XI SEMANA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
"HEGEMONIAS E CONTRA-HEGEMONIAS NO
MUNDO CONTEMPORÂNEO"
GT DO NEAMP - Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política
Tema - Política e Espetáculo
Ementa - Debater o potencial da política na contemporaneidade, quando esta área de conhecimento e atividades sofre o impacto intensivo da mídia, envolve-se com valores e aspectos simbólicos que remodelam práticas e movimentos políticos. Neste sentido serão apresentadas reflexões e pesquisas desenvolvidas por pesquisadores do Neamp e outros convidados.
Sessões - serão realizadas 3 sessões de apresentação de trabalhos para analisar as dinâmicas e relações que se estabelecem na política sob o forte impacto midiático e cultural que perpassa a sociedade atual:
1ª sessão - Apresentação dos resultados da pesquisa "Mídia, Eleições e Comportamento Político em São Paulo", projeto temático financiado pela FAPESP e que acompanha a cobertura do telejornalismo e radiojornalismo nas eleições municipais em 2000 e nas eleições estaduais e presidenciais em 2002.
Expositores - Andréa Reis, Carlos Alberto Furtado de Mello, João José de Oliveira Negrão, Helena do Val, Julia Nepomuceno, Marcelo Burgos, Marco Antonio Teixeira, Rafael Araújo, Vera Chaia;
Debatedor - José Luiz Aidar Prado (PEPG em Semiótica).
2ª sessão - Apresentação da produção de pesquisadores que desenvolvem estudos referentes às influências das áreas artísticas e culturais sobre ações e teorias políticas (teatro, música, cinema, literatura e formas midiáticas).
Expositores - Eduardo Viveiros, José Farias, José Renato Ferraz da Silveira, Telmo Estevinho, Syntia Pereira Alves, Miguel Chaia.
Debatedor - José Mario Ortiz Ramos (UNICAMP).
3ª sessão - Apresentação de teses e dissertações concluídas que discutem o significado político da mídia (imprensa escrita e televisão), do marketing e do controle social.
Expositores - Cláudio Penteado, Francisco Fonseca, Marcelo Câmara Barbosa, Paula Papis, Rosemary Segurado.
Coordenadores - Vera Chaia e Miguel Chaia
Resumos dos trabalhos apresentados pelo GT do NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) na XI Semana de Ciências Sociais/2002
Tema - Política e Espetáculo
1ª sessão - "Mídia, Eleições e Comportamento Político em São Paulo"
1) A Conjuntura Política nas eleições de 2000.
Carlos Alberto Furtado de Melo
"A eleição municipal de 2000 começou antes: seu primeiro turno se deu em 1998. A derrota de Paulo Maluf para Mário Covas aniquila o projeto do malufismo, tornando Paulo Maluf mais vulnerável à mídia. O desempenho de Marta Suplicy, por outro lado, colocou a candidata do PT em ótimas condições de competitividade em 2002. Somado a isto, a administração Pitta transforma-se na Bósnia da direita paulistana."
2) Agenda-Setting: temas na pauta jornalística
João José de Oliveira Negrão
A hipótese do agenda setting afirma que mais do que impor o que pensar, a mídia tem a capacidade de definir sobre o que pensar, ou seja, só se tornam assuntos de uma agenda públicos de discussões aqueles temas - entre os milhares possíveis - que ganhem espaço nos jornais, revistas, rádios e tevês. É necessário marcar uma distinção: há duas esferas possíveis em relação as quais as pessoas orientam suas conversas. Uma é a que pode ser chamada de "agenda pessoal", onde se localizam temas que dizem respeito à vida privada de cada um. Há, porém, uma esfera de assuntos comuns, que parte significativa dos agentes sociais conhece e sobre os quais fala. É aí que, segundo a hipótese do agenda setting, a mídia, pela seleção, disposição e incidência das notícias, determinará os temas. Assim, para E. Shaw, em conseqüência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas (WOLF: 1995, p.130).
