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Eleição continua sendo uma caixa de surpresa

Ari Macedo

 

Antecipar as projeções da disputa eleitoral de 2006, na minha concepção é cedo demais. As eleições municipais realizadas este ano de fato comprovaram a polarização entre os dois maiores partidos brasileiros: o PT e o PSDB; certamente serão as duas legendas com maior probabilidade de enfrentamento, nas eleições estaduais e federal. Mas, aproveitar este momento para fazer um diagnóstico conjuntural e apontar já os potenciais nomes é - utilizando um ditado popular - colocar o carro na frente dos bois.

A votação do primeiro turno evidencia a nova divisão geopolítica nas cidades brasileiras. Segundo o mapeamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo houve um avanço claro do PT. Em 2000 o partido só tinha mais votos para prefeito do que os tucanos em seis Estados - Acre, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Em 3 de outubro, com as eleições municipais, saiu da quarta posição para a liderança, com 16,3 milhões de votos. Em 13 Estados os petistas estão à frente do PSDB e vice-versa. Os tucanos possuem 15,8 milhões de votos.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, os peessedebistas dominaram a grande maioria das cidades e elegeram seus prefeitos. Em compensação, em Minas Gerais, Estado governado pelo tucano Aécio Neves, o PT obteve maioria dos votos. Isso aponta para um cenário definitivo em 2006, com a disputa certa entre um tucano e um petista (provavelmente o presidente Lula pleiteará a reeleição) no segundo turno das eleições? Diria que ainda é cedo para responder a esta pergunta.

Não podemos relegar a um segundo plano os pequenos partidos. O PV cresceu 111,83% de 2000 para 2004, obtendo mais de 1,3 milhão de votos para prefeito. O PCdoB também conseguiu ampliar sua base de eleitores em 132,24%. Apesar do PFL, PP, PDT e PTB figurarem entre os derrotados, são partidos que pressionam o governo federal nas bancadas do Congresso Nacional. Não podemos esquecer que o PL e o PTB são os dois partidos que mais crescem, em número de deputados, na Câmara Federal. Recordemos que na última eleição para presidente da República o PTB, considerado fisiológico, continuou apoiando o governo FHC, mas preferiu seguir no primeiro turno com a candidatura de Ciro Gomes e no segundo com Lula. Apesar de fazer parte da base do governo não é totalmente confiável, assim como o próprio PL.

Tudo vai depender da eficiência do governo do presidente Lula. Os índices são positivos e se continuar na onda de crescimento com as projeções sempre superiores - PIB no segundo trimestre de 2004 de + 5,7%; Balança comercial até agosto com saldo de US$ 21,9 bi, crescimento de 34%; e consumo com crescimento de 5% no segundo trimestre de 2004 -, o candidato Lula a reeleição torna-se praticamente imbatível.

Afirmar que o governador Geraldo Alckmin é o maior concorrente dos petistas é uma falácia. Alckmin obteve uma vitória brilhante no Estado, elegendo a maioria dos prefeitos que apoiou. Mais ainda é um político muito morno, sem expressividade nacional e pouco identificado com os tucanos tradicionais - Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Dentro do PSDB ainda é pouco provável que o governador de Minas, Aécio Neves, ganhe projeção nacional a ponto de abalar a candidatura Lula. Aécio é um político pouco consistente e, apesar de ter ocupado cargos importante e vir de uma família de tradicionais políticos, não tem carisma eleitoral o bastante para encarar um pleito nacional.

Mas um político que muitos estão descartando e que pode ser a surpresa eleitoral na oposição é o prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Cesar Maia. Dentro do PFL não tem outro nome a não ser o seu para enfrentar o governo federal. Maia tem um poder muito grande de criar "factóides" e sabe se beneficiar dos meios de comunicação.

Mas tudo dependerá dos percalços do governo Lula. Se continuar na onda de crescimento o presidente garante sua vitória. Se titubear, pode comprometer sua reeleição.


Ari Macedo é doutorando em Ciências Sociais pela PUC-SP, sob orientação da Profª Drª Vera Chaia.

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