ROSEMARIE GARTNER TSCHIEDEL

REDES E POLÍTICAS PÚBLICAS:TECENDO UMA PERSPECTIVA ANALÍTICO-INSTITUCIONAL

Resumo:

Esta tese aborda o tema redes, situando-o na Psicologia como uma concepção que tem sido amplamente utilizada na formulação de políticas públicas voltadas para a saúde mental e para a infância e adolescência. O ser humano subjetiva-se tendo por referência àquilo e àqueles com que estabelece vinculação, e estes, por sua vez, tornam-se lugar de ligação e referência com inumeráveis articulações e deslocamentos. Entretanto, ao mesmo tempo, há crescente ruptura dos laços sociais e precarização das condições de vida que garantiriam dignidade ao ser humano, assim como o Estado, cada vez mais, é destituído de sua função de promover políticas sociais que recoloquem a cidadania como prioridade. Com isto, tornou-se objetivo investigar e analisar como nasce e se fortalece o conceito de redes, ao percebê-lo, por um lado, como ontologia e potência e, por outro, mais claramente, como um termo banalizado e capturado por uma lógica de individualismo e fragmentação forjada no neoliberalismo. Focalizou-se como as redes tornam-se operadores conceituais e empíricos, cartografando as imagens que crianças e adolescentes têm de sua pertença na comunidade. Utilizou-se procedimentos metodológicos como grupo focal, elaboração de painéis coletivos e redes de relações. Com os aportes da Psicologia Social e da Análise Institucional, com trajetórias de posicionamentos críticos, éticos e políticos, dialogando com a Biologia do Conhecer, constituiu-se três imagens de redes para a compreensão das “interfaces” do material. A primeira imagem é a de redes topológicas, no plural identificando seus entrelaçamentos. A topologia é a descrição de um local ou de uma porção, que pode ser geográfica virtual e corpo humano. A segunda imagem é de redes de sociabilidade. Representam os laços que irrompem da vida em sociedade; referem-se à civilidade e ao que se passa entre as pessoas. Têm propriedades afetivas e prescindem dos instrumentos, da linguagem, do ser humano em sua corporalidade, de sua história, conferindo-lhes uma dimensão de sociabilidade híbrida. A terceira imagem tem dimensão analítico-institucional visando que na própria rede se produza análise. Tornam-se efetivamente redes quando produzem conexões, atribuindo diferentes e novos sentidos a esta vivência. O estudo apontou que, em parte, as redes estão implementadas em suas dimensões topológicas com locais e serviços, e as redes de sociabilidade emergem dos encontros nas redes de conversações, institucionalizando-se este movimento como anti-produção, isto é, a rede como potência instituinte é cooptada pela lógica de manutenção, reprodução e, predominantemente, de controle. Torna-se, assim, um paradigma conciliado ao tempo em que emerge, em que não há investimentos nos processos de apropriação dos coletivos. Todavia, pode-se trabalhar a partir desta concepção justamente visualizando-a e intervindo em seus processos. Caberá assumir a necessidade de analisá-los constantemente – instalando a dimensão analítico-institucional – quais os princípios mais atuantes que regem as propostas em rede, como princípios de Estado, através das políticas públicas, e de mercado, através da globalização.