Superando um paradigma preso aos efeitos imediatos da comunicação, o agenda setting inscreve-se na busca das conseqüências de longo prazo, pois, conforme Roberts, "as comunicações não intervêm diretamente no comportamento explícito; tendem, isso sim, a influenciar o modo como o destinatário organiza a sua imagem do ambiente" (WOLF: 1995, p. 126), quer dizer, os meios de comunicação provocam efeitos cognitivos sobre o sistema de conhecimento dos indivíduos, não apenas pontuais, mas sedimentados no tempo. Assim, conforme Wolf (op.cit.), no centro da questão dos efeitos coloca-se a relação entre a ação constante da mídia e o conjunto de conhecimentos sobre a realidade social, "que dá forma a uma determinada cultura e sobre ela age, dinamicamente".
A partir desta perspectiva, buscaremos uma análise ainda exploratória da tematização ocorrida na cobertura dos telejornais locais das tevês de São Paulo durante as eleições municipais de 2000.
3) Aspectos metodológicos da pesquisa
Marcelo Burgos
"A exposição tem como objetivo tratar das questões metodológicas da pesquisa desenvolvida pelo nosso grupo no projeto temático 'Mídia, campanha eleitoral e comportamento político em São Paulo", realizado pelo NEAMP. Abordaremos as análises de conteúdo e de textos realizados por Francesco Casetti e Federico di Chio, a questão do 'framing' ou enquadramento de mídia e política desenvolvidas e aplicadas por Mauro Porto e, em outro trabalho por Alessandra Aldé e Fernando Lattman-Weltman e, por fim explicaremos o conceito de CR-P desenvolvido por Venício Lima e como este se forma na e pela mídia."
4) Candidatos em 2000: confrontos e alianças
Marco Antonio Teixeira
O objetivo é debater a conjuntura político-partidária que permeou a disputa eleitoral para a prefeitura da cidade de São Paulo no ano 2000. Abordaremos o processo de construção das alianças eleitorais no decorrer do primeiro e segundo turnos e destacaremos, também, de que maneira os temas sociais que compõem uma eleição municipal se mostraram presentes na construção das coalizões eleitorais.
Por tratar-se de um período histórico no que se refere ao debate sobre a corrupção na máquina pública, esse tema também terá um tratamento central no nosso trabalho.
5) A construção da imagem - Estudo da imagem da cidade de São Paulo construída pelos telejornais durante o pleito municipal de 2000
Rafael Araújo
Para que se faça um estudo da construção da imagem da cidade de São Paulo pelos telejornais, durante o período das eleições municipais, é necessária a criação de uma metodologia de análise específica da imagem dinâmica. A apresentação versará sobre a elaboração dessa metodologia que pretende dar conta dos problemas que implicam uma análise política de imagem televisiva, tais como temporalidade e intencionalidade.
6) A dança dos números: o impacto das pesquisas eleitorais nas estratégias de comunicação do HGPE na eleição municipal de 2000 em São Paulo
Andréa Reis
Irei realizar uma análise da cobertura do tema Campanha eleitoral de 2000 pelos telejornais verificando se a Legislação Eleitoral (Lei nº 9.504) foi respeitada e se o "critério de Proporcionalidade" está presente também nas matérias dos telejornais. Tomarei um cuidado muito especial durante a análise dos dados sobre a cobertura das pesquisas eleitorais pelos telejornais, uma vez que o meu objeto de pesquisa do mestrado é verificar o impacto das pesquisas eleitorais no HGPE.
