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A mídia convencional está realmente velha!

Andrea Reis (1)

 

RT @RAMhaiti  No interviews. just TWEETS.

 

Para aqueles que não estão familiarizados com a linguagem, primeiramente estranham o que foi escrito por Richard Morse, na frase que está sendo repetidamente escrita por ele, desde o dia 12 de janeiro, quando aconteceu o terremoto no país caribenho. Morder é músico do grupo haitiano Ram, mas é conhecido como RAMhaiti  no Twitter. Traduzindo do tuitês para o português, o que Morse está respondendo aos jornalistas das maiores emissoras de televisão é que ele não está dando nenhuma entrevista, apenas informa o que está acontecendo no Haiti através de seus tweets.


Após uma hora do terrível abalo sísmico, era possível acompanhar pelos 140 caracteres de Morse a situação caótica e desesperadora que estava o Haiti. O músico e dono do Hotel Oloffson está em Porto Príncipe.

 

RAMhaiti were ok at the oloffson..internet is on !! no phones ! hope all are okay..alot of big building in PAP are down ! (2) (8:23 PM Jan 12th)

 

Essa foi a primeira frase de Morse em seu microblog (3), e a partir dessas, muitas outras podem ser lidas no Twitter, não apenas do próprio artista, mas também de seus mais de  6,800 de seguidores, que depois são republicados por milhões de outros usuários cadastrados no serviço.

 

Criado por Jack Dorsey em 2006, o Twitter só conseguiu encontrar um maior espaço no mundo virtual em 2008, sendo que seu crescimento mais impulsivo aconteceu em 2009, ano no qual passou de 600 mil para seis milhões de usuários no mundo (Ramaldes, 2009) (4).


Assim como Morse, muitos outros haitianos e estrangeiros estão informando ao mundo como está a situação no país. A cada instante recebemos não somente os tweets, que são as atualizações realizadas pelo próprio usuário ou os retweets (5), como são chamadas as republicações das atualizações, como também temos acessos a vários fotos e vídeos. Essas mesmas imagens que estão sendo veiculadas desde as primeiras reportagens na mídia convencional, a televisão e imprensa escrita.


Comecei a participar do Twitter (6) provocada por Paulo Monteiro (@paulomonteiro_), um de meus alunos. Segundo ele, o Governador José Serra (@joseserra_) estava dando um show, e, possível candidato do PSDB à Presidência da República, seria o nosso Obama nas eleições de 2010. Como usuária do Orkut, a princípio o sentimento de estranhamento ficou muito presente, a linguagem do microblog é bem particular. Mas aos poucos consegui dominar a ferramenta e percebi que ela era muito mais que um simples diário das celebridades.


Como pesquisadora, comecei a observar não apenas os twitters dos políticos brasileiros, mas também os da própria mídia convencional nacional e internacional e de seus jornalistas para analisar como a velha mídia iria dialogar com a nova. E a cada dia estou convencida de que o Twitter está revolucionando a maneira de se fazer notícia.


Graças à facilidade de se tuitar, verbo criado pelos usuários do site, não apenas pela Internet, e, principalmente, pela telefonia móvel, faz com que a informação chegue muito mais rápida. Num país como o Haiti, onde a precária telefonia convencional ficou muito afetada com o terremoto, o celular está sendo valioso para informar ao mundo o que está acontecendo na ilha.


Informações que recebemos não são apenas dos jornalistas e das grandes emissoras que nos informam, mas também de cidadãos comuns, uma vez que qualquer pessoa, pode fotografar ou filmar o acontecimento e depois a cada tweets, de no máximo 140 caracteres, ir nos relatando o que está acontecendo.

 

JorgePontual#Haiti Mais uma vez é aqui no Twitter que a gente tem as primeiras informações e imagens. Virou ferramenta indispensável de jornalismo. (1:30 AM Jan 13th)

 

reporterdecrime  O Twitter tornou-se mídia indispensável para jornalistas destacados para coberturas de emergência no exterior. #twitpediabrasileira (9:13 PM Jan 13th)

 

Segundo a agência de notícias Ansa, na noite e na madrugada do dia 12 de janeiro, os sites do Facebook e do Twitter tiveram uma sobrecarga de conexões devido ao número excessivo de internautas em busca de informações e/ ou oferecendo ajuda.


