COMO RESPONSABILIZAR O ELEITOR PELOS DESVIOS DA POLÍTICA: O JORNALISMO CÍVICO NA REDE GLOBO DE TELEVISÃO
Vera Chaia *
O objetivo do presente trabalho é o de analisar as
séries especiais da Rede Globo de Televisão, programadas para
serem apresentadas em todas suas afiliadas durante as eleições
de 2000, 2002 e 2004. Estas séries foram retransmitidas no horário
dos telejornais locais, com matérias que apresentaram a importância
das eleições na vida dos cidadãos brasileiros e externaram
a preocupação da emissora em orientar o eleitor, considerando
o voto como o instrumento mais poderoso de uma democracia. As mazelas da política
e dos políticos foram apresentadas nestas séries, como resultado
da má escolha do eleitor, responsabilizando-o pela conduta do mau político.
Neste sentido a democracia representativa é exaltada como a arma fundamental
para consolidar as experiências democráticas do povo brasileiro.
Estas séries especiais da Rede Globo expressam a preocupação
em “educar o cidadão” através da adoção
do “jornalismo cívico”. Este gênero jornalístico
é trabalhado pela “Pew Center for Civic Journalism”, organização
surgida em outubro de 1994 em Washington, D.C.. O jornalismo cívico
exercido nos Estados Unidos e também em alguns telejornais da Rede
Globo prega uma atuação mais engajada do jornalista, atribuindo
a ele a “missão” de conscientizar e despertar um espírito
cívico nos cidadãos.
Para a organização “Pew Center for Civic Journalism”,
o jornalista teria que possuir uma atuação mais engajada e seria
atribuido ao jornalista a “missão” de conscientizar e despertar
um espírito cívico nos cidadãos, portanto este gênero
de jornalismo é direcionado ao cidadão, ao citadino e ao comunitário.
Portanto, “Civic Journalism” surge como idéia e como prática
jornalística com um grupo de jornalistas americanos que se declaram
insatisfeitos com o jornalismo então vigente, ligado à valorização
das “bad news” e dos escândalos. Eles irão propor
uma prática jornalística diferenciada que se baseia em algumas
idéias que norteiam este projeto político: dar voz ao “homem
comum”, para que possam expressar suas reivindicações
e suas reclamações sobre questões que envolvam o seu
cotidiano; possibilitar que estes homens comuns encontrem caminhos alternativos
para resolver os problemas de sua comunidade; esta prática jornalística
se identifica com o jornalismo comunitário, pois suas idéias,
seus experimentos são implementados e realizados em comunidades, sejam
bairros e áreas mais restritas de uma cidade.
A Central Globo de Jornalismo adotou essa linha editorial no espírito
do conceito de civic journalism que incentiva, estimula e ensina o cidadão
a ser mais responsável pelos seus atos políticos.
Telejornalismo Local
A Rede Globo tem como política editorial valorizar o departamento
jornalístico e por isso possui sete telejornais, além do programa
Fantástico que também apresenta destaque para blocos de notícias
jornalísticas.
Série “Eleições 2000”
A Rede Globo programou para todas suas afiliadas uma série especial
sobre as ‘Eleições 2000´ 1, que
tinha como objetivo discutir questões gerais como a importância
do voto, problemas das cidades, corrupção, papel dos vereadores
e do prefeito, e foi retransmitida no horário dos telejornais locais.
O sítio da Central Globo de Jornalismo, voltada exclusivamente para
suas afiliadas, explicava os detalhes daquele processo eleitoral e estabelecia
rígido controle da atuação delas. Também visava
padronizar a cobertura jornalística, explicando as possibilidades
e as proibições de suas afiliadas na cobertura local.
No link Cobertura, a Globo estabelecia o seguinte: “A cobertura das
eleições municipais deve ser pautada pela isenção
e pelo equilíbrio editorial. Esperamos que com a experiência
adquirida nos últimos anos e com o compromisso de desenvolver um
trabalho imparcial, possamos chegar ao final de 2000 sem um episódio
sequer que prejudique nossa credibilidade perante a opinião pública”.
1- Todas as informações da série
especial foram retiradas do sítio da Central Globo de Jornalismo
veiculadas durante o período das eleições municipais
de 2000
O conteúdo da Legislação Eleitoral também foi
apresentado envolvendo desde as resoluções que regulamentavam
o registro dos candidatos, até explicações sobre aplicação
dos recursos nas campanhas eleitorais. Todas as resoluções,
decretos e leis foram veiculadas pelo sítio da emissora para que
suas afiliadas pudessem tomar conhecimento e acompanhar os passos dos candidatos
e possíveis irregularidades que deveriam ser divulgadas.
A orientação do Departamento de Jornalismo era de que as afiliadas
fizessem averiguações sobre estes temas em suas “praças”,
e apresentassem propostas interessantes para serem incorporadas na série.
Esta incorporação dependeria de uma avaliação
e dos interesses editoriais da emissora.
As matérias jornalísticas desta série especial foram
veiculadas no período de 31 de julho a 29 de setembro de 2000, perfazendo
o total de 45 programas.
Categorias Trabalhadas pela Série Especial
Para analisar o conteúdo desta série especial, organizamos
os programas segundo a ênfase dada nas matérias: políticas
públicas; gestão municipal; legislativo municipal; sociedade
civil; voto e eleições.
Na categoria Políticas Públicas entraram as matérias
que trabalharam com as seguintes temáticas: descentralização
da saúde; ensino fundamental; política de segurança;
desemprego; projetos ‘baratos’; recuperação de
drogados; política habitacional; transporte coletivo; jovens e primeiro
emprego.
