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Apresentação:

O quinto número da Revista reafirma a qualidade de sua publicação que, iniciada em 2008, é hoje uma realidade já aguardada pelos leitores. Atual, dinâmica, crítica, seus números têm se sucedido, abrindo espaço para importantes nomes dos meios acadêmicos e da ficção, assim como para questões relevantes no âmbito dos estudos críticos e literários.

Nascida dentro de um grupo de pesquisa que buscava compartilhar a criação de textos de análise e o debate sobre questões teóricas atuais, a Revista, a partir desta edição, inaugura sua vinculação direta com o Programa de Estudos Pós-graduados em Literatura e Crítica Literária. Ampliar seu espaço e envolver um número maior de pesquisadores, como se expressa a partir da nova Comissão Editorial, são metas que indicam o caráter dinâmico que rege a Revista.

Outro aspecto ainda merece ser ressaltado neste número que, poderíamos dizer, situa a poesia em espaços de prosa. A revista nascida, originalmente, do diálogo entre pesquisadores que falavam em prosa, caminhou por cenas narrativas centrando-se em questões sobre “O narrador e as fronteiras do relato” (FRONTEIRAZ-1); “Oralidade e performance”(FRONTEIRAZ-2); “O fantástico na literatura” (FRONTEIRAZ-3); “Utopia” (FRONTEIRAZ-4) e; hoje, na presente edição, surge a “Poesia Contemporânea”. Depois da utopia, a poesia parece-nos como um caminho inevitável dos destinos literários.

Fronteiraz-5, como dissemos, torna-se uma Revista vinculada ao Programa de Literatura e Crítica Literária e, nesse sentido, seu comprometimento se fortalece quando abre espaço para o resgate de um momento de significativa expressão como foi o III Simpósio Internacional de Literatura e Crítica Literária - Travessias Poéticas Brasil & Portugal, realizado em abril último. O evento recebeu nomes ilustres da produção poética e crítica das literaturas brasileira e portuguesa. Seria imperdoável ignorar a importância e a riqueza de contribuições que teríamos com a recolha de momentos pontuais desse evento. Assim, inaugurando a primeira edição da Revista vinculada ao Programa de Pós-graduação, abrimos o espaço para a poesia contemporânea – objeto central de nossas atenções neste ano de 2010. Fronteiraz-5 está composta de textos e vídeos que resgatam e presentificam o Simpósio realizado. São quatro vídeos, vinte e um artigos selecionados entre os cento e vinte e sete trabalhos apresentados nas Sessões de Comunicação, duas resenhas e um estudo reflexivo de obra recém lançada.

A aproximação e o diálogo Brasil/ Portugal, reverte-se, portanto, de resultados que se desdobram em favor da divulgação do conhecimento literário e, porque não, da vivência do texto poético em suas múltiplas formas de manifestação. Assim, Fronteiraz-5 apresenta já em sua página de abertura a opção de quatro vídeos, trazendo a presença de poetas que falam suas produções e a diversidade de suas experiências poéticas. José Miguel Wisnik elege o poeta Paulo Neves para estabelecer relações e fazer pensar o binômio poema-e-prosa. A conferência/ vídeo atinge seu momento ápice quando o poeta e compositor traz sua própria produção em som para compartilhar com o público a experiência sensível da poesia. Antonio Cícero, Eucanaã Ferraz e João Bandeira são outros três poetas que, também professores e pesquisadores, vivem e fazem viver a poesia em cada momento de suas manifestações. Todos os vídeos constituem, portanto, formas de adensamento da experiência poética.

Em relação aos artigos apresentados, é possível observar uma diversidade de pesquisadores, de várias partes do Brasil, produzindo investigações com o texto literário cujos pontos de contato se reafirmam ou complementam de forma altamente estimulante para o leitor. Dentre os trabalhos comparativos, encontramos poetas contemporâneos, vários deles bastante conhecidos e consagrados, enquanto outros nos trazem o sabor da descoberta, na medida em que, muitas vezes, nos têm passado despercebidos. Há também textos interessantíssimos, visto que abordados sob um prisma inesperado, sem falar nas questões teóricas que representam verdadeira contribuição para os nossos estudos. Assim, Tatiana Picosque propõe sua reflexão sobre o fazer poético de Herberto Helder a partir do poema “Branco e Vermelho” de Camilo Pessanha. Sua perspectiva é a leitura crítica do texto simbolista sobre a composição contemporânea. Rosana Gonçalves analisa poemas de Florbela Espanca e Gilka Machado sob a ótica mítica de Lilith em sua rebeldia feminina. Rosanne de Araújo elege a importância do tempo e da memória na poesia de João Cabral de Melo Neto e Gastão Cruz, com atenção especial para a tarefa do leitor no trabalho de interpretação textual. Celina Leal dos Santos dedica-se à poesia de cordel e as influências euclidianas, focalizando as marcas da tradição e o confronto com as inovações da era tecnológica na poesia de Minelvino Silva e Gustavo Dourado. Jorge Santana, por sua vez, estuda “O guardador de Rebanhos” de Fernando Pessoa /A.Caeiro e “O Guardador de águas” de Manoel de Barros a partir dos conceitos da Ecocrítica, ou seja, das relações entre o pensamento ecológico e a estética lírica.