7) Radiojornalismo nas eleições de 2000
Helena do Val & Julia Nepomuceno Ribeiro
O projeto Rádio e Eleições consiste em uma análise sobre a relação entre a mídia radiofônica e os processos políticos e eleitorais nas eleições municipais de 2000 em São Paulo. Foi estudado o tipo de cobertura dada às eleições pelas emissoras Jovem Pan AM e Eldorado AM com o intuito de analisar a ligação existente entre o rádio e o processo de campanha eleitoral. Ao final do projeto pudemos traçar um perfil das emissoras e suas preferências partidárias e ideológicas. O rádio, por ser um veículo de comunicação de fácil acesso popular em um país com baixa informação política do eleitorado, exerce influência sobre os ouvintes/eleitores. Portanto a análise desse meio, assim como da mídia em geral, se faz necessária para a compreensão da escolha dos eleitores, do processo eleitoral e do cenário político brasileiro.
8) Telejornalismo e Eleições na Rede Globo
Vera Chaia
Os telejornais locais estão assumindo uma posição de destaque na cobertura jornalística da televisão brasileira. Cada vez mais os cidadãos estão preocupados com questões locais, que interferem diretamente na sua vida cotidiana.
A Rede Globo, obedecendo a uma orientação do setor de Jornalismo, implementou o que se denomina de "jornalismo comunitário", criado em 1998 e que teve como objetivo aproximar o telejornal com as comunidades e/ou cidades da região metropolitana de São Paulo, área coberta pelo SP-TV 1ª e 2ª edição. A 1ª edição do SP-TV se transformou num canal possível de relacionamento entre os 'consumidores' insatisfeitos com a gestão da cidade e seus administradores, sejam diretores de empresas municipais e/ou estatais, seja prefeitos eleitos pelo povo. A tribuna é montada e as reclamações e/ou reivindicações são feitas. A equipe do SP-TV acompanha se tais reclamos foram atendidos.
A Rede Globo programou para todas suas afiliadas uma série especial sobre Eleições 2000´, que tinha como objetivo discutir questões gerais como a importância do voto, problemas das cidades, corrupção, papel dos vereadores e do prefeito a ser retransmitida no horário dos telejornais locais (SP-TV 12:00 e 19:00 horas).
O objetivo do presente trabalho será o de analisar esta série especial veiculada durante o período eleitoral.
2ª sessão - "A Dimensão Política na Arte"
1) Arte e Política: aproximações e distanciamentos
Miguel Chaia
A literatura brasileira e internacional é portadora de uma visão política que explicita as relações de força na sociedade. A partir de William Shakespeare pode-se delimitar uma tendência composta por escritores que reinterpretam concepções políticas institucionais ou de curto alcance, formulando a crítica da política e também expressando o caos e a tragédia que se abatem sobre os indivíduos subjugados pelo poder.
2) "O poder em Shakespeare"
Syntia Pereira Alves
"O poder em Shakespeare" consiste numa análise política da obra "Rei Lear" de Willian Shakespeare, tendo como assunto central as relações de poder, tanto no âmbito público quanto no privado, dos personagens da peça. Para o trabalho foram usados textos de autores da época, como Maquiavel, e alguns autores que escreveram sobre o tema, como Foucault. O trabalho mostrou que Shakespeare além de um importante dramaturgo também foi um grande autor político.
3) A tragédia da política: um estudo de Shakespeare
José Renato Ferraz Da Silveira
A política tem na sua face, um caráter trágico por excelência. A dimensão trágica da/na política está presente nas peças de William Shakespeare, um autor que percebe como as ações humanas sofrem influência do Acaso. O modo pelo qual a Tragédia como um acontecimento que causa piedade e terror nos espectadores é uma preocupação fundamental nesse estudo teórico-político. Já que a Política se opera como uma ciência do poder dotada de uma dialética de certezas e incertezas, determinações e indeterminações.
4) Folhetins e Máscaras- a obra de França Junior
Eduardo Viveiros
A pesquisa contempla as áreas do teatro e da política, propondo como objeto a obra literária (folhetins) e dramatúrgica (comédias de costumes) de França Júnior (José Joaquim da França Júnior, 1838-1890), nas quais se expressam várias dimensões da sociedade brasileira, mais especificamente da sociedade carioca ou da Corte Imperial, da segunda metade do século XIX.