Na categoria Gestão Municipal entraram as matérias que trabalharam
com as temáticas: problemas das metrópoles e cidades pequenas;
orçamento da prefeitura; avaliação de gestões
municipais; Lei de Responsabilidade Fiscal; administração
da cidade e orçamento; experiências de orçamento participativo.
Na categoria do Legislativo Municipal foram computadas as matérias
que trabalharam com a temática analisando: a importância do
Legislativo municipal; a Câmara e os vereadores.
Na categoria Sociedade Civil apareceram matérias que se preocupavam
com as seguintes temáticas: políticos e religião, política
e sindicatos; política nas empresas; ONGs (Organizações
Não-Governamentais); personagens da sociedade civil: índio
Florêncio, Paulo de Oliveira, nego de Mato Grosso do Sul, Zilda Arns.
A categoria Voto e Eleições foi a que mais se destacou nas
matérias desta série especial e abordou as seguintes temáticas:
importância das eleições; políticos e promessas;
votação eletrônica; critérios para a escolha
de candidatos; esperança de eleitores que se desiludiram com a política;
eleitores de mais de 70 anos; participação política;
dinheiro de campanhas; participação de jovens de 16 e 17 anos;
papel das mulheres; lei de combate à corrupção eleitoral;
voto não é mercadoria; promotor eleitoral; compra de voto;
voto obrigatório; voto nulo; voto em branco; votar na legenda; debate
em grupo; chamada para o eleitor votar.
Para analisar como essas categorias foram trabalhadas pela emissora Globo,
optamos por apresentar somente algumas matérias mais expressivas
destas cinco categorias.
Políticas Públicas
O programa do dia 21 de agosto 2000 teve como tema privilegiado a política
de habitação e as possibilidades das prefeituras em resolver
certos problemas: “No Brasil inteiro faltam dez milhões de
moradias. São cinqüenta milhões de pessoas sem teto ou
morando muito mal. É uma realidade que não deve ser ignorada.
E que seu voto pode ajudar a mudar. Escolher a melhor proposta de política
habitacional é o primeiro passo para começar a resolver o
problema”.
O caminho para a casa própria, um tema que foi trabalhado pela série
da Globo com muita dramaticidade, com emoção conseguida pelos
depoimentos dos cidadãos que conquistaram este sonho, custos pessoais
elevados, sozinhos, sem a ajuda das autoridades governamentais. Os exemplos
mostram situações diferentes em vários pontos do Brasil,
mas transmite uma mensagem positiva de que os brasileiros podem superar
suas dificuldades, sejam elas quais forem, e podem realizar seus sonhos
pessoais.
A questão da segurança é tema do programa do dia 25
de agosto de 2000: “Segurança é uma das maiores preocupações
do cidadão brasileiro, principalmente nas cidades grandes. E a experiência
mostra que só a polícia na rua não é suficiente
para conter a violência. É aí que entram os novos prefeitos...
A eles cabe cuidar da iluminação pública, da coleta
de lixo, dos espaços comunitários de lazer. Medidas que formam
a base da segurança pública. Medidas que ajudam a combater
o crime”. Com esta abordagem, a emissora procurou diferenciar as atribuições
específicas de cada esfera governamental e, neste sentido, mesmo
que a prefeitura não tenha competência para resolver os problemas
da segurança, ela pode criar certas condições infra-estruturais
que poderão melhorar as condições de vida dos moradores
de uma cidade.
Também o desemprego é trabalhado num dos programas desta série
especial (28/08/00). O programa alerta que os futuros prefeitos não
podem sozinhos resolver o problema do desemprego, mas podem ajudar a minimizar
o problema, incentivando atividades que objetivem: “desenvolver habilidades
e apoiar iniciativas da comunidade (pois estes) são meios de gerar
trabalho e renda”.
A matéria também procura esclarecer as funções
e possibilidades de atuação do prefeito, mas alerta que com
boa vontade e criatividade o prefeito pode ajudar a melhorar uma questão
tão grave como o desemprego. De certa forma este programa procurou
desmistificar promessas de candidatos que anunciavam metas “mirabolantes”
para acabar com o desemprego.
Gestão Municipal
No 2º dia da série (1/08/00) a reportagem destaca que embora
os problemas de uma metrópole como São Paulo e uma cidade
pequena sejam diferentes e o que une estas cidades é que “a
missão do prefeito é idêntica: fazer a máquina
administrativa funcionar a favor do cidadão”.
Como a série é veiculada por todas as afiliadas da Globo,
a preocupação da emissora é encontrar um referencial
comum no tratamento dos temas escolhidos para serem focalizados. A matéria
referente aos problemas das cidades é aplicável a todos os
municípios brasileiros. Falar de uma metrópole como São
Paulo e encontrar um ponto comum com Tiradentes é um esforço
que a emissora despende para padronizar e homogeneizar sua cobertura jornalística.
O aspecto levantado pela matéria diz respeito à máquina
administrativa dessas cidades. No entanto, o próprio funcionamento
da máquina se diferencia de acordo com a dotação orçamentária
e também com o partido político que detém o poder dessa
máquina, aspectos fundamentais nem levantados pela matéria.
A mensagem de culpar o eleitor pelos erros na política brasileira
é reforçada na matéria do dia 14 de agosto de 2000:
“Você sabe de onde vem e como é gasto o dinheiro da prefeitura?