As imagens que apareceram no dia seguinte ao terremoto, e as que ainda irão surgir, passaram primeiramente diante de meus olhos pelo Twitter, bem como, a primeira notícia sobre o evento publicada pelo twitter da Breaking News, somente depois de algumas horas é que a notícia passou a estar mais presente na mídia televisiva.

 

BreakingNews Update: A tsunami watch is in effect for Haiti, Cuba, Bahamas and Dominican Republic (7:13 PM Jan 12th

 

A teoria agenda-setting desenvolvida há 41 anos por Maxwell McCombs e Donald Shaw (2006) (7) precisa ser revista sob essa nova ótica, pois agora o que vemos é que as novas mídias estão pautando a mídia tradicional. Primeiro vemos as notícias no mundo virtual para depois ve-las na mídia televisiva, radiofônica e na impressa.


Em uma conversa por mensagens diretas (DM) do twitter com Jorge Pontual (@JorgePontual), o correspondente da Rede Globo em Nova York afirmou que o "Twitter virou fonte a tal ponto que não tem mais sentido dizer: Segundo Twitter, como não se diz: Segundo Jornais"


O próprio jornalista utilizou-se das informações adquiridas ao longo do dia pelo microblog, as quais postava para os usuários em sua página, para elaborar a construção de suas reportagens apresentadas depois ao vivo no Jornal das Dez da GloboNews e no Jornal da Globo da Rede Globo (8).  Para ele, o próprio músico Richard Morse “virou um dos principais 'repórteres' no Haiti”.


A utilização do Twitter nesse momento pelos jornalistas não está apenas limitada a busca de informações, mas também para colocarem as “suas primeiras impressões no Twitter antes de usarem seus próprios órgãos da old media" segundo Jorge Pontual. O que estou observando também é que muitos jornalistas estão utilizando suas páginas no microblog como se fossem um “caderno de campo”.

 

diegoescosteguy Estou no aeroporto de Miami, esperando o embarque para Santo Domingo. Há familiares das vítimas aqui. #Haiti ( 2:22 PM Jan 14th )

 

blogdopannunzio Chegamos a Santo Domingo. Agora falta só a viagem por terra até Porto Príncipe http://bit.ly/65tVXB( 6:00 AM Jan 14th )

 

Se anteriormente, os temas mais importantes para a opinião pública eram apenas selecionados pelas mídias convencionais (Reis, 2009) (9), percebemos que graças às novas tecnologias estão surgindo outros importantes agentes (10) na elaboração da agenda do público. Entretanto, a força do poder das imagens da mídia televisiva ainda é muito superior ao Twitter.


Percebo novamente a mesma reação ocorrida com a cobertura do Furação Katrina em 2005, evento que analisei juntamente com outros pesquisadores da Espanha e publicado no site do Real Instituto Elcano (11). A tragédia, de fato, só começa a existir, assim que são veiculadas as primeiras imagens diretamente do local afetado pela CNN. Contudo, acredito que com a proliferação das novas tecnologias essa supremacia poderá acabar nos próximos tempos. Pelo twitpic (12) e pelo Youtube, entre outros espaços virtuais, circulam várias fotografias e vídeos, desde as primeiras horas após o terremoto.


O Twitter tem se demonstrado uma excelente ferramenta de informação, tudo depende de quem estará seguindo. E certamente continuarei observando de perto, como esse site será utilizado durante o ano eleitoral de 2010 e quais serão suas conseqüências e transformações na mídia convencional.

 

Andrea Reis - Cientista política, doutora pela PUC-SP, professora da Universidade Anhembi Morumbi e pesquisadora do Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) da PUC-SP.

 


(1) A autora faz um agradecimento especial ao jornalista Jorge Pontual, por seu profissionalismo, pela brilhante cobertura que está fazendo do terremoto do Haiti via Twitter, e por sua generosidade. Sou grata às sugestões e a “entrevista” que foram dadas para esse artigo, assim como, aos diálogos que mantemos via Twitter. Como dissemos em tuitês #FF @JorgePontual.

(2) As frases em destaques são as atualizações enviadas pelos usuários. O nome do autor das mensagens está em negrito e sublinhado, e entre parênteses está à hora e o dia em que foi publicada.

(3)O conceito de “Microblog” está sendo contestado por alguns pesquisadores e jornalista, mas a autora não entrará nessa discussão neste artigo.

