Youtube Twitter Facebook
Artigos
Página Inicial | Artigos | O segundo turno promete em Belo Horizonte

O segundo turno promete em Belo Horizonte

Luiz Cláudio Lourenço

 

Na eleição a prefeito de Belo Horizonte, o primeiro turno começou com a espantosa subida do candidato Márcio Lacerda (PSB) graças ao intensivo apoio do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT), mas este quadro que inspirava tranquilidade sofreu um fato novo no decorrer da campanha. Este fato atende pelo nome de Leonardo Quintão (PMDB), um candidato jovem e bem apessoado que resolveu empregar fortes discursos emotivos na sua propaganda eleitoral televisiva, fazer programas de rádio ao estilo Osvaldo Betio, com uma fala mansa e simples, com forte sotaque e ir caminhar diariamente a pé e de taxi pela cidade a fora numa campanha de rua muito forte. Estas três táticas conjuntamente empregadas, além de um desempenho bom em debates garantiram méritos e votos a Quintão, que agora está no segundo turno.  Além disso, todos os demais candidatos fizeram forte oposição a Lacerda, servindo casualmente de tropa de choque para Quintão.

Interessante notar que, do meio para final do primeiro turno, a subida de Quintão nas pesquisas fez com que Lacerda, que estava ausente de debates eleitorais na televisão, começasse a freqüentá-los. Mas esta exposição de Lacerda parece não ter convencido o eleitor. Dados qualitativos, de pesquisas que estamos realizando, mostraram que o eleitor viu Lacerda, no primeiro turno, como um candidato que falou pouco, tímido, um tanto introspectivo e com um desempenho sofrível em debates. O próprio candidato admitiu em entrevistas na imprensa que não é nenhum showman.

Além disso, do meio para o final da campanha do primeiro turno, Quintão adotou um posicionamento político que deixou claro que não seria de oposição à atual gestão. Na estratégia de desqualificar Lacerda como o legítimo candidato de situação, afirmou: “Se o governador (Aécio Neves) fosse candidato eu votaria nele. Se o prefeito (Fernando Pimentel) fosse candidato eu nem me candidataria...”. Quintão afirmou ainda ser do PMDB, um partido importante nacionalmente e muito próximo de Aécio.
Neste último domingo, dia 12 de outubro, com o debate entre os candidatos promovidos pela Rede Bandeirantes de rádio e televisão recomeçou oficialmente campanha na capital mineira. O programa teve a duração de 1h35 minutos e foi dividido em 5 blocos. Diferentemente dos outros três debates em que compareceu, o candidato Márcio Lacerda foi mais incisivo e logo no início do programa rebateu os boatos de seu suposto envolvimento com o mensalão. Quintão que no primeiro turno não hesitava em ser mais contundente recuou e chegou a afirmar que Márcio era um homem de bem e com família, assim como ele (Quintão). Adotando esta tática, Quintão não trocou nenhuma farpa ou alfinetada mais dura com Lacerda. Por outro lado, Márcio Lacerda também mudou de postura e passou a ser mais duro em suas afirmações, além de se mostrar preocupado em afirmar, durante todo o programa, que iria 'governar para as pessoas', usando indiretamente nestas ocasiões um dos principais jargões de campanha Quintão (gente que governa para gente). O programa manteve-se em alto nível, com a discussão de propostas e tentativas mais sutis de desqualificação dos dois candidatos, causando assim poucos incidentes ao mediador Paulo Leite.

Já no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral – HGPE e na Internet, que começaram a veicular a campanha dos competidores um dia após o debate, o clima esquentou muito. Uma estratégia mais ofensiva, por parte de Márcio Lacerda (PSB), foi adotada. O candidato partiu para o ataque veiculando o que conhecemos como propaganda negativa (negative ads). A propaganda negativa tem o claro objetivo de descontruir a credibilidade do adversário seja no campo político ou mesmo no campo pessoal, muitas vezes aliando estes dois descrétidos. Foi exatamente este tipo de descrédito duplo o que pode-se ver no video postado no youtube e também referido na página do candidato de PSB sobre seu oponente Leonardo Quintão (PMDB). Se Lacerda reclamou da infamias que sofreu por ondas de e-mails difamatórios, agora é a vez de Quintão ser alvejado com cenas dele próprio num discurso inflamado e para lá de intempestivo. Quintão aparece numa imagem de baixa qualidade diante do público que presenciou a convenção do PMDB em Ipatinga e aos berros afirma que iria "chutar a bunda deles", (numa referência ao oponente ou à aliança, não é possível saber pela propaganda). Ao meus olhos esta peça lembrou muito a propaganda negativa veiculada no primeiro turno da eleição presidencial de 2002 por Serra (PSDB) contra o então candidato Ciro Gomes (PPS), naquele ataque o candidato do PPS aparecia num estúdio de rádio falando ao microfone: "Isso é para largar de ser burro". Ciro pediu desculpas, mas o estrago foi grande e minou a chance dele ir ao segundo turno naquela ocasião. Em 2006, novamente Ciro Gomes, fez uma infeliz colocação num discurso de apoio ao seu irmão e então candidato ao governo do Ceará, Cid Ferreira Gomes (PSB). Mais uma vez Ciro pediu desculpas, mas desta vez Cid Gomes que contava também com o apoio menos desastrado do presidente Lula, acabou vencendo com folga e no primeiro turno as eleições, deixando para Lúcio Alcantra (PSDB) que veiculou a propaganda negativa a derrota das urnas. Hoje, talvez por capricho e ironia do destino, Ciro Gomes apóia e pede votos a Lacerda. Agora, mais uma vez é o eleitor que solenemente irá julgar o conteúdo deste ataque. Há duas possiblidades mais fundamentais diante deste novo fato: 1- o eleitor poderá desconfiar do temperamento e da compostura de Quintão, fazendo com que seus indíces de rejeição subam e suas intenções de voto caiam, 2- o eleitor poderá ver o ataque como um recurso desesperado de Lacerda, não dando credibilidade à esta estratégia. Nesta reta final, o equilíbrio das urnas, no primeiro turno, vai nos propiciar uma propaganda que irá explorar todas as possibilidades de conquista dos corações e mentes do eleitorado belorizontino.

compartilhe
Neamp - Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política    Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP
Rua Ministro Godoi, 969 - 4º andar - sala 4E-20 - CEP 05015-001    São Paulo - SP - Brasil    Tel/Fax.: (55 11) 3670 8517    neamp@pucsp.br
Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp) de Miguel Chaia e Vera Lúcia Michalany Chaia é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Unported. Based on a work at www.pucsp.br. Permissions beyond the scope of this license may be available at http://www.pucsp.br.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Design DTI-NMD