O planejamento de receitas e despesas se chama orçamento. E o que
sustenta o orçamento é o imposto que todos nós pagamos.
Por isso votar em prefeito e vereador tem um significado enorme: é
entregar a chave do cofre que guarda o nosso dinheiro”.
A mensagem presente na matéria reforça a idéia de que
nós eleitores não acompanhamos e não fiscalizamos direito
o trabalho exercido pelo prefeito e pelos vereadores. Na avaliação
da Globo deveríamos acompanhar todos os passos de nossos representantes.
Por essa avaliação, podemos concluir que o próprio
sistema representativo possui falhas em seu funcionamento, já que
a Câmara Municipal não funciona, o Tribunal de Contas não
acompanha e fiscaliza plenamente a atuação do prefeito, mas
a culpa é do eleitor. Nessa matéria outras instâncias
do sistema político e a própria mídia não são
responsabilizados. A culpa é do cidadão que deve carregar
mais esta culpa, a de ter maus políticos e maus governos, por culpa
exclusiva de seu ato, o de votar incorretamente.
Legislativo Municipal
A série discute a importância do Legislativo municipal (02/08/00),
como sendo responsável pela aprovação de leis que interferem
diretamente na vida dos cidadãos e pela fiscalização
do Poder Executivo municipal. Para alertar os telespectadores, o programa
reforça a idéia do peso político que os vereadores
possuem para decidir quais políticas serão priorizadas para
a cidade: “Eles decidem muita coisa sobre a sua vida, embora você
às vezes nem se dê conta disso... Os vereadores é que
definem, por exemplo, o valor do IPTU – o imposto sobre imóveis.
São eles que dizem quanto à cidade vai gastar com creches,
escolas, postos de saúde. A Câmara também fiscaliza
o trabalho do prefeito. Importantes eles são... resta saber que tipo
de político, desta vez, você vai pôr lá, com o
seu voto”.
Este programa cobra do eleitor uma responsabilidade na escolha dos candidatos
que irão ocupar o cargo de vereador. A matéria possui uma
preocupação didática ao explicar as funções
da Câmara Municipal e dos vereadores, e ao mesmo tempo atribui uma
força política aos eleitores, responsáveis pela composição
do Legislativo municipal.
Para melhor compreensão desta matéria e do enfoque adotado
pela Globo, reproduziremos este programa:
Repórter (William Waack) - Olhe bem para este prédio,
é um dos edifícios públicos mais importantes para a
vida das pessoas em todas as cidades. É uma Câmara Municipal,
no caso a de São Paulo.
Repórter - Em Cuiabá, capital de Mato Grosso
perguntamos se as pessoas sabem diante do que estão:
Homem do povo - ‘Eu passo sempre por aí, mas
não sabemos não’;
Moça - Esse prédio não sei não;
Moço - Não, nunca entrei.
Repórter - No Brasil são 5.548 Câmaras
Municipais, uma para cada município, uma para cada prefeito que são
tão fortes ou tão fracos quanto a Câmara Municipal deixar.
Repórter - Ultimamente vereadores têm chamado
atenção, sobretudo em dia de briga.
(Imagem da Câmara Municipal de São Paulo, mostrando vereadores
discutindo no Plenário: vereadores governistas acusados de fazerem
parte da Máfia dos Fiscais, e vereadores da oposição,
que instalaram uma CPI para investigar esta Máfia e o governo de
Celso Pitta).
Repórter - Quantos formam o plenário de uma
Câmara depende do tamanho do município: (quadro com as informações)
Municípios com até 1 milhão de habitantes terão
entre 9 e 21 vereadores; cidades com mais de 1 milhão e menos de
5 milhões de habitantes elegem entre 33 e 41 vereadores; municípios
com mais de 5 milhões de habitantes têm um mínimo de
42 e no máximo 55 vereadores.
Repórter - Não importa se a Câmara
Municipal é pequena ou se é muito grande como essa Câmara
Municipal de São Paulo (mostra imagem da Câmara e um auditório
coberto com muitas cadeiras). Se não houver afinidade entre o prefeito
e os vereadores, fica praticamente impossível governar qualquer município.
Mas será que o eleitor entende e gosta do trabalho das Câmaras
Municipais?
(Imagem das escadarias, em forma de caracol, da CMSP e Dona Carmen subindo
as escadas).
Repórter - Nunca é tarde para uma nova experiência
e aos 66 anos de idade é a primeira vez na vida que Dona Carmen de
Carvalho visita a majestosa Câmara Municipal de São Paulo.
Dona Carmem - (no Plenário da CMSP): É bem
mais grandioso, eu imaginava mais, uma coisa mais simples, né?
Repórter - Ela está na arena dos debates,
onde 55 vereadores representam os interesses de 10 milhões de pessoas.
Os nomes ficam gravados em mármore, o que eles fazem, nem tanto.
(enquanto o locutor fala, Dona Carmen percorre o plenário da CM,
acompanhando a movimentação dos vereadores que se encontram
no recinto).
Dona Carmen - Não tem nenhum vereador aí
que tem a minha admiração, eu gostaria de admirar um. (imagem
de Dona Carmem sentada na galeria assistindo a sessão).
Repórter - vai começar o dia normal de trabalho
para os vereadores, um daqueles dias que dificilmente provocam alguma admiração.
(Imagem do Plenário da CM, mostrando vereadores conversando, enquanto
outro vereador discursa).
Repórter - Enquanto discursam, outros conversam.
