Relembrando os
radinhos vestidos

 “Atenção, Fazenda Lajeado! Seu Nonô já recebeu alta no Hospital e aguarda alguém da família pra levá-lo pra casa.” “D. Alice avisa que o casamento do Tião e da Divina vai ser agora, no sábado, na Igreja de São Judas: a família toda e amigos aí de Inhumas são esperados”. “Tem que apresentar o documento no cartório”, “nasceu, é menina, a mãe passa bem”, “ a cobrança daquela promissória é mesmo dia 12”, “a cirurgia correu bem, mas ele continua em coma”, “os óculos já foram aviados”... É nessa riqueza de expressões sociais, em que a emoção da fala e da escuta se somam, que se insere o MEB-Goiás, em 1962, trazendo a escola como algo inédito nos programas radiofônicos.
Nas salas de aula (varanda, galpão, sala de alguma escola rural, sala da casa do monitor) há um lugar de destaque para o rádio. Com frequência, junto ao lampião, ao quadro do Sagrado Coração de Jesus ou de Nossa Senhora, ladeado por vasos de flores coloridas de papel crepom. Protegidos da poeira, umidade, mãos pouco confiáveis de crianças, o pequeno aparelho, em inúmeros lugares ganhava uma capa, geralmente de chita vistosa: flores úmidas, xadrez, ou tecido sem estampa e cor forte. Algumas capas eram de corte reto, costura sóbria. Outras, com babadinhos franzidos na barra. Assim vestidos, os radinhos cumpriam sua tarefa a cada dia, sintonizados em onda cativa na Rádio Difusora de Goiânia, pertencente à Arquidiocese.

(trechos do testemunho da Profa. Alda Maria Borges Cunha, In: Programa Saber, Viver e lutar: caderno de alfabetização, MEB Norte/ Nordeste - Ceará, Brasília, 2005. 44-7 pp.)

Programas Radiofônicos