Belo Horizonte: o horário eleitoral no ar e a campanha a decolar
Luiz Cláudio Lourenço
Para quem ainda duvidava da força e da influência dos programas veiculados no horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE) como peça fundamental de qualquer campanha, a eleição à prefeitura de Belo Horizonte parece dar uma resposta exemplar. Márcio Lacerda (PSB), que antes do início do HGPE era mais um político de bastidores desconhecido quase completamente dos eleitores da capital mineira, passou a liderar com uma larga vantagem a corrida eleitoral com apenas dez dias de propaganda. Mas o que está propaganda do candidato do PSB tem de tão genial assim? Como isso começou?
A formação da chapa com Márcio Lacerda não foi fácil de ser tramitada no interior do PT, que contribui com a indicação do candidato a vice Roberto de Carvalho. Lacerda não é apenas um nome do PSB, mas conta com o apoio direto de Aécio Neves do PSDB. A rivalidade entre PT e PSDB no plano nacional não é nova, contudo não é nova também a afinidade das gestões do prefeito Fernando Pimentel (PT) e do governador Aécio Neves (PSDB). Pode-se dizer que esta afinidade de gestões é tão notória para os eleitores de Belo Horizonte quanto à rivalidade dos dois partidos nacionalmente. A despeito de queixumes e lamentações dos dois partidos, sobretudo de figuras do PT, a aliança saiu e conta formalmente com 12 partidos.
Não foi nenhum gênio de marketing o responsável pelo fenômeno da subida de Lacerda nas intenções de voto. Nenhum truque ou mágica de marketing eleitoral está em andamento. Os acertos foram grandes, mas baseados sobretudo num capital político-administrativo. A campanha acertou ao apresentar o candidato com sua biografia de político ligado à área administrativa que atuou de forma competente no plano federal ao lado de Ciro Gomes. Acertou novamente quando mostrou também o lado pessoal do candidato com um depoimento da esposa. Mas o maior acerto foram os depoimentos de Fernando Pimentel (PT) e Aécio Neves (PSDB), ambos afiançando Márcio e o cobrindo de elogios, garantindo que ele seria o futuro de um caminho que já estava sendo trilhado pelas atuais gestões do estado e do município. Outra vantagem de Lacerda é seu tempo no rádio e na TV, são quase 12 minutos. Este tempo é muito maior do que o de sua adversária mais significativa, Jô Morais (PC do B), que conta apenas com 1 minuto e 46 segundos.
Para o eleitor a mensagem veiculada nos programas de Lacerda é clara: votar em Márcio é continuar a gestão Pimentel com o apoio de Aécio Neves. A coerência de um discurso de continuidade, de manutenção de um direcionamento administrativo está sendo o principal trunfo desta campanha. Não é segredo que a gestão municipal e estadual é bem avaliada pelos belorizontinos. A avaliação de Pimentel, aferida nos dias 23 e 24 de julho deste ano pelo Datafolha, foi de 74% de ótimo e bom, o atual prefeito obteve ainda uma nota média de 7,4 em 10. O mesmo Datafolha apontava, já no fim do ano passado, Aécio Neves como líder o ranking de avaliação de governadores, com uma nota média de 7,7 em 10.
Qualquer que fosse o candidato apoiado por Aécio ou por Pimentel já teria a seu favor o prestígio destes administradores públicos. Márcio conseguiu capitalizar em intenções de votos estes dois apoios importantes e somou a eles a figura menos presente, mais não menos importante, do presidente Lula, que vem sendo veiculada através de fotos junto ao candidato no HGPE.
Não é a primeira vez que Belo Horizonte produz um fenômeno de espantoso e repentino crescimento nas intenções de voto. A candidatura de Célio de Castro, em 1996, pelo mesmo PSB de Lacerda, também foi assim. Célio de Castro saiu de tímidos 2% no início da campanha para a vitória nas urnas com 40,8% dos votos no primeiro turno e 76,5% no segundo.
Como é possível ver não há mesmo nenhuma mágica na propaganda de Lacerda. Nenhum candidato que busque ser competitivo pode hoje prescindir de um programa bem feito e com o mínimo de tempo para veicular não só suas propostas, mas também suas habilidades políticas e administrativas, mas o mais importante ainda é mostrar seu substrato e seus apoios políticos, afinal propaganda não ganha eleição sozinha.
Luiz Cláudio Lourenço
Cientista Político - Doutor em Ciência Política pelo IUPERJ
Professor e Pesquisador do Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH - luizim@yahoo.com

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