Qualquer coisa parece mais interessante, mas há olhos (imagem do
cinegrafista lendo uma revista e cadeiras vazias no plenário). Mas
há olhos (imagem de um rapaz sentado na galeria, atento ao que está
acontecendo no plenário) e ouvidos atentos, os de Roberto Danzi,
por exemplo. Aos 17 anos de idade ele é uma figura rara.
Roberto Danzi - É a maneira que eu vejo de melhorar
a minha cidade, de melhorar até o meu bairro, até a minha
escola. Política não é só Câmara, é
escola, em casa se usa política para falar com seus pais, você
é político em qualquer momento de sua vida, por isso é
que eu acho que gosto de política.
Repórter - Lá em cima na galeria de visitantes,
duas gerações se encontram, lá embaixo o desencontro.
O plenário continua quase tão vazio como antes do início
da sessão. Se dependesse de Sebastião José da Silva,
mais vereadores (rapaz sentado na galeria assistindo a sessão da
CM) estariam presentes. Sebastião é garçom e usa as
horas vagas para acompanhar o trabalho dos vereadores na Câmara. Descobriu
que controlar é fundamental.
Sebastião José da Silva - Você acompanha
e você descobre. Você vê o que eles defendem, o que deixa
de defender, vou dar um exemplo: se for uma denúncia de corrupção,
o vereador, ele não aceita que a denúncia seja apurada, no
mínimo ele é corrupto também. Por quê? O homem
público acima de tudo tem que ter transparência naquilo que
ele faz.
Repórter - Os olhos de gente como o estudante Roberto,
podem ser muito mais críticos do que (imagem do cinegrafista, do
estudante e outro rapaz) a lente de uma câmara de televisão.
E as impressões registradas pela Dona Carmen, dizem mais do que os
manuais de política.
Dona Carmen -Eu acho necessária à política
para o povo (Dona Carmen falando em pé na galeria), o povo precisa
muito, mas as coisas vão ocorrendo de uma forma que a gente fica
muito crítica. As coisas vão acontecendo que você não
gostaria que acontecesse, então o povo se distancia. Eu vejo a minha
geração distanciada, e foi uma geração que...
Eu vivi política.
Repórter - São poucos como o Sebastião
que se dão o trabalho de vigiar, acompanhar e cobrar. Mas é
com atitudes assim que muita coisa pode mudar (imagem do plenário
com vereadores conversando).
Sebastião - Se a população em conjunto
cobrar, com certeza será atendido porque eles temem a opinião
pública.
Esse programa ressalta a importância da escolha dos eleitores e o
necessário acompanhamento das atividades políticas desenvolvidas
pelos vereadores na Câmara Municipal. A escolha do cenário
da Câmara Municipal de São Paulo foi proposital, exatamente
por ter sido palco de brigas políticas, envolvendo vereadores e o
prefeito Celso Pitta, questão não mencionada na matéria.
A visibilidade deste Legislativo municipal se fez presente por vários
meses. A escolha de três personagens para vivenciar situações
diferenciadas, também foi proposital: garçom assistindo em
suas horas vagas as sessões da Câmara Municipal? Jovem se deslocando
de suas atividades de estudante para acompanhar uma sessão da Câmara?
São situações inverossímeis, montadas para provar
a tese defendida pela Globo: nós eleitores somos responsáveis
pela presente situação de corrupção e desmandos
nas Câmaras Municipais. Devemos acompanhar todos os passos de nossos
representantes, cobrando, fiscalizando e denunciando irregularidades cometidas
por nossos políticos.
Sociedade Civil
A Globo veiculou também uma matéria sobre políticos
e religião. A exibição do programa (08/08/00) alerta
para o uso político que determinados candidatos fazem da religião.
Em busca de votos, tais políticos visitam desde templos budistas,
até terreiros de candomblé, espíritas, católicos
e evangélicos. Na avaliação da matéria “grupos
ligados a igrejas fazem uma corrente pelo voto ético e responsável.
Um tipo de voto que não leva em conta apenas à religião
do candidato, mas as propostas que ele defende para melhorar a vida da comunidade”.
Nessa matéria é reforçada a idéia de que a religião
e suas diferentes seitas e igrejas é imparcial na escolha dos candidatos,
não induzindo seus fiéis a votar em candidatos ligados a estas
religiões. Talvez o objetivo seja o de igualar as religiões
e seitas, cobrando e chamando a sua responsabilidade de não assumir
posições dogmáticas de privilegiar determinadas candidaturas
próprias. Não podemos esquecer o peso político da bancada
evangélica presente no Congresso Nacional, como também nos
legislativos municipais e estaduais. A religião é instrumentalizada
para alcançar objetivos políticos.
Voto e Eleições
No 1º dia da série, os telejornais locais apresentaram a importância
das eleições na vida dos cidadãos brasileiros e a matéria
veiculada externou a preocupação da emissora em orientar o
voto do eleitor: “Dois meses. É o tempo que nos separa de uma
decisão que vai selar o futuro de nossa cidade. No dia primeiro de
outubro vamos eleger vereadores e prefeitos – os nossos representantes.
A prefeitura e a Câmara vão ter o desenho que o eleitor determinar.
É um passo tão importante, que o (NOME DO JORNAL ) decidiu
estar do seu lado, ajudando na escolha. A partir de hoje você vai
ver aqui uma série de reportagens educativas sobre o voto –
o mais poderoso instrumento de uma democracia”.
A preocupação da Rede Globo em orientar a ‘decisão
do voto’ do eleitor brasileiro se faz presente em todos os programas
da série. A Globo destaca a importância das eleições
na vida dos cidadãos e a responsabilidade na escolha dos candidatos
que dirigirão sua cidade.
