-se do pressuposto de que há uma vivência dual de ser e sentir-se brasileiro ou japonês e essa experiência evidenciada pelas características corporais sugere reflexões a serem conhecidas de maneira aprofundada. Para tanto, foi reconstruída a história da imigração japonesa para o Brasil até os dias atuais para poder contextualizar as condições que os fizeram migrar, assim como as condições encontradas, a cultura ancestral que os nikkeis carregam, e como hoje eles circulam na sociedade brasileira. Em seguida, foram expostos os conceitos de identidade étnica e nacional de adolescentes nipo-brasileiros e a dificuldade em se estabelecer um padrão de maior ou menor integração destes na realidade social brasileira. Depois disso, também se contextualizou o corpo na atualidade, a importância das características corporais como forma de diferenciação entre indivíduos no Brasil e, finalmente, a corporeidade no materialismo histórico e dialético. Os pressupostos teóricos-metodológicos deste trabalho são da Psicologia Sócio-Histórica que toma como base a Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski. A coleta de dados foi realizada em uma escola particular de ensino fundamental e médio que atende principalmente a comunidade japonesa de São Paulo. O método utilizado foi composto numa primeira fase pela aplicação de um questionário em estudantes do 2° e 3° anos do ensino médio para um conhecimento inicial visando a seleção dos sujeitos. A segunda fase se caracterizou por entrevistas semi-abertas com duas adolescentes nikkeis, pertencentes à terceira geração de japoneses entre 16 e 17 anos. A análise das entrevistas permitiu identificar o movimento e processo de construção subjetiva destas adolescentes em suas experiências da biculturalidade. Nesse sentido, percebeu-se que elas vivem um constante sentimento de não pertencimento em relação ao mundo ocidental e oriental que estão intrinsecamente relacionadas na maneira como significam seus próprios corpos.