5) Este milhão é meu: Cinema e Estado no Brasil
Telmo Estevinho
Durante a década de setenta, o cinema brasileiro conheceu o seu maior êxito: os filmes atingiram grandes bilheterias e despertavam polêmicas. Como componentes deste sucesso, uma estranha associação entre cineastas pertencentes à esquerda política e militares de tradição nacionalista. Em 1975, o regime militar incentivou o desenvolvimento da Embrafilme e Concine, órgãos governamentais que iriam transformar o mercado de cinema no Brasil. Dez anos depois, durante a redemocratização do país, os mecanismos de produção de cinema construídos pelo Estado militar são encarados como ilegítimos. Entre 1975 a 1986, dois momentos distintos nas relações entre Estado e cinema no Brasil.
6) Luiz Gonzaga: a música como expressão do nordeste
José Farias dos Santos
O presente trabalho tem como tema central a relação existente entre as áreas da cultura e das Ciências Sociais e a música do cantor e compositor Luiz Gonzaga.
Nesse sentido, procurará apontar a importância da Música Popular Brasileira - de inclinação crítica à realidade - como possibilitadora de compreensão das etapas históricas e das situações sócio-regionais do país.
Foram utilizados como referencial para elaboração deste trabalho, os conceitos relacionados à arte, à sociedade, e à cultura, desenvolvidos por Herbert Head, Renato Ortiz, Edgar Morin e José de Souza Martins, entre outros autores. Paralelamente à análise da relação entre a carreira de Luiz Gonzaga e os contextos cultural e sócio-político, este trabalho pretende apontar o processo de divulgação da vasta cultura nordestina e dos problemas decorrentes da seca naquela região. Para efetivação dessa proposta, foi realizada uma pesquisa tendo por base a análise da situação histórica na qual o artista produziu suas músicas e uma análise interna das letras, buscando nelas temas que sintetizaram uma série de categorias analíticas elaboradas.
3ª sessão - "A Mídia na Política Espetáculo"
1) A grande imprensa e a divulgação e vulgarização da agenda ultraliberal
Francisco Fonseca
A comunicação objetiva examinar o papel da grande imprensa nacional na formação da hegemonia das idéias ultraliberais no Brasil, personificadas numa Agenda que enfatiza a precedência da esfera privada (notadamente o mercado) sobre a esfera pública, entre 1985 e 1992 (governos Sarney e Collor). Em termos concretos, esta Agenda é marcada pela abertura da economia, pela privatização, pela flexibilização das relações de trabalho, pela desproteção ao Capital nacional e pela desregulamentação econômico, entre inúmeros outros pontos.
Através da análise da opinião (sobretudo os editoriais, embora não apenas) dos quatro principais periódicos diários da grande imprensa brasileira, isto é, o Jornal do Brasil (JB), O Globo (OG), a Folha de S. Paulo (FSP) e O Estado de S. Paulo (OESP), procura-se desvendar os posicionamentos adotados perante a referida Agenda, além das estratégias utilizadas para sua consecução.
A grande imprensa é observada a partir de um triplo papel: como aparelho privado de hegemonia - isto é, seus órgãos são entidades autônomas perante o Estado, porém volta-se à obtenção de um certo consenso - , como empresa capitalista e como partido do Capital Global (pois defensor da prevalência do capital, independentemente de sua procedência, perante o trabalho).
Observou-se, em praticamente todo o período analisado, como os periódicos simplificam problemas extremamente complexos, vulgarizando-os ao público leitor de forma dicotômica e destituída de vozes alternativas. Com isso, intentaram a divulgação - no sentido de se conquistar adeptos - da crise brasileira como provinda exclusivamente do Estado, em detrimento do aprofundamento do debate e da discussão que, a rigor, inexistem. Afinal, não apenas os grupos considerados adversários são desqualificados como as idéias que professam - em razão de estarem em campos ideológicos opostos ao da grande imprensa - são igualmente desconsideradas e estigmatizadas, o que implica dar-lhes um tratamento hostil. Tal procedimento implica um espetáculo de autoritarismo. O medo de associar-se às teses à esquerda/nacionalistas/populares fez com que a grande imprensa procurasse se dissociar completamente das bandeiras por estes grupos defendidas, que, desta forma, são tratados como inimigos internos, o que implica semelhanças com a Doutrina de Segurança Nacional. Além disso, as imagens e representações que elaboraram (os jornais) acerca do "primeiro-mundo" (o qual aparentemente tinham ilusão de que o país pudesse adentrar), contribuíram para que aceitassem os termos da agenda ultraliberal.