Na matéria exibida no dia 03 de agosto de 2000, a preocupação
da série é discutir a problemática dos políticos
que fazem promessas que não são cumpridas: “Na reportagem
de hoje sobre o voto, você vai conhecer brasileiros cansados da ladainha
de sempre. Gente que aprendeu a se defender de candidatos que apresentam
soluções milagrosas para problemas concretos”.
O apresentador da matéria ensina que o eleitor possui maior peso
político do que imagina. O programa mostra exemplos de brasileiros
que fiscalizam o trabalho dos políticos, denunciam irregularidades
e, com esta atitude, valorizam o desempenho do político que trabalha
bem e tornam público o desempenho dos maus políticos.
A matéria do dia 07 de agosto de 2000 trabalha com critérios
para a escolha do candidato pelo eleitor: “O que você sabe sobre
o candidato que está pedindo o seu voto? O partido dele, as propostas
que ele defende, o financiamento da campanha, o compromisso com a comunidade.
São informações muito úteis na hora da escolha.
Critérios que podem fazer a diferença entre desperdiçar
o voto e tomar a decisão certa”.
O programa ensina o eleitor a decidir o seu voto, levando em conta não
só as promessas de campanha, mas a vida do candidato, o partido político
a que ele está filiado. Na avaliação da matéria,
“o passado de um candidato às vezes fala mais do que mil palavras
de campanha”.
Nesse sentido a mídia como um todo possui um papel fundamental, pois
ela é que armazena as informações, ela é o nosso
“banco de dados”. A marca dessa campanha eleitoral foi a de
reforçar esse papel da mídia. Todas as matérias lembravam
fatos passados e cobravam do eleitor uma decisão “consciente
e responsável”. A própria emissora se atribui o papel
de fiscalizadora das ações dos políticos e também
exerce uma função de conscientizar o cidadão a assumir
responsabilidades perante a sociedade.
“Exercer a cidadania e votar com consciência são atitudes
que podem mudar o Brasil. Agora, a decisão é sua”. Esta
é a última chamada da série especial sobre as “Eleições
2000”. O eleitor deve fazer a sua parte (29/09/00): “Domingo
é o dia em que mais de cem milhões de eleitores vão
decidir o futuro da cidade onde moram. A importância desta eleição
para a sua vida foi o tema de uma série de reportagens nas últimas
nove semanas. Cidadãos de todos os cantos do país deram o
recado: exercer a cidadania e votar com consciência são atitudes
que podem mudar o Brasil. Agora, a decisão é sua”.
Série “Eleições 2002”
Novamente a Rede Globo programou para as eleições ao governo
do estado, uma série especial sobre “Eleições
2002” , que deveria ser retransmitida por todas as suas afiliadas,
e tinha como objetivo discutir questões gerais como a importância
do voto, problemas dos estados brasileiros envolvendo temas como a corrupção,
o papel dos deputados e do governador. Estas matérias deveriam ser
retransmitidas no horário dos telejornais locais. No caso específico
de São Paulo, o programa responsável para esta veiculação
foi o SP-TV 1ª e 2ª edição.
A rede Globo priorizou novamente uma visão mais imparcial e de distanciamento
das candidaturas e a tentativa de preservar a objetividade na cobertura
jornalística das eleições estaduais de 2002.
Nestas eleições, a Globo manteve a tendência utilizada
pelo telejornalismo norte-americano conhecido como Civic Journalism, que
tem por objetivo estimular os eleitores a votar, destacando a importância
do processo eleitoral na escolha dos representantes nos cargos eletivos
e transformando os seus telejornais em espaço privilegiado para as
discussões sobre a importância de acompanhamento das propostas
dos candidatos para a decisão do voto.
Assim, enfatiza-se a necessidade do debate sobre as plataformas de campanha
dos candidatos e as respectivas propostas para o enfrentamento dos problemas
a serem resolvidos pelo poder público. Algumas reportagens abordam
as funções dos deputados estaduais e entre elas, destaca-se
a elaboração do orçamento do Estado, considerando que
a partir dele são definidas as áreas prioritárias de
investimento, a distribuição das verbas por secretarias e
a obrigatoriedade, estabelecida em lei sobre o percentual mínimo
a ser distribuídos para cada setor.
A linguagem adotada para explicar a distribuição dos recursos
públicos é bastante simplificada, considerando que os eleitores
têm níveis muito diferenciados de compreensão de questões
tão complexas quanto às finanças públicas.Nesse
sentido, o orçamento público é freqüentemente
comparado ao orçamento doméstico para facilitar o entendimento
dos telespectadores.
No caso específico das matérias especiais, observa-se que
40 programas foram produzidos e abarcaram as seguintes temáticas:
O Povo e o Governador, O Povo e a assembléia, O Povo e os Deputados,
A Escolha do candidato, O voto Cidadão, Seu Voto Vale Uma Lei e O
Cidadão e a Política. Os itens trabalhados abrangeram desde
as atribuições do governador, projetos de iniciativa popular,
fiscalização, até o significado político da
CPI, do voto e da participação popular.
Diferentemente da série especial de 2000, que trabalhava com várias
temáticas, desde as atribuições das políticas
públicas, do papel dos vereadores, da sociedade civil e até
as funções do prefeito, observa-se que a série produzida
em 2002 para as eleições estaduais, não segmentou os
programas de maneira estanque, mas mesclou questões próprias
do governador, com as responsabilidades do deputado estadual, de líderes
comunitários.
