Sobre o Movimento da Educação de Base
“ Um pequeno grupo de minha geração viveu o fascínio histórico da elaboração de um projeto global alternativo de mudança social para o Brasil, dando os primeiros passos para tentar concretizá-lo. Trabalhando com paixão, doando-se integralmente, adiando gratificações próprias da juventude em função dos objetivos traçados, ousamos construir um mundo novo.
Sob o influxo das ideias debatidas na época pelos vários grupos sociais, sob a pressão das práticas da Ação Católica, assimilando as reflexões teológicas do exterior, internalizando e redefinindo temas do humanismo integral e do personalismo, respirando algumas proposições do socialismo, segmentos gradativos de leigos e representantes do clero e dos religiosos passaram a exigir mais do testemunho cristão, da atuação da Igreja, do compromisso com a mudança social. Estruturaram-se, então, diferentes visões de mundo e perspectivas de ação, divergentes concepções sobre a missão da Igreja no temporal, no seio das instituições, dos grupos e movimentso católicos (PDC – Partido Democrático Cristão, Ação Católica, sindicalismo rural e no próprio MEB), nas relações entre clero e laicato, entre clero e hierarquia. Toda esta constelação de elementos tendia para o nascimento da chamada “Igreja Popular”, na qual o povo irrompe com presença mais efetiva dentro da instituição (...) Iam germinando as primeiras elaborações da teologia da libertação. A voz e as ações de setores significativos da Igreja pendiam para o lado dos pobres, dos dominados, deslegitimando paulatinamente a influência da Igreja vis-à-vis ao Estado depois de 1964.
Nesta realidade originou-se o MEB. “
Luis Eduardo W. Wanderley, em Educar para Transformar: educação popular, igreja católcia e política no Movimento de Educação de Base. Rio de Janeiro: Ed. Petrópolis, 1984.
Professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP
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