Os periódicos requereram, contudo, a legitimação da chamada opinião pública - conceito fugidio e utilizado fundamentalmente para referendar as suas próprias opiniões. Daí a sempre suposta concordância entre a opinião de ambos (jornais e público) como forma de justificar a postura antipluralista e antidemocrática que adotam (os periódicos).
Conclui-se que, por mecanismos diversos, a grande imprensa contribuiu decisivamente para a introdução da Agenda (ideológica) ultraliberal no país, pois atuou de forma a "divulgar e vulgarizar" as idéias pertinentes a este ideário. Assim o fez através da simplificação deliberada de processos extremamente complexos, casos, entre outros, da avaliação acerca da crise do modelo de desenvolvimento brasileiro assim como das razões que levaram à hegemonia das idéias ultraliberais em perspectiva internacional.
2) Marketing político x políticas públicas: um estudo de caso do Plano de Atendimento à Saúde (PAS). Cláudio Luis de Camargo Penteado O trabalho realizou uma análise da utilização do PAS como uma peça de campanha eleitoral para a eleição de Celso Pitta, candidato de Maluf para a sua sucessão, seguindo uma orientação da estratégia do marketing político do candidato. A dissertação buscou estudar como o marketing político interfere na gestão política dos governos, que através da implantação de uma política pública social na área de saúde, o PAS, serviu como peça publicitária de campanha, desvirtuando a finalidade das políticas sociais de promover a cidadania social, causando enorme transtornos para a sociedade.
3) Projeto Genoma Humano: articulação entre Ciência, Mídia e Poder. Rosemary Segurado O presente trabalho tem como objetivo analisar as transformações ocorridas na configuração do poder na sociedade contemporânea, partindo da observação de alguns aspectos que constituem a passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle. Considerando a multiplicidade de fatores que caracterizam essa passagem, selecionamos as reportagens difundidas pela mídia televisiva sobre o Projeto Genoma Humano enfocando a discursividade dos sujeitos envolvidos no desenvolvimento dessa pesquisa. Para abordar essa problemática foram analisados os programas veiculados durante o ano 2000 nas emissoras brasileiras, período que apresenta o anúncio do seqüenciamento parcial do genoma humano. O acompanhamento dessas transmissões proporcionou a elaboração de uma cartografia dos discursos sobre uma das investigações científicas mais valorizadas da atualidade. A partir dessa análise, desenvolvemos a noção do biopoder midiático, para compreender as transformações na produção da biopolítica na sociedade de controle. Esta nova concepção tem por objetivo explicitar a intersecção entre ciência, mídia e as relações de poder, observados a partir dos discursos científicos articulados e difundidos pelos meios de comunicação.
4) A Imprensa em Campanha - O jornalismo político na imprensa escrita paulista na eleição presidencial de 1950 Paula Papis Trata-se de uma análise do jornalismo político na imprensa escrita paulista nos anos 50, em especial, a cobertura, feita por jornais da cidade de São Paulo, das campanhas dos candidatos para a Presidência da República em 1950. O resgate das notícias (reportagens e editoriais), publicadas pela imprensa escrita, permitiu a recuperação do debate político da época, atribuindo-se a imprensa escrita, o importante papel de formação e discussão de idéias. Esta pesquisa contribuiu, fundamentalmente, para a análise da cobertura da mídia de um dos eventos mais importantes da vida política de um país - as eleições presidenciais -, além do maior esclarecimento sobre a atuação e influência dos meios de comunicação (no caso, os jornais) neste período eleitoral tão diferente do que conhecemos hoje, onde o comício sai de cena e entra a televisão. A partir disto, identificamos as questões políticas e/ou pessoais que pautaram os jornais O Estado de S. Paulo, Folha da Manhã e Correio Paulistano durante as campanhas políticas e o tratamento dispensado aos candidatos e suas propostas de governo na década de 50 - período de grandes transformações técnicas e de "estilo" nos jornais brasileiros.