(4) Dalva Ramaldes (2009) Twitosfera: a expansão da agora digital e seus efeitos no universo político . Trabalho apresentado no III Congresso Compolítica (PUC-SP)

(5) Os Tweets são abreviados para TTs e os retweets como RTs entre os usuários do microblog.

(6) No qual criei dois perfis, um oficial e outro fake para poder analisar melhor os twitters dos políticos. Essa estratégia é utilizada por vários outros pesquisadores, como a Profª Drª Vera Chaia em sua análise sobre o Orkut, e pelo Prof. Dr. José Luis Dader, na pesquisa que está realizando sobre o Facebook na Espanha.

(7) McCombs, Maxwell (2006). Estableciendo la agenda. El impacto de los medios en La opinión pública y en el conocimiento. Barcelona, Paidós.

(8) Exibidos na noite do dia 13 de janeiro.

(9) Andrea Reis (2009) De Chanel na lama, a imagem de Marta Suplicy pela mídia. Trabalho apresentado no III Congresso Compolítica (PUC-SP)

(10) Como foi o caso do micro-vestido da estudante Geyse Arruda. O vídeo do incidente primeiramente circulou no Youtube para depois receber destaque nacional e internacional.

(11) Sampedro, Víctor; Reis, Andrea; Ceglia, Fabrizio; Reis, Bruno; Sánchez Duarte, José. (2005) En el ojo del huracán: la imagen mediática de EEUU tras el paso del Katrina. Análisis de la prensa de referencia de Brasil, Gran Bretaña, Italia y España. In: Real Instituto Elcano. Real Instituto Elcano.

(12) No twitpic de Lisandro Suero (@LisandroSuero) encontram-se várias fotografias, sendo que algumas são realmente muito fortes, http://twitpic.com/photos/LisandroSuero

 

(1) A autora faz um agradecimento especial ao jornalista Jorge Pontual, por seu profissionalismo, pela brilhante cobertura que está fazendo do terremoto do Haiti via Twitter, e por sua generosidade. Sou grata às sugestões e a “entrevista” que foram dadas para esse artigo, assim como, aos diálogos que mantemos via Twitter. Como dissemos em tuitês #FF @JorgePontual.

(2) As frases em destaques são as atualizações enviadas pelos usuários. O nome do autor das mensagens está em negrito e sublinhado, e entre parênteses está à hora e o dia em que foi publicada.

(3)O conceito de “Microblog” está sendo contestado por alguns pesquisadores e jornalista, mas a autora não entrará nessa discussão neste artigo.

(4) Dalva Ramaldes (2009) Twitosfera: a expansão da agora digital e seus efeitos no universo político . Trabalho apresentado no III Congresso Compolítica (PUC-SP)

(5) Os Tweets são abreviados para TTs e os retweets como RTs entre os usuários do microblog.

(6) No qual criei dois perfis, um oficial e outro fake para poder analisar melhor os twitters dos políticos. Essa estratégia é utilizada por vários outros pesquisadores, como a Profª Drª Vera Chaia em sua análise sobre o Orkut, e pelo Prof. Dr. José Luis Dader, na pesquisa que está realizando sobre o Facebook na Espanha.

(7) McCombs, Maxwell (2006). Estableciendo la agenda. El impacto de los medios en La opinión pública y en el conocimiento. Barcelona, Paidós.

(8) Exibidos na noite do dia 13 de janeiro.

(9) Andrea Reis (2009) De Chanel na lama, a imagem de Marta Suplicy pela mídia. Trabalho apresentado no III Congresso Compolítica (PUC-SP)

(10) Como foi o caso do micro-vestido da estudante Geyse Arruda. O vídeo do incidente primeiramente circulou no Youtube para depois receber destaque nacional e internacional.

(11) Sampedro, Víctor; Reis, Andrea; Ceglia, Fabrizio; Reis, Bruno; Sánchez Duarte, José. (2005) En el ojo del huracán: la imagen mediática de EEUU tras el paso del Katrina. Análisis de la prensa de referencia de Brasil, Gran Bretaña, Italia y España. In: Real Instituto Elcano. Real Instituto Elcano.

(12) No twitpic de Lisandro Suero (@LisandroSuero) encontram-se várias fotografias, sendo que algumas são realmente muito fortes, http://twitpic.com/photos/LisandroSuero

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