PROJETOS

EM ANDAMENTO



Afetos e pulsões na cultura do consumo do capitalismo comunicacional: Aproximações da teoria da comunicação com a semiótica tensiva e com a psicanálise (2018-2021)

Resumo: Esta pesquisa examina a cultura do consumo do capitalismo comunicacional, indagando como se entrelaçam comunicação, consumo e política (em particular as polarizações da guerra cultural que vem se instaurando no país e no mundo). Tendo havido nas últimas décadas uma tendência de apelo ao sensível dos corpos, é preciso, para fazer tais análises, examinar o circuito dos afetos e certos discursos ligados à lógica cultural do neoliberalismo. Como o acontecimento (no sentido de Badiou) de 2013 cedeu passo à polarização subsequente, principalmente tendo levado ao impeachment de 2016, com vozes carregadas de ódio? Como isso se liga à cultura do consumo? A pesquisa responde a tais questões a partir de uma metodologia que examina os modos de interlocução da teoria da comunicação com a psicanálise e com a semiótica tensiva para dar conta, nesses contextos, da convocação de pulsões/afetos na cultura do consumo e na política. O estudo concreto sobre a polarização direita-esquerda brasileira no pós-acontecimento de 2013 (as manifestações nas ruas) será efetuado investigando-se o papel dos afetos na configuração de uma guerra cultural, que aliás, se espalha por todo o mundo hoje, a partir dos posts de movimentos como o MBL, Vem pra rua e Frente Brasil Popular.

Comunicação e acontecimento: reconfigurações da teoria da comunicação (2015-2018)

Esta pesquisa realizou um recenseamento das teorias do acontecimento discutidas por pesquisadores brasileiros nos últimos anos, e propôs uma releitura do acontecimento (événement) e da comunicação a partir da teoria de Alain Badiou e da semiótica tensiva de Claude Zilberberg, considerando que o conceito de acontecimento encarna uma ruptura nos estados das coisas, a partir da qual constitui-se um sujeito e um processo de verdade que não podem ser compreendidos sob as categorias dos saberes que presidem à situação. O acontecimento é, portanto, ruptura, para emergência do novo. Isso nos conduz a pensar numa configuração do político em processos comunicacionais que faz romper o estado da situação e a propor uma teorização conceitual da relação entre discurso e acontecimento no campo da comunicação. Uma das tarefas da pesquisa foi investigar a relação entre discurso e acontecimento. Na sequência, buscamos tematizar o conceito de acontecimento através da semiótica tensiva, o que se materializou em vários artigos e numa pesquisa sobre os grupos sociais engajados nas redes sociais à direita e à esquerda do espectro político. Um dos textos será publicado no livro do Seminário realizado em 2016 na UFRJ e outro num livro organizado por Helder Prior, de Portugal. Ambos foram apresentados em congressos e seminários da área (o primeiro na UFRJ, o segundo num evento em Portugal, Covilhã, em outubro de 2017). Estes são os resultados mais práticos da pesquisa, fruto da abordagem teórica aqui descrita.



FINALIZADOS

Comunicação e Sintoma (2012 – 2015)

Resumo: Se por um lado o mundo está hoje, a partir das tecnologias eletrônicas de comunicação, repleto de dispositivos capturadores de atenção e convocadores para práticas de consumo-cultural, também, por outro lado, os enunciadores não hegemônicos têm, na internet, um lugar para as suas contra-convocações. A comunicação é o grande ponto nodal desse capitalismo cognitivo e precisa ser estudado como tal, não apenas como um paradigma crítico idealizado como na teoria comunicativa de Habermas. É o que se pretende fazer nessa pesquisa, a partir não somente das teorias da comunicação, mas também das teorias elaboradas no campo da filosofia política, como as de Alain Badiou, Jacques Rancière e Slavoj Žižek. Nessas teorias é possível encontrar um paradigma crítico sem a idealização das teorias racionalizadoras. Assim sendo, o papel da filosofia política (ou da metapolítica, como prefere Badiou) é primordial, na medida em que se trata de politizar a análise desse campo comunicativo do capitalismo globalizado, em que o multiculturalismo é sua lógica cultural. Para Žižek), o multiculturalismo é esse complemento da lógica capitalista em que a diferença é tornada motor do modo de produção cinemático, ou seja, tornada nicho.