Ao abordar o papel do deputado estadual na elaboração do orçamento
é destacada a representação atribuída a ele
pelo voto, ou seja, o poder de decidir a destinação dos investimentos
públicos, enfatizando mais uma vez a idéia do voto como arma
contra aquele que ao se eleger se distanciou dos interesses do povo que
o elegeu.
Sandra Anenberg: bom, agora vamos pra as eleições
2002. Entre as funções do deputado estadual está a
de decidir o orçamento do Estado. Com esse poder ele pode definir
quais são as áreas prioritárias para investimentos,
um poder que na verdade é seu e que você transfere pra o seu
deputado.
Além de explicar uma das funções do deputado estadual,
como elaborar o orçamento do Estado, a jornalista e âncora
do telejornal reforçam que esse poder lhe é conferido através
do voto reforçando a importância das eleições
para que as atribuições do Estado fiquem nas mãos de
parlamentares que, de fato, representem os interesses da maioria da população.
Se esse esclarecimento é importante, pois muitas vezes os eleitores
não tem clareza sobre as etapas da gestão pública,
também se verifica nesse tipo de jornalismo uma certa culpabilização
do eleitor pelo desinteresse no acompanhamento dos assuntos que dizem respeito
à administração dos governantes.
Nessa concepção, o voto assume a centralidade da vida democrática,
e em muitas vezes é associado metaforicamente à imagem de
uma "arma" que o eleitor pode (e deve) usar. A idéia é
de eliminar todo político que descumpre com suas promessas de campanha
e não atuam em sintonia com os interesses da vida pública.
A arma, aqui, tem um sentido de punição e o pleito torna-se
uma conquista e o mandato uma espécie de premiação,
que ora é alcançado pelo referendo popular ora é retirado
pelo mesmo dispositivo, dentro das regras do processo eleitoral.
O número de vagas nas Assembléias Legislativas ou no Congresso
Nacional é explicado apenas como uma complexa equação
para que um candidato consiga se eleger. Assim, explica-se:
"Exemplo: partidos políticos concorrendo a oito vagas recebem
um milhão de votos no total, dividindo-se os votos pelas vagas chega-se
a 125.000, isto é para eleger um candidato cada partido deverá
ter no mínimo 125.000 votos. Um candidato com poucos votos num partido
grande tem mais chances de se eleger do que candidato com muitos votos num
".
Nesse caso específico é curioso que não haja nenhum
tipo de crítica aos casuísmos do sistema eleitoral, pois segundo
as explicações da matéria, os partidos nanicos só
teriam alguma chance de eleger representantes se fizessem algum tipo de
coligação com os maiores partidos políticos.
A obrigatoriedade do voto é abordada como um aspecto democrático
da sociedade moderna e que somente as explicações elitistas
acreditam que a obrigatoriedade não favorece a dinâmica do
processo eleitoral. A tendência desse tipo de telejornalismo é
associar o exercício do voto à conquista da cidadania, pois
é vista como uma forma privilegiada de interferir nos destinos da
própria vida.
A cidadania e significado do voto deixam de ser um direito para ser uma
obrigação. Os indivíduos devem participar, porém
dentro da ordem democrática, utilizando-se dos canais legais de participação,
o processo eleitoral é analisado como essencial, pois quando os eleitores
"erram" nas suas escolhas são automaticamente punidos com
uma má-gestão do espaço público.
Verifica-se a valorização das leis elaboradas através
de iniciativas da população, enfatizando a garantia constitucional
que permite a qualquer cidadão apresentar projetos de lei em qualquer
Assembléia Legislativa do país, tendo como exigência
a coleta de assinaturas de no mínimo 1% dos eleitores para que possa
ser tramitado no legislativo estadual.
Nesse sentido, as matérias discutiram iniciativas dos cidadãos
relacionadas à apresentação de projetos de lei, esclarecendo
brechas constitucionais para o encaminhamento de projeto popular. Além
destes projetos, a série especial destaca a importância da
diminuição da distância entre o poder legislativo e
a população. Um conjunto de reportagens mostra resultados
positivos obtidos a partir da mobilização dos setores sociais
para reivindicar soluções aos problemas específicos
de algumas comunidades.
As matérias reforçam a necessidade da participação
dos eleitores nas diversas frentes de atuação política,
desde a elaboração do orçamento até a fiscalização
da atividade do poder legislativo e executivo. Nesse sentido, os cidadãos
são constantemente convocados a fiscalizarem os políticos,
acompanhando suas atuações para que se possa mantê-lo
ou tirá-lo do cargo no próximo processo eleitoral, conforme
matéria a seguir:
Repórter: todo governo também tem que prestar
contas diretamente à população. Em São Paulo
algumas entidades como o conselho de economistas já está se
organizando para entender o orçamento, e nessa tarefa já existe
um aliado importante, a Internet. Todos os governos estaduais são
obrigados a colocarem seus endereços eletrônicos, informações
sobre o que sai e o que entra no cofre.
Repórter: toda vez que o cidadão se manifesta,
quem tem a possibilidade de estar corrompendo ou de ser corrompido fica
preocupado, porque ele vai ter sempre um cidadão próximo.
Repórter: os mecanismos de fiscalização
estão aí, pra o eleitor vale o recado; para garantir uma boa
administração o voto é apenas o primeiro passo.
