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Tomie Ohtake
Aproximações Geométricas

25 de Abril a 20 de Agosto de 2006

No Instituto Tomie Ohtake

 

Curadoria e texto de Miguel Chaia


Aproximações Geométricas
Sempre mantendo um raciocínio construtivo e controlando o gesto, Tomie Ohtake vem produzindo trabalhos de explícita tendência geométrica, principalmente no período de 1970 a 1986. Trata-se de uma geometria sensível, uma vez que incorpora movimentos de pinceladas, focos luminosos, sobreposições de planos e sofisticadas relações cromáticas.

 

A linguagem desenvolvida por Tomie resulta da aproximação entre geometria e informalismo, sintetizando contradições da sociedade brasileira e da sua história da arte. A obra desta artista não só revela as tensões produtivas originadas do encontro entre Oriente e Ocidente como também desvela os confrontos internos entre tradição-modernização, tecnologia-natureza, figuração-abstração, concretismo-neoconcretismo e, enfim, a ordem-desordem que atravessa o país e conflui para o barroco brasileiro.

 

No interior das diferentes geometrias, o abstracionismo de Tomie está fundamentado, de maneira geral, na repetição do padrão curvilíneo, estipulado pela linha curva e pela forma circular. Assim, a geometria nesta artista configura-se pela repetição da perfeita curvatura e pela presença da forma, estruturada com disciplina no plano ou no espaço.

 

Esta poética da redução e da construção rigorosa transparece nas pinturas, gravuras e esculturas de Tomie, diferenciando-se em três fases que se interpenetram e constituem geometrias específicas. A primeira delas ocorre entre 1970 e 1973, quando a linha reta e o ângulo de 90º direcionam a reprodução de retângulos, dando continuidade às formas recortadas da década de 60. Nas pinturas de Tomie aparecem, então, duas ou três áreas retangulares que se definem por planos de cores sobre um fundo claro. Atenuando a rigidez das retas, as delimitações destas áreas deixam perceber levemente o riscado da mão e vibram com as sobreposições de tons. Esta geometria retangular se prolonga na obra de Tomie por meio das gravuras, como por exemplo a série dos "Grandes formatos", de 1996.

 

Em um segundo momento, entre 1974 e 1980, a curva reapresenta-se, convivendo com linhas e ângulos retos. Agora, verifica-se a precisão do traçado para delimitar formas híbridas, nas quais a linha reta realiza um arco para se constituir de novo em um fio. Ou, então, Tomie constrói áreas retangulares atenuadas nos seus cantos superiores que são delicadamente arredondados. Obtendo harmonia entre díspares, Tomie constrói espaços relacionais, tinge as áreas com transparências e oferece um generoso primeiro plano às suas formas.

 

Em 1979, Tomie produz uma escultura com tubos de ferro (2,00 m de diâmetro X 1,48 m de profundidade) que elucida muito bem a lógica da construção dos seus trabalhos geométricos. Ela se compõe de dois círculos paralelos obtidos pelas conexões entre retas que se curvam. Esta peça foi exibida no Museu de Arte de São Paulo, MASP, neste mesmo ano, na mostra "Escultura lúdica" e se completava com o manuseio do usufruidor. As gravuras produzidas nestes sete anos também possuem formas derivadas da relação entre reta e curva e expõem a clareza do resultado geométrico devido ao suporte, isto é, à impressão sobre o papel.

 

A terceira fase gira em torno de 1980 e um pouco além de 1986, quando Tomie abandona de vez a linha reta, enfatizando a linha curva perfeita que, por si só, define uma alta potência formal. A intensidade visual do padrão circular imprime às obras uma dimensão cósmica. Curvaturas são traçadas geometricamente, gerando planos em permanentes confrontos para ocupar o espaço, deixando indeterminado o que é frente ou fundo. Configurações sinuosas e partes do círculo, geralmente ¼ dele, ocupam a tela, numa coloração lisa que tende ao monocromático. Largas faixas ocupam a superfície da tela, isoladas em movimentos diagonais ou em duplas que quase se tocam, buscando um equilíbrio precário. Apenas aparentemente a forma parece desaparecer, ao privilegiar os recortes balizados pelo padrão circular. Com tal método, Tomie irá riscar o espaço e produzir as suas esculturas na segunda metade da década de 90.

 

Mergulhando na formação brasileira, conectando as diversidades das experiências do país, Tomie Ohtake vem realizando uma trajetória de síntese, navegando num fluxo estético ladeado pela abstração geométrica e pelo informalismo. Às vezes uma destas margens é reforçada pela artista, sem se constituir na única alternativa. Sua singularidade encontra-se em conseguir manter, simultaneamente, o apreço pela precisão geométrica e o gosto pela liberdade do gesto.

 

Miguel Chaia

Fevereiro de 2006.

Miguel Chaia - Professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.

 

 

 

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