Assim sendo, a passagem do capitalismo fordista produtivista para o capitalismo informacional multiculturalista, em que a diferença organiza os guetos segmentados de consumo (cada um na sua, cada tribo na sua, todos consumindo ou transformando seu inconformismo em cultura menos ou mais visível e vendável) e pode ser descrita por uma série de parâmetros: a) o mercado transformou-se em único universal (cf. Jameson); b) a instância de controle social não incide mais de modo centrado em proibições que exigem renúncia – em outras palavras, o supereu sofre um deslocamento no sentido de criar uma sociedade de consumo da busca de prazer desinibido (posso e devo gozar, viver plenamente minhas energias criativas, buscando qualidade de vida, aliviando o stress da vida veloz, liberando o gozo sexual e assumindo a pluralidade de minhas identidades conforme as contingências...); c) o inconsciente é parcialmente colonizado pela propaganda (ibid.), fazendo com que proliferem imagens atratoras de gozo, ligadas às figuras do corpo ou de suas partes imantadas com intensidade gozosa.

Desta forma, contra o espalhamento imaginário regido pelos simulacra da sociedade pós-moderna de consumo, Žižek postula o ato: “é necessária a asserção de um Real que, ao invés de ser apanhado no círculo vicioso com sua contraparte imaginária, (re)introduz a dimensão da impossibilidade que exaure (enxuga) o imaginário; em resumo, é necessário um ato como oposto à mera atividade – o autêntico ato que envolve atravessar a fantasia”. Por trás da atividade do sujeito há uma fantasia subjacente; o ato ocorre somente “quando o próprio background fantasmático é alterado”. O ato vai, portanto, no sentido do atravessamento da fantasia, como em uma psicanálise, provocando um giro no discurso: “podemos realizar atos de fala (speech acts) somente se aceitarmos a alienação fundamental na ordem simbólica e o suporte necessário para o funcionamento dessa ordem, enquanto o ato enquanto real é um evento que ocorre ex nihilo, sem qualquer suporte fantasmático” (idem). O ato rompe, portanto, com a comunicação-sintoma e se põe do lado do objeto e não do sujeito: “o ato designa, assim, o nível em que as divisões e os deslocamentos fundamentais usualmente associados ao ‘sujeito lacaniano’ estão momentaneamente suspensos”. Em outras palavras, o sujeito que pratica esse ato real não é o sujeito intencional, o sujeito sistêmico que planeja o ato visando fins segundo a razão estratégica, segundo a lógica do analista simbólico. O ato real ocorre de modo imprevisto, que sacode a vida dos que o praticam e é revolucionário, no sentido de que coloca em xeque a lógica sistêmica e sua comunicação-sintoma, a razão puramente instrumental, do extrato economicista – o ato altera as regras do jogo, inaugurando, por assim dizer, uma nova realidade: “um ato propriamente político libera uma força de negatividade que avassala as fundações de nosso ser”, colocando em xeque a fantasia ideológica. Sem tal relação com o impossível do Real, sem essa erupção do Ato-evento, ficará o agente devorado pela lógica sistêmica. O ato crítico é político enquanto criador de espaço político em um lugar onde antes só havia pseudo-política (parapolítica, metapolítica etc) e comunicação-sintoma. A impossibilidade ligada ao Ato-evento exige engajamento em termos lógicos e práticos, assumindo risco de um espaço ainda por constituir, para além da hipercolonização do mundo da vida. O ato-evento rompe, portanto, a comunicação-sintoma. Uma teoria da comunicação na época do capitalismo globalizado, que se queira digna de seu nome, deve tematizar a crítica ao modo de produção cinemático convocador, guiado pela estética da mercadoria.