Repórter: um dos males da democracia brasileira ainda o cidadão
não perceber que os governos estão a sua disposição,
que os governos estão a seu serviço e que eles tem o direito
de controlar porque eles pagam os tributos pra serem bem servidos.
Repórter: e quando a população é
bem servida, o governante não precisa se esconder de quem o elegeu.
(pausa).
Esse tipo de argumentação utilizada em todos os telejornais
da emissora tem como principal eixo aumentar a credibilidade das instituições
políticas. A descrença no sistema político pode ser
revertida, segundo a lógica da matéria, a partir do momento
em que o cidadão participar de forma consciente, escolhendo os melhores
candidatos. Com este gesto, o eleitor provocaria uma revitalização
das instituições políticas.
Neste sentido o voto é simbolicamente tratado como "arma contra
os maus políticos”:
"Uma pesquisa do Instituto Datafolha feita há um ano em cinco
capitais, mostrou que as instituições políticas são
as que possuem menos credibilidade junto à população,
entram aí os partidos, o governo federal e o congresso; mas essa
descrença parece não desanimar os candidatos, até agora
ão na corrida pelo voto, 4.000 a mais do que em 98".
As mulheres, maioria do eleitorado, são alvo prioritário
dos discursos apresentados nas matérias desta série especial.
Geralmente o voto é associado à libertação das
mulheres, a uma conquista fruto de um longo processo de mobilização
que culminou com o direito ao voto em 1932. Para ilustrar a atenção
dada especificamente às mulheres, algumas reportagens destacam o
engajamento da mulher no processo político como uma maneira de influenciar
os rumos do país.
Para resolver o impasse nas aplicações e na adoção
de determinadas políticas públicas, a matéria trabalha
com as possibilidades do Orçamento Participativo:
Repórter (em off): Os moradores indicam pelo voto
no fim do processo à proposta tem que ser aprovada pelo governo e,
aí o caminho é o mesmo em qualquer Estado brasileiro. A obra
é incluída no orçamento do Estado que deve ser aprovado
pela Assembléia Legislativa para que no ano seguinte seja executada
pelo governo.
Para reforçar a questão da responsabilidade do governante,
a matéria recorre a um depoimento de um cientista político:
André Marenco (Cientista Político): Os governadores
mesmo com as restrições estabelecidas atualmente podem, tem
margens, tem recursos que lhe permitem desenvolver políticas razoavelmente
eficazes. Portanto o voto neste terreno é um voto significativo.
É um voto que tem impacto sobre a vida de cada um dos cidadãos.
O importante a ressaltar nestas matérias referentes às atribuições
do governador e da Assembléia Legislativa é que o cidadão
é responsável pela escolha dos governantes e dos representantes:
Repórter: Ao votar em governador você poderá
estar decidindo os próximos quatros anos de sua vida e de muitas
outras pessoas. Por isso é preciso ficar atento às promessas
e posições dos candidatos. O governador tem responsabilidades
e nem tudo ele pode. Em São Paulo uma comunidade aprendeu as atribuições
de cada governante, e já sabe de quem cobrar as providências.
Repórter: a gente tem que ter os objetivos claros
e o que a gente quer nesses quatro anos de governo.
Além de responsabilizar o eleitor pelos seus erros na escolha política,
a série também reforçou o seu aspecto didático
e educativo, contando a história das Assembléias Legislativas
e da Democracia Representativa:
Repórter: pra se eleger o governador não
administra o Estado sozinho, ele precisa buscar apoio e dialogar com prefeitos,
deputados, senadores e presidente da república. Nesse contato com
outros políticos, o governante precisa conciliar estratégia,
paciência e bom senso. Veja a reportagem.
Repórter: na Grécia antiga no século
IV antes de Cristo, o filósofo Aristóteles já falava
das vantagens da democracia, pra ele quanto mais pessoas dividindo o poder
menor a chance de o povo sofrer com a tirania e com a corrupção.
No Brasil hoje a regra também vale, um governador não administra
sozinho.
Repórter: o governador aí atua num campo
que ele é limitado de um lado pelas leis que são feitas não
por ele, mas são feitas pelos deputados ainda que possam ser leis
propostas inicialmente por ele. De outro lado ele é limitado pelo
judiciário, o poder judiciário pode julgá-lo sempre
que ele cometer algum tipo de arbitrariedade.
Não podemos esquecer que a série especial teve um objetivo
claro, o de envolver os eleitores neste processo eleitoral, esclarecendo
questões pertinentes ao município e ao estado e que podem
e devem ser fiscalizadas e acompanhadas por seus cidadãos. Não
basta somente votar, o cidadão precisa compreender o significado
político e social da participação política.
A disputa política trabalhada nestas séries especiais trabalha
com a idéia de restrição do espaço do cidadão
à democracia representativa.
Série “Eleições 2004 – Pergunta do Eleitor”
Nas eleições municipais de 2004, a Rede Globo novamente produziu
uma série especial, porém com uma estrutura diferente dos
outros anos. Agora o eleitor também faz perguntas aos principais
candidatos à prefeitura de São Paulo. Os problemas da cidade
são apresentados, enquanto introdução à matéria
jornalística, e depois aparecem os candidatos respondendo à
pergunta do eleitor. Parte-se do pressuposto que as outras séries,
apresentadas em 2000 e 2002, já trouxeram um aprendizado político
aos eleitores. Agora eles devem falar por si mesmos.