Em relação aos estudos que elegem um único poeta, seja ele brasileiro ou português, encontramos uma diversidade surpreendente de pontos de vista que possibilitam a construção de amplo panorama das estéticas da contemporaneidade. Célia Silva elege Manoel de Barros em sua convergência com a tradição moderna e modernista brasileiras para abordar temas importantes da lírica moderna como o caráter autorreflexivo da poesia, os desdobramentos do sujeito lírico, a estética do fragmentário, a negatividade e a identificação com os seres mais ínfimos. Márcia Lopes abre-se à arquitetura poética e a busca do outro na produção de Arnaldo Antunes sem, contudo, descuidar a atenção para o aprofundamento de sua leitura nas diferentes linguagens que se fazem presentes no texto antuniano. Susana Souto Silva também elege a contemporaneidade bem próxima de nós e, na escrita caleidoscópica de Glauco Mattoso, destaca a tradição poética de língua portuguesa construindo uma rede entre períodos e poetas. Susanna Busato propõe-se ao estudo da poesia de Frederico Barbosa com destaque para a experiência poética como recusa do fácil e as dimensões do vazio, do quase e do nada. Débora Soares denomina como ‘lírica de desilusão’ o trabalho de Beijo na Boca de Antonio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso, em cuja obra o autor se propõe a trabalhar a concepção do amor com doses de ironia e humor. Em meio ao conjunto de autores até aqui apontados, Orides Fontela aparece em duas propostas. Com Maria José Batista de Lima a poeta é trabalhada a partir do jogo intertextual que evidencia a presença da metáfora como artifício que considera pontual no processo de criação da arte literária, responsável, por sua vez, pela singularidade lírica da obra de Fontela. Eduino Orione, tendo elegido a mesma poeta, sugere um diálogo com a Filosofia e destaca a reflexão sobre a existência humana e os poemas dedicados aos filósofos. Alexandre Bonafim concentra seu trabalho em Dora Ferreira da Silva, poeta que, inspirada em Rilke, irá irradiar as emoções humanas para o mundo dos objetos tornando-o sensitivo e animado. Kelvin F. Klein seleciona Roberto Bolano e a fumaça de um avião escrevendo poemas no céu para revertê-lo em objeto de problematização no enfoque entre a memória e a escritura poética na contemporaneidade. Maria Natália Thimóteo apresenta estudo sobre Roberto de Mesquita e seu imaginário repleto de almas com as quais cria cumplicidade. O trabalho dedica-se à leitura de Almas Cativas e aponta as relações que o poeta estabelece entre alegorias e pensamentos, ruínas e coisas. Sofia de Sousa Silva elege o modernismo da década de 60, em Portugal, e sua presença na obra de Ruy Belo.

O objeto da investigação concentra-se na forma como se constroem as forças opostas da narrativa, visto que elas não são marcadas por construções binárias. Audemaro Taranto Goulart escolhe o poema “Autopsicografia” para mostrar como a atuação do leitor, conforme avança em sua leitura, é aliviada pelo trabalho de metapoeticidade construída por Fernando Pessoa. Rhea Sílvia Willmer dedica-se à poesia de Ana Luisa Amaral pela profunda reflexão que a escritora propicia quando elege o feminino para discutir a relação entre a liberdade do falar e os tempos de opressão. Por fim, Elisa Helena Tonon propõe quase um estudo de gêneros ao eleger cinco antologias de poesia brasileira para estudá-las como forma de registro crítico em cujos procedimentos textuais são evidenciados cortes, acúmulo e exclusões que permitem a reflexão sobre o próprio ato de fazer poético na contemporaneidade.

Complementando a diversidade de textos propostos, Fronteiraz-5 apresenta duas resenhas. Uma delas, escrita por Noemi Jaffe, privilegia versos e estrofes do livro Esquimó, de Fabrício Corsaletti, para apontar características de sua poética e a sensação de enigma como objeto próprio da poesia. Outra resenha, esta agora escrita por Fernando Segolin, elege Processionárias, primeira edição brasileira da obra de Luís Serguilha. Nas palavras do resenhista, constrói-se um tecido, quase poesia, para apresentar o texto de Serguilha. ‘Procissão em versos’, conforme diz o autor, as letras na folha de papel desenham e dançam em transe tal como lagartas verbais, imagens sugeridas pelo poeta. Ambas as resenhas são estímulos vibrantes para o movimento de busca e leitura dos títulos em referência.

Concluindo esta apresentação, apontamos o estudo de Maria José Palo sobre o ato de narrar na contemporaneidade. Sua atenção para com o tecido da oralidade permite redimensionar o significado e a função da narrativa inventiva. O texto de Jack Goody revela-se, nesse estudo, como um possível condutor para o olhar investigativo que busca no romance a força da cultura contemporânea.

Vera Bastazin