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Gato escaldado e o ente mitológico

Marcelo Barbosa Câmara

 

O drama esta posto e a mídia toda, ou quase toda, coloca a saída do Ministro Palocci como se fosse a ante véspera do apocalipse. Afirmam que Palocci é figura chave na manutenção da atual política econômica, iniciada nos tempos de Itamar e seu ministro FHC.

 

Tido como figura que dá a credibilidade necessária ao governo Lula junto aos mercados, até mesmo a oposição fica triste e preocupada, quando Lula não o defende com a veemência, que os que crêem na figura mitológica de Palocci acham necessária.

 

A oposição, ao mesmo tempo que concorda com os pilares da política econômica do governo, tenta atingir Lula através de seu Ministro e vive a paranóia de que a política econômica do atual governo, que também no fundo é a sua, possa degringolar, com a saída daquele ente mitológico. Lula por sua vez, agora gato escaldado, já não quer repetir a mesma defesa que empreendeu quando do inicio dos escândalos que envolviam José Dirceu.

 

Com alguma habilidade, Lula agora defende sua política econômica, mas deixa claro que não esta disposto a uma queda de braço que possa chamuscar ainda mais ou mesmo queimar de vez seu governo. Se Palocci esta encalacrado com o que pode ter feito ou deixado fazer no seu tempo de prefeito de Ribeirão Preto, Lula sabe que uma defesa incondicional, neste momento, não vale a pena. E sabe que a política econômica não é coisa que dependa de um homem só, por isso não demonstrou, também, grande preocupação com a dita crise entre Dilma Russef e Palocci.

 

Enquanto a mídia e a oposição esperava uma defesa intransigente do atual chefe da política econômica frente as criticas da Ministra Chefe do Gabinete Civil, Lula foge do jogo óbvio e elogia a Ministra. Frustrados mídia e oposição ficam atordoados, porém o “gato escaldado” sabe que um novo Ministro, se bem afinado com os pilares da atual política econômica, dará conta do recado sem grandes esforços, posto que remar a favor da maré nunca foi tarefa muito complexa.

 

Claro, que a boa e velha queda da bolsa e a famosa subida do dólar acontecerão, afinal de contas, o mercado não perderá a oportunidade de colocar no bolso mais alguns cobres.

 

De resto, Mercadante, Guido Mantega ou qualquer outro que se disponha a rezar pela cartilha que Palocci tão bem soube respeitar até hoje, não terá grande tarefa pela frente.Terá, sendo 2006 ano eleitoral, que ser um pouco menos rígido em relação aos gastos do governo, mas nada que seja considerado “populismo”, ou que ponha no chão o que os economistas chamam de fundamentos da economia.

 

Uma guinada na atual política econômica de Lula, torna-se improvável. Primeiro porque não há dentro de seu partido nenhuma outra concepção de gestão para economia do país e nem mesmo quadros capazes de empreender algo neste sentido. Em segundo lugar, desgastado como se encontra, não seria hora de pirotecnias de qualquer espécie. E em último, para Lula é melhor tentar empurrar com a barriga, tentando se safar, das atuais e possíveis outras denunciais contra membros do PT, para manter viável sua candidatura em 2006.

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