Ainda vale a opinião pública
Ari Macedo
Um dia depois do PSDB anunciar a pré-candidatura de Geraldo Alckmin à presidência da República, parei o carro em um posto de gasolina, logo cedo, para abastecer. Sem a mínima intenção de comentar sobre política com o frentista - mesmo porque de manhã falar em política é um pouco sádico - fui surpreendido com a pergunta de como analisava o lançamento de Alckmin para presidente.
Fiquei surpreso, a ponto de quase nem lembrar a senha do cartão do banco. Primeiro porque de manhã os neurônios ainda estão em processamento, segundo porque não imaginava que a informação já estava na “boca do povo”. Passado o momento inesperado, resolvi devolver a pergunta. O que ele achava do candidato ser o governador de São Paulo. Nada mais justo que o rapaz me respondesse, já que foi o formulador da questão.
A indagação gerou uma resposta formulada e pensada - não de um dia para outro ou logo depois do lançamento da candidatura Alckmin, mas que já vinha sendo maturada -, com argumentos fortes e decisivos. O rapaz me respondeu que o presidente Lula é forte no Nordeste, que está batalhando pela população mais pobre e que só os “ricos” (sic) não gostam dele.
Apesar de ser uma opinião isolada, não pode ser descartada e ignorada. Talvez isso seja mesmo a análise de algumas pessoas que vêem na figura do presidente um homem empenhado em resolver os problemas da população mais pobre do Brasil. O pensamento do frentista do posto de gasolina indica ainda que o escândalo do mensalão pouco respingou na imagem pública da figura política de Lula.
Quem sabe os meandros dos acontecimentos em Brasília que geraram toda a série de denúncias são as pessoas mais esclarecidas que lêem um jornal diário, escutam uma rádio de notícias e acompanham os telejornais. Quantos são os que acompanham um jornal diário, por exemplo? Se pegarmos a média de Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo – para ficarmos nos dois maiores em circulação e que melhor apuram os fatos – verificaremos que são em média 400 mil exemplares por dia. Pouco ou muito? Diante de uma população de 180 milhões de habitantes, é nada.
Se frentista do posto lesse um jornal diariamente, talvez mudasse a opinião em relação aos mais “ricos” não gostarem do presidente. Vale lembrar que o sistema bancário foi o que melhor tirou proveitos do governo Lula.
O escândalo de corrupção não afetou a imagem do presidente, mas sem sombra de dúvida está enraizado no Congresso Nacional. As pessoas, principalmente as mais simples, não se esquecem jamais do episódio do dinheiro encontrado na cueca. Todos brincam com o mensalão. Sabem que alguns deputados estão metidos nas falcatruas, mas dificilmente incluem o presidente no escândalo.
É possível perceber isso ao analisarmos a pesquisa de opinião pública realizada em fevereiro deste ano pelo Instituto DataFolha, onde 55% dos brasileiros ainda consideram o presidente da República sincero e 58% honesto.
A maioria da população continua achando Lula simpático (78%), humilde (75%), moderno (62%) e democrático (61%). O índice mais interessante – e que vai de encontro ao meu papo com o frentista – é que para 48% dos brasileiros o presidente respeita mais os pobres. Vale ressaltar que a taxa era de 70% após três meses de mandato.
Agora a situação é outra em relação ao Congresso Nacional. Pesquisa realizada pelo mesmo DataFolha em fevereiro revela que os brasileiros reprovam a atuação de senadores e deputados federais. A taxa dos que consideram o desempenho dos congressistas ruim ou péssimo caiu de 46% para 33%. Houve aumento de oito pontos percentuais na taxa dos que consideram o desempenho do Congresso Nacional regular (de 35% para 43%) e por um crescimento de quatro pontos na dos que o classificam como ótimo ou bom (de 12% para 16%).
Os dados indicam que novos rumos devem ser tomados e que de fato o Brasil precisa ser passado a limpo. O próximo presidente, senadores e deputados federais – reeleitos ou em início de mandato – precisarão repensar o modelo político que vivemos. Certamente, partidos fortes são imprescindíveis para o fortalecimento da democracia e para evitar que casos de corrupção continuem marcando a República. São necessárias mudanças. Para isso, o papel da população ainda é fundamental.

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