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História

Em 1959, impulsionado pelo chamado "movimento reformador escolanovista" * , o Ministério da Educação publicou a Portaria no. 35.069, que autorizou o funcionamento de Classes Experimentais, flexibilizando a rigidez e centralização da legislação educacional do período. A medida impulsionou mudanças curriculares em algumas escolas públicas e particulares de todo o país. Em 1961, derivada de uma dessas Classes Experimentais e com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, nasceram os Ginásios Vocacionais, projeto experimental que chegou a contar com seis unidades escolares, situadas nas cidades de São Paulo, Americana, Barretos, Batatais, Rio Claro e São Caetano do Sul.

Principalmente devido ao Estado autoritário que se instala no País em 1964, essa e outras experiências inovadoras de ensino foram sendo paulatinamente eliminadas, pois passaram a ser consideradas "caras", "mal sucedidas" ou "subversivas". Foi o caso dos Ginásios Vocacionais, acusados em 1969 de "preparar mentes para o comunismo".

É interessante constatar que, no entanto, em seus quase oito anos de existência, os Ginásios Vocacionais se aproximaram de vários conceitos e métodos que ainda hoje são muito discutidos quando se procuram alternativas para o planejamento escolar. Temas como interdisciplinaridade, estudo do meio, processo de avaliação ao longo dos anos letivos, formação contínua do professor, trabalho em equipe, vínculo entre escola e comunidade, entre outros, eram proposições que efetivamente norteavam o trabalho desenvolvido nas unidades. Havia também uma maneira muito particular de ensinar História e Geografia. Ambas as disciplinas eram integradas na área de Estudos Sociais, mantendo-se a especificidade de cada uma, com um professor para de cada disciplina trabalhando juntos. Essa área tinha um papel chave no currículo das escolas, uma vez que os "Estudos Sociais" se iniciavam com a equipe de planejamento realizando um estudo da comunidade onde a escola estava situada, visando selecionar temas/questões a serem abordados por todas as disciplinas de maneira integrada.

Outra característica importante foi a autonomia administrativa dos Ginásios, que possibilitou a concretização de uma proposta pedagógica que foi sendo aperfeiçoada e, em certo sentido, radicalizada ao longo de sua existência, levando as escolas a se engajarem em um projeto de transformação social. Todas as unidades desenvolviam seu planejamento curricular específico e estavam subordinadas apenas ao Serviço de Ensino Vocacional (SEV), órgão que respondia diretamente ao gabinete do Secretário da Educação e era paralelo a toda estrutura burocrática da Secretaria. O SEV era composto pelos supervisores de cada uma das áreas e uma equipe pedagógica, além da coordenadora geral, a educadora Maria Nilde Mascellani.

Daniel Ferraz Chiozzini
Professor Pós-Doutorando do Programa da Pós-Graduação em Educação: História, Política e Sociedade da PUC-SP

Autor das obras "Os ginásios vocacionais: a (des) construção da história de uma experiência educacional transformadora (1961-1969)",
e "História e memória da inovação educacional no Brasil: o caso dos ginásios vocacionais (1961-1969)"

* O movimento rseformador escolanovista ganhou força, no Brasil, na década de 1920 e caracterizou-se por ser um movimento liberal que destacava a educação como instrumento de modernização do país. Defendia, em linhas gerais, uma superação da chamada "escola tradicional" por meio do desenvolvimento integral dos alunos e suas aspirações e do processo educativo centrado na observação e experiência.

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