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Apresentação:

“QUE A CRÍTICA LITERÁRIA SE RECONHEÇA CADA VEZ MAIS POR AQUILO QUE ELA É NA ETIMOLOGIA: CRISE”

Com este primeiro artigo extraído do “Pequeno manifesto de uma crítica literária para os anos 2010”, escrito por Noemi Jaffe, abrimos a apresentação deste novo número de Fronteiraz dedicado às tendências da crítica literária na contemporaneidade.
São 15 ensaios centrados em diferentes enfoques críticos, desde aqueles que colocam em discussão o lugar da teoria nos espaços da crítica, como o de Fabio Durão, pesquisador e docente da UNICAMP, até aqueles posicionados em outros limiares como os da psicanálise, de autoria da psicanalista, pesquisadora e docente de Literatura da USP, Yudith Rosenbaum, da crítica literária feminista, ou ainda os da própria ficção, seja o da escritura de Clarice Lispector ou o das reverberações de duplos em Hilda Hilst, Álvares de Azevedo e Unamuno, seja ainda o da poesia de Ferreira Gullar e de Henriqueta Lisboa. Além disso, há um outro front, que não poderia faltar em Fronteiraz 7:  aquele trazido pelos desafios das produções literárias contemporâneas questionadoras da narratividade, como acontece com o romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, ou com  Informe sobre ciegos, do argentino Ernesto Sábato, além daquelas imersas no universo das tecnologias digitais, colocando em crise a autoria e a própria recepção crítica, como demonstra o artigo de Alckmar Luiz dos Santos, no qual inscreve  sua experiência como criador e pesquisador de formas literárias em interfaces com as novas tecnologias.
Há ainda a destacar a instigante palestra de Manuel da Costa Pinto, crítico literário da Folha de São Paulo e da TV-Cultura, gravada durante a X Jornada Literária promovida pelo Curso de Especialização em Literatura em parceria com o Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUCSP. Nela, de forma lúcida e desafiadora, o crítico traça o percurso da atividade crítica em sua transformação histórica, destacando aquilo que está na sua raiz etimológica de “crise”, motivada, justamente, pela complexidade da produção literária, que passa a reivindicar uma “decifração”, ainda que provisória e aquém do enigma proposto.
A seção de Estudos, por sua vez, traz para os leitores de Fronteiraz 7 as linhas mestras do pensamento do filósofo contemporâneo Giorgio Agamben e suas contribuições para a reflexão sobre os vínculos entre filosofia-poética-política e crítica, por meio da exposição de uma das grandes estudiosas de sua obra no Brasil, a Prof. a. Dra. Sabrina Seldmayer, da UFMG. Aí se amplifica o caráter de crise da atividade crítica, já que, para Agamben, cabe a ela não a decifração, mas a garantia da inacessibilidade do objeto, assegurando, assim, a sua liberdade.
Para finalizar, algumas palavras sobre as duas resenhas deste número, ambas dedicadas à atividade da crítica literária: a primeira, assinada por Jaime Ginzburg, Prof. Livre-docente da USP e pesquisador do CNPq, terá por objeto o livro Nações Literárias de Wander de Melo Miranda. Desse livro, essencial como reflexão sobre o papel da critica literária no contexto brasileiro contemporâneo, o resenhista destaca o posicionamento singular do autor:

De que lugar falar? A cada vez que se escreve um livro de crítica, a questão se repõe. O lugar escolhido por Wander Melo Miranda permite observar o passado como catástrofe, como acúmulo de ruínas. O que ele viu, elaborou e apresentou no livro é matéria prioritária para debate intelectual no Brasil. Ele percebeu o que há de destrutivo e fantasmagórico em nossa tradição canônica.

 

 

 


A outra resenha, por seu lado, com um instigante título como “O coração das pirâmides eternas como inferno barroco da potência”, tem por objeto um dos livros chaves do filósofo italiano Giorgio Agamben, Bartleby, escrita da potência, no qual se desenvolve um dos conceitos estruturadores de seu pensamento - o de potência - como estado puro de passagem e suspensão, sem necessidade de se transformar em ato, tal qual o “preferiria não” do copista do romance de Herman Melville. Nesta força avassaladora de uma aparente inoperância, está a semente deste limiar que Agamben percebe entre filosofia, poesia, crítica e política, de modo a fazer brotar a ética do coração da estética. Nada melhor, para encerrar esta Apresentação, do que as palavras do filósofo italiano que servem de pórtico para esta resenha:

Aquilo que se mostra no limiar entre ser e não ser, entre sensível e inteligível, entre palavra e coisa, não é o abismo incolor do nada, mas o raio luminoso do possível.      

                                                                             
Maria Rosa Duarte de Oliveira
Editora de Fronteiraz 7