A série especial geralmente começa com a seguinte frase: “O
eleitor quer saber o que o futuro prefeito vai fazer para...”. As
questões apresentadas no telejornal dizem respeito a vários
aspectos que merecerão atenção por parte do (a) próximo
(a) prefeito (a): plano para os professores; plano para acabar com os congestionamentos
da cidade; como criar e preservar áreas verdes; como recuperar o
centro da cidade; como resolver os problemas da moradia; como combater a
violência; como ajudar os moradores de rua; propostas para o saneamento;
novo papel da Guarda Metropolitana Municipal.
Como exemplo citamos duas reportagens desta série:
1 – Como recuperar o centro
A região central de São Paulo é um dos grandes desafios
do próximo prefeito da capital. Os candidatos apresentam suas propostas
para a revitalização do local.
O centro é o local de trabalho de grande parte dos paulistanos: gente
que vem de todos os cantos da capital. No meio da multidão, ambulantes
e mendigos disputam espaço. Marco do nascimento da cidade, o centro
enfrenta uma tendência: nos últimos anos, muitas famílias
deixaram de viver na região. A Sé é um exemplo: na
década de 1980, 33.000 pessoas viviam no bairro; vinte anos depois,
o número caiu pela metade.
“São Paulo tem 420.000 moradias fechadas e elas estão
no centro. Precisamos desestimular os proprietários a manter esses
imóveis fechados”, afirmou o candidato do PV, Luiz Penna.
“Vamos levar repartições da prefeitura para o centro,
dar para aqueles que têm imóveis deteriorados, no centro da
cidade, isenção fiscal de IPTU, para que eles possam reformar”,
disse Paulo Maluf, do PP.
“Precisamos manter a intervenção de reurbanização
do centro, expandir essa intervenção para áreas do
entorno da região central e colocar o centro antigo da cidade em
um patamar de qualidade”, afirmou Luiza Erundina, do PSB.
“O centro hoje está bonito, iluminado, policiado e há
grandes prédios em recuperação, como o Mercado Municipal.
Há projetos sociais importantes no centro, como o São Vito
e o Parque da Favela do Gato, que agora é Parque do Gato”,
disse Marta Suplicy, do PT.
“As empresas têm que voltar para lá e nós temos
que dar incentivos tributários para que as empresas voltem, porque
os impostos são muito pesados em São Paulo. É preciso
fazer descontos e dar oportunidades para que a gente volte a ter o funcionamento
econômico do centro”, disse José Serra, do PSDB “(30/07/04).
2 – Para acabar com os congestionamentos
De acordo com a CET, com o fim das férias 350 mil veículos
a mais passam a circular a mais todos os dias na cidade. O SPTV quer saber
o que os candidatos a prefeito vão fazer para melhorar o trânsito.
Em janeiro deste ano a média de congestionamentos foi de 97 quilômetros
à tarde. Em março, com a volta às aulas, essa média
aumentou para 119 quilômetros. O eleitor quer saber quais são
os projetos dos candidatos para melhorar o trânsito da capital.
“Tem que se discutir tudo isso a partir de uma engenharia de tráfego,
de modo a racionalizar o uso do espaço e melhorar a fluidez do trânsito
na cidade”, diz Luiza Erundina.
“Nós temos que fazer investimentos, começando por ter
faróis inteligentes, por ter menos valetas pelas ruas, por ter uma
regulamentação melhor dos estacionamentos nas ruas”,
diz José Serra.
“Recapeando avenidas. Fazendo avenidas, o Bilhete Único e o
Passa-rápido. O planejamento de uma estação de Metrô
no largo da Batata”, diz Marta Suplicy.
“A participação da Prefeitura no anel rodoviário.
O término do Fura-fila. São todos projetos para a melhoria
do trânsito na cidade e que vamos fazer”, diz Paulo Maluf “(02/08/04).
Um dos últimos programas da série especial sobre as eleições
trabalhou com a proposta da “missão do eleitor”:
“No próximo domingo cada eleitor que for às urnas terá
a missão de escolher bem quem vai administrar a cidade. É
o que mostra a primeira reportagem da série o valor do voto.
Em São Paulo, a velocidade de quem tem pressa de exercer os seus
direitos de cidadão. “Eu tenho a responsabilidade de colocar
um prefeito e um vereador para o bem da sociedade”, diz o coordenador
de telemarketing Daniel Cardeal.
Mais de 7,2 milhões de pessoas vão às urnas na cidade de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. No mesmo dia, 1,564 eleitores vão eleger o prefeito e os vereadores de São José do Sul. A responsabilidade dos eleitores é o mesmo.
Seja nas grandes cidades ou nas recém-nascidas onde os jovens eleitores estão ansiosos para eleger seus representantes. “A gente vontade de colocar coisas novas, que a gente decide, a gente pode”, diz a estudante Fabrícia Beaungratz”.
A Central Globo de Jornalismo adotou essa linha editorial no espírito do conceito de civic journalism que incentiva, estimula e ensina o cidadão a ser mais responsável pelos seus atos políticos. A seleção dos temas trabalhados, a escolha dos personagens políticos mostrados nas séries especiais, seguiram uma diretriz de busca de consenso, de conscientizar os cidadãos e de envolvê-los emocionalmente e racionalmente na vida política brasileira.
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TRAQUINA, Nelson (2001). O estudo do jornalismo no século XX. São
Leopoldo: Unisinos.
Sítios visitados – http://pewcenter.or
- http://sptv.globo.com/
* Profª Drª Vera Chaia – Professora do
Departamento de Política e do Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais, pesquisadora do Neamp (Núcleo de Estudos
em Arte, Mídia e Política) da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e pesquisadora do CNPq.

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