ELEIÇÕES NA CIDADE DE SÃO PAULO: REFERÊNCIA NACIONAL
Vera Chaia*A eleição municipal realizada no ano de 2004 na cidade de São Paulo poderá trazer algumas novidades no cenário político paulistano, pois se até 2000 havia um determinado padrão de comportamento político por parte do nosso eleitorado, quando duas forças políticas se confrontavam em São Paulo - malufismo e anti-malufismo -, agora observamos uma situação um pouco diferente.
Nestas eleições o PT é o partido do governo com a prefeita Marta Suplicy. Paulo Maluf do PP, o eterno candidato para qualquer cargo político, está perdendo seu espaço, encontra-se desgastado em sua imagem, com acusações feitas pelo Ministério Público Estadual, de possuir contas irregulares em paraísos fiscais. Após a vitória do governador Geraldo Alckmin nas eleições de 2002, o PSDB saiu fortalecido. Alckmin, enquanto liderança política em ascensão, jogou todo o seu empenho pessoal na candidatura de José Serra, político com reais chances de disputar a preferência do eleitorado paulistano.
Correndo por fora, e sem chances de disputar o segundo turno, aparece Luiza Erundina do PSB, com Michel Temer do PMDB como seu vice. O acordo político entre o PSB e o PMDB possibilitou uma ampliação no tempo de propaganda eleitoral, injetou mais dinheiro na campanha da candidata, mas não trouxe um aumento dos eleitores, pelo menos é isto o que as pesquisas de opinião pública estão apontando. Os outros concorrentes - Paulinho do PDT, Francisco Rossi do PHS, Ciro Moura do PTC, Dra. Havanir do Prona e Penna do PV - são candidatos sem chances eleitorais. Os partidos nanicos fazem uso da propaganda eleitoral para detonar candidaturas viáveis, como a Marta Suplicy e José Serra.
Está se repetindo o mesmo confronto ocorrido nas eleições de 2002, quando Lula (PT), concorreu com Serra (PSDB), então candidato da situação, para a presidência do país. Agora o confronto está sendo travado entre Marta Suplicy (PT), candidata à reeleição e José Serra, candidato do PSDB, e que está tendo a vantagem de ter como principal cabo eleitoral o governador Alckmin, que possui uma aprovação expressiva de seu governo por parte do eleitorado paulista. Já Marta Suplicy, além de estar no governo, e ser julgada diariamente por seus atos governamentais, seja através da mídia - que não dá trégua nenhuma -, seja através de seus adversários no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, possui ainda índices baixos de aprovação de seu governo e também índices de rejeição maiores do seu que principal adversário José Serra.
Os problemas locais estão sendo importantes para direcionar a preferência do eleitorado para a escolha de seu candidato preferido, mas também devemos considerar que essa eleição está recebendo um tratamento diferenciado por parte dos principais jornais de São Paulo pelo significado político que o resultado final provocará na correlação de forças do governo federal, e na futura eleição para presidência da República. Neste sentido podemos afirmar que esta eleição é uma disputa 'federalizada' e 'estadualizada', entre o PT e o PSDB, envolvendo diretamente Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin.
Um outro aspecto que deve ser ressaltado é a característica desta campanha eleitoral: a estruturação e a montagem da campanha publicitária é feita por equipes de estrategistas políticos, publicitários, marqueteiros, técnicos e especialistas em diferentes áreas. Em alguns casos presenciamos a substituição de programas partidários elaborados originariamente pelos partidos políticos, por programas e políticas públicas pensados e produzidos por marqueteiros visando atender a objetivos "eleitoreiros" e criados a partir de necessidades e desejos apresentados pelos eleitores em sondagens e pesquisas de opinião.
Nunca se presenciou tanto a presença de propaganda do governo estadual e do governo federal como agora. Não basta veicular propostas dos candidatos à administração política da cidade de São Paulo, ainda estamos assistindo realizações do governador Alckmin e do presidente Lula. Portanto a disputa atual é ampliada para as esferas estadual e federal.
Nesta campanha também estamos assistindo a exaltação das características pessoais dos candidatos, prevalecendo uma personalização da política. A imagem pessoal construída para os candidatos exalta certos traços individuais, em detrimento dos partidos políticos. Marta Suplicy, por exemplo, aparece nos outdoors da cidade como "Uma Mulher de Coragem", "Uma Mulher de Palavra"; José Serra é lembrado como o melhor Ministro da Saúde que o Brasil já teve e a mensagem reforça este traço pessoal: "Bom para a Saúde, Bom para São Paulo"; Paulo Maluf é exaltado como o político com "Competência, Caráter e Coragem".
Assim, o marketing político, enquanto uma técnica utilizada para apresentar o candidato e conquistar o eleitorado é indispensável na nossa democracia representativa. Candidatos desconhecidos e até lideranças estabelecidas submeteram-se a uma série de transformações, visando criar ou manter uma "imagem" concebida pelo marketing, para se adequar às exigências do mercado.
Com enfrentar este mercado? É neste sentido que os políticos passam a depender dos "consultores" ou dos profissionais do marketing político para serem conhecidos pelo eleitorado, afinal estamos vivendo uma época em que a imagem é fundamental para conquistar "corações e mentes". A oferta do mercado eleitoral é enorme, com candidatos de diferentes matizes e propostas políticas, portanto a propaganda é essencial. A centralidade da televisão nas campanhas políticas modernas significa que o pleito eleitoral não é restrito aos espaços públicos, como as ruas e praças públicas, mas se deslocou para o espaço privado, para a casa dos eleitores.
Quanto às eleições proporcionais, acompanhamos uma falta de interesse por parte dos eleitores nesta representação. O cidadão não conhece as atribuições e funções dos vereadores e nem o que se faz na Câmara Municipal. O eleitor não é informado sobre o que acontece no Legislativo e quando a mídia divulga, o que prevalece são notícias que denunciam irregularidades e escândalos presentes nas atuações destes políticos. O eleitor deve ser convencido que vereadores são importantes e que o prefeito só consegue governar com a participação ativa do legislativo municipal, seja fiscalizando ou propondo leis que melhorem a vida dos cidadãos.
O voto não tem o poder de transformar a realidade social e política. O voto é um instrumento para encaminhar políticos que nos representarão no poder. Neste sentido, considero que o voto por si só não faz milagre. É necessário que ocorram mudanças políticas, econômicas, sociais e, principalmente culturais para que o país mude. Devem prevalecer os interesses coletivos sobre os interesses individuais e pessoais.
* Vera Chaia - Professora do Departamento de Política e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais e pesquisadora do NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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