Regimes de visibilidade em revistas (2008-2011)

Resumo: Esse projeto, que gerou um DVD com bancos de dados em hipermídia, contend hipertextos, videos e verbetes, buscou explicitar os regimes de visibilidade construídos em revistas. Seguimos dois movimentos interligados: o primeiro, epistemológico, procurou repensar a teoria da comunicação na fase do capitalismo globalizado, que trate, do ponto de vista crítico, da construção de um saber sobre as figurativizações e tematizações midiáticas do Mesmo e do Outro em revistas. O segundo movimento construiu a hipermídia em que esses saberes se puseram como um projeto de educação para a mídia, por meio de uma análise dos textos midiáticos de revistas voltadas ao público feminino (Claudia, Nova, Marie Claire, Boa Forma, Bons fluidos, Boa Forma, Criativa, TPM, Corpo a Corpo, etc), masculino (Men´s Health, Playboy), à construção da saúde (VivaSaúde, Saúde, Vida Simples(, as dirigidas a executivos e empresários (Época Negócios, Exame e Você SA), adolescente (Capricho, ATREVIDA, TodaTeen, Loveteen), e negro (Raça Brasil).

Onde encontrar: O projeto completo foi publicado no DVD “Regimes de visibilidade em revistas”


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A invenção do Mesmo e do Outro na mídia semanal (2008)

Resumo: O Grupo de Pesquisas em Mídia Impressa, certificado pelo CNPq,  tem por finalidade realizar estudos de mídia impressa, com base nas teorias do discurso. O projeto de pesquisa “A invenção do Outro na mídia semanal” foi realizado no âmbito do grupo, entre 2005 e 2008, incidindo no estudo de revistas semanais de informação de grande tiragem. A revista Veja tem tiragem semanal de mais de um milhão de exemplares. Se somarmos Época, Istoé e CartaCapital, chegamos a mais de dois milhões semanais. Como essas revistas constroem temas ligados ao consumo e à alteridade para seus leitores? Como tais realidades são construídas discursivamente nas reportagens de capa? O resultado final foi um banco de dados multimidiático, com funcionamento em hipermídia, em que o usuário tem duas entradas possíveis: por palavras-chaves ou por módulos temáticos. De início há o módulo temático Introdução, depois dois módulos que abrigam outros módulos. O primeiro é Regimes de visibilidade do Mesmo. Do lado do Mesmo, o grupo investigou as construções temáticas e figurativas ligadas ao corpo saudável, riqueza e sucesso, educação e  mundo feminino ligado ao consumo. O outro conjunto temático de módulos é Regimes de visibilidade do Outro. Do lado do Outro, investigamos as representações de grupos fora da classe média, segundo os módulos: miséria, negros, homossexuais, violência, muçulmanos. Procuramos mostrar ao usuário, de modo multimídia-hipermídia como cada enunciador construiu a imagem de empresários de sucesso, o poder da mente, o aumento da criminalidade etc. Como se constroem as representações do próprio imaginário do leitor de classe média nessas revistas e como a alteridade do imaginário de outros grupos sociais, com respectivos valores, é colocada figurativa e tematicamente? Trata-se de perguntar pelos modos de construção do Outro (o pobre, o criminoso, o descamisado, o sem-terra, etc), em oposição aos modos de construção dos vencedores (os executivos, os empreendedores de sucesso no mundo dos negócios, os artistas milionários, os endinheirados etc).

Tais questões foram endereçadas a especialistas de diversas áreas e a pessoas da sociedade civil (de grupos da periferia), cujas falas foram filmadas  para a constituição de uma hipermídia. Envolveram-se nas atividades do projeto vários alunos de graduação com bolsa de iniciação científica  e de pós-graduação, além de outros pesquisadores, como aqueles da Universidade Federal do Espírito Santo. Em 2006 foi iniciada a fase atual de preparação da lógica do banco de dados da hipermídia, e de reunião e edição de textos e vídeos para a hipermídia. A programação e edição propriamente ditas foram elaboradas em 2007 e o projeto concluiu-se em fevereiro de 2008.  Estamos em fase de reprodução dos DVDs para distribuir a professores de graduação, ONGs e outras instituições interessadas, para que o DVD funcione como um paradidático de educação para a mídia.

Onde encontrar: Veja alguns módulos do projeto.

O projeto completo foi publicado no DVD “A invenção do Mesmo e do Outro na mídia semanal”


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