5) Caros Amigos: esfera pública, política e jornalismo independente. Marcelo Barbosa Câmara O conceito de esfera pública em Habermas é o ponto de partida para este estudo que compara os sentidos da produção da noticia nas grandes empresas de jornalismo e o da revista Caros Amigos. A pesquisa busca também o entendimento e a caracterização do que compreende ser um modo de fazer jornalismo, o jornalismo independente de Caros Amigos e o significado da revista para seus leitores.
PUC/SP DEBATE A RELAÇÃO ENTRE MÍDIA E POLÍTICA
Vera Chaia
As mesas redondas realizadas pelo Neamp (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política), da PUC/SP, tiveram como objetivo de discutir o atual processo eleitoral brasileiro para presidente, governadores, senadores e deputados, procurando destacar e avaliar o papel que a Mídia (imprensa escrita e televisão) exerce nesta atual conjuntura política. A 1ª mesa tratou de "Campanha Eleitoral: entre a Mídia e a Política", e dela participaram os jornalistas Mauro Malin, do Observatório da Imprensa, Fernando de Barros e Silva, da Folha de S. Paulo e Gabriel Priolli, da PUC/SP, coordenada por Vera Chaia, do Departamento de Política da PUC/SP.
Mauro Malin, além de analisar o sentido político dos noticiários da televisão, deteve-se na análise das primeiras páginas dos principais jornais brasileiros, abordando a construção feita por esta mídia da crise econômica e das eleições no país. Apontou as dificuldades teóricas para a análise da mídia - trabalhando simultaneamente com as idéias de 'lógica da máquina comunicativa' e 'lentidão do olhar'. Elaborou e apresentou para o público uma surpreendente curva horária dos nossos telejornais, cruzando tipos de jornais e qualidade da informação. Tratou também da cobertura diferenciada entre o telejornalismo da TV aberta e da TV a cabo, mostrando as especificidades destes meios. Para exemplificar analisou o Jornal Nacional do dia 14/9/98, chamando a atenção a insuficiência da cobertura do processo eleitoral.
Fernando de Barros e Silva, iniciou sua exposição chamando a atenção para a cobertura diferenciada dos telejornais da Globo na TV aberta e na TV a cabo. Para este jornalista existe um 'apartheid' interno à Rede Globo, ao se considerar que os respectivos telejornais produzem matérias jornalísticas com conteúdos e cuidados formais díspares: na TV aberta estes são superficiais, enquanto na TV a cabo a cobertura tende a ser aprofundada, problematizando-se o noticiário. Como um entrave na relação entre mídia e política, facilitando um consenso jornalístico, destacou que parte dos jornalistas estariam despreparados para acompanhar as mudanças ocorridas no Brasil nestes 4 anos de governo do FHC.
Fazendo referência à atual campanha eleitoral, afirmou que a crise econômica adquiriu tal significado que ela é que pressionou e entrou na campanha. Lembrou, ainda, que se verifica uma tendência de privatização do noticiário, devido principalmente ao esfriamento da política, fenômeno de âmbito mundial. Gabriel Priolli, presente virtualmente, através de um depoimento gravado em video, afirmou a existência da parcialidade dos meios de comunicação, denunciando a cobertura tendenciosa destes meios. A vida política e os políticos são representados negativamente e devido a esta abordagem indiferenciada, transmite-se a idéia de que todos os políticos são corruptos, incapazes, etc.
A generalização desqualifica os políticos e a vida democrática brasileira. Também discorreu sobre o uso político das pesquisas eleitorais e a desqualificação que a mídia faz do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral. Os pesquisadores do Neamp - Judi Cavalcante, Paula Papis e Carlos Alberto Furtado de Melo - apresentaram um cliping eletrônico dos principais telejornais nacionais e locais (24 a 30/8), e discutiram as implicações políticas através de uma análise minuciosa do tratamento dado aos candidatos e ao processo eleitoral. A 2ª mesa redonda intitulada "O Sistema Político e as Eleições 98: Conjuntura e Perspectivas" contou com a participação dos professores Maria D'Alva Gil Kinzo do Departamento de Ciência Política da USP, Brasílio Sallum Junior do Departamento de Sociologia da USP e Cláudio Gonçalves Couto do Departamento de Política da PUC/SP, coordenada por Francisco Fonseca do Departamento de Política da PUC/SP. Brasílio Sallum Júnior estruturou a sua exposição em torno da proposta da existência de dois macro processos que vem caracterizando a política e a economia do Brasil: a transnacionalização da economia e a democratização da sociedade.
Estes dois processos definiram a abertura política brasileira e, com pesos diferenciados conforme a conjuntura política, estão presentes no atual debate político. Nas eleições de 1989, quando os candidatos eram Fernando Collor de Mello e Lula, esta dicotomia transnacionalização (Collor) e democratização (Lula) foram corporificadas por estas candidaturas. Esta polarização foi desaparecendo e hoje pode-se afirmar que FHC é democrático e atende as políticas liberais, mas existe em seu governo, esporadicamente, uma postura desenvolvimentista. Um outro aspecto analisado, foi a presença de uma equipe heterogênea no governo de FHC. Para Maria D'Alva Gil Kinzo, duas questões são importantes para analisar o atual processo eleitoral: o significado e a especificidade destas eleições e a consolidação ou não do sistema partidário brasileiro. Com relação à primeira questão, a expositora afirma que estas eleições não despertaram tanto interesse em comparação com as anteriores, e isso deve-se a dois fatores: quanto maior a certeza dos resultados eleitorais, menor a participação; a existência de uma rotinização das eleições, provocando um desinteresse por parte do eleitorado.
No que diz respeito ao sistema partidário brasileiro, estas eleições não auxiliam na consolidação dos partidos, por uma série de fatores, entre os quais se destacam a questão das coligações partidárias, a ausência de envolvimento dos partidos em outras esferas do próprio sistema político e o histórico de nosso sistema partidário. Cláudio Couto analisou a atual conjuntura política, tomando por base os mecanismos institucionais de governo e referenciando-se pela política econômica atualmente adotada. O indicador fundamental da sua exposição girou em torno da agenda governamental. O expositor analisou do Plano Real e do atual governo ressaltando a existência de duas agendas: emergencial - uso de medidas provisórias, adoção de uma política monetária sem envolver outros setores, senão o Executivo -; a estrutural - abertura econômica, reforma tributária, dentre outras. A opção do governo FHC foi a de realizar certas reformas constitucionais, por serem mais fáceis de negociação.
Além do mais, destacou o fato do Brasil ser o único país latino-americano cuja Constituição releva temas econômicos, enquanto que as demais priorizam temas políticos. Os pesquisadores do Neamp - Marco Antonio Carvalho Teixeira, Maria Salete Amorim e José Angel Teran - prepararam também para esta mesa um cliping eletrônico sobre as campanhas eleitorais, à partir do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (24 a 30/8). As observações feitas pelos pesquisadores destacaram o pouco significado dos partidos políticos nas propagandas eleitorais e a personalização das candidaturas. Os pesquisadores destacaram ainda a interferência do marketing político no processo democrático brasileiro. (*) - Pesquisadora do Neamp e professora do Departamento de Política da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC/SP.

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