Chovendo no Molhado

Marcelo Barbosa Câmara

Já chovendo no molhado, é fato que o loteamento de cargos públicos e a distribuição de recursos para estados e municípios foi e é a maneira do executivo federal conseguir apoio para suas políticas. FHC e agora Lula não fugiram a regra. A compra de votos para reeleição na época de FHC e atualmente o mensalão denunciado pelo Deputado Roberto Jefferson, a quem Lula assinaria um cheque em branco, pode ser apenas mais uma trágica faceta do jogo político brasileiro.

A defesa, até agora, empreendida pela cúpula do PT acerca da compra de apoio de parlamentares do PL e do PP, não convence. Que prova poderia haver de uma tramóia desta natureza ? Ninguém espera a emissão de recibo por parte dos supostos corrompidos, talvez o Arlindo Chinaglia espere. O que se pode ter, no caso são testemunhas. E é assim que, o nada probo, Roberto Jefferson se apresenta.

Mesmo se nomeando o guardião da moralidade e da lisura no trato da coisa pública, o Presidente Lula não foi capaz de fugir da tradicional forma de negociação política brasileira. Mesmo que, comprove-se que o caso mensalão não passou de uma bravata do ex-presidente do PTB; de maneira alguma, Lula e a cúpula no PT estarão livres do peso e das conseqüências de algumas de suas alianças.

O PT com suas alianças abandonou a perspectiva de construção de uma forma de se fazer política baseada na disputa de projetos para sociedade e embarcou no velho clientelismo.

Nenhuma novidade para o Brasil, talvez uma decepção para os que acreditavam em Lula, Zé Dirceu, Gushikem, Berzoini, José Genoino como esperança de um país que iniciaria, mesmo com dificuldades para lutar contra os velhos políticos e elites, uma nova era no trato da política e que empreenderia um governo preocupado com o bem estar social e com diretrizes diversas das de Collor e FHC.

Francisco de Oliveira na Folha de S. Paulo de 19/06/2005, comenta a dificuldade que há em se dirigir criticas mais duras a um presidente da república oriundo da classe operária. Entretanto, sem contar com uma improvável reviravolta à esquerda, o PT de Lula e o Presidente Lula só não mergulharam o país até agora em uma crise institucional, graças a inteira boa vontade do atual governo em não desagradar a ordem neoliberal e, também, pela sua sorte em se deparar com um ambiente